segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
DESTAQUES NA BRIGANTIA
Como já dissemos aqui, e após uma rápida leitura deste volume, três artigos nos suscitam maior interesse. Os dois primeiros sobre a figura de José Francisco Trindade Coelho, a que já fizemos referência aqui, e o terceiro sobre uma polémica entre Guerra Junqueiro e o Padre Sena Freitas.
No artigo de José Maria Cruz Pontes, intitulado Trindade Coelho. Cartas para António Corrêa d'Oliveira dá-se continuidade a um trabalho já iniciado no número anterior e que transcreve a epistolografia de Trindade Coelho para o poeta Corrêa d'Oliveira. Neste artigo analisa-se o conteúdo das cartas trocadas entre ambos e as sugestões que Trindade Coelho realizava ao trabalho do poeta Corrêa d'Oliveira. Concluindo com o paralelelismo entre a vida de ambos os escritores, os problemas pessoais, as dúvidas e sugestões, as questões profissionais e literárias.
Uma artigo muito interessante e fundamental para conhecer melhor as duas personalidades em questão. Reconhecendo o papel de Trindade Coelho ao ter descoberto e protegido Corrêa d'Oliveira durante algum tempo, empenhando-se na sua valorização enquanto poeta. Um trabalho que inclui a publicação de cartas que podem servir para a realização ou avanço de outras investigações, porque a epistolografia é fundamental para estudar a personalidade de alguém e as pesosas com quem se vai relacionando, permitindo descobrir facetas diferentes daquelas que muitas vezes se mostram em público.
De seguida, o vastíssimo e valioso trabalho de investigação e prospecção biobibliográfica realizada pelo professor Hirondino Fernandes, sobre a figura de Trindade Coelho. Este vai ser, em nossa opinião, um trabalho marcante e fundamental para quem quiser estudar a personalidade de Trindade Coelho. Seria mesmo merecedor de uma publicação autónoma, em livro, caso alguma editora o tivesse descoberto atempadamente.
Neste artigo é possível encontrar, se não toda, quase toda a produção literária e jonalística de José Francisco Trindade Coelho. Mais, teve a preocupação de agrupar a produção deste autor por anos e descobriu os diferentes pseudónimos que utilizou ao longo do tempo. Após uma breve nótula biográfica, inicia propriamente a descrever a bibliografia activa com os documentos manuscritos que se encontram no Museu do Abade de Baçal. Parte depois para o levantamento de todos os documentos impressos que foi possível encontrar desde 1878/1879, muitos deles acompanhados de pequenos excertos, que mostram a minúcia da sua pesquisa. Consultou centenas de publicações periódicas e livros, bem como o espaço imenso que a Internet coloca à nossa disposição. Recolheu uma imensa quantidade de informação que agora fica disponível para outros investigadores poderem avançar em novas direcções. Elaborou também uma extensa bibliografia passiva sobre o autor ordenada alfabeticamente. Recolheu ainda uma utilíssima secção intitulada "Ecos da Imprensa" onde se encontram referências extremamente relevantes para os estudiosos de Trindade Coelho e da sua época. Pesquisou também as referências a Trindade Coelho na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Pares. Encontrou ainda referência a uma curta metragem sobre a personalidade em apreço. Finalmente, também não poderia ser esquecida a iconografia, com um conjunto de imagens de Trindade Coelho, algumas delas muito pouco conhecidas que agora ficam a ilustar este valiosíssimo contributo para a cultura portuguesa.
Este artigo que se insere no seu projecto mais vasto de elaborar a Bibliografia do Distrito de Bragança, projecto ambicioso que há algum tempo temos tido oportunidade de vir a acompanhar. As longas décadas de trabalho de investigação e os milhares de páginas já escritas são um património importantíssimo para os transmontanos e, particularmente, para os brigantinos. Façam favor de não o deixar perder!!!
A amizade que começamos a construir nas nossas deambulações pelas bibliotecas, compulsando e recolhendo em jornais e revistas (muitas vezes a desfazer-se entre os dedos), procurando realizar um trabalho que nada nem ninguém recompensa, e, muitas vezes, só com o gozo de conseguir encontrar algo que já se pensava perdido e esquecido por todos. Ele procurando autores do seu distrito e nós pesquisando sobre autores do "Meu Algarve", tentando realizar um projecto semelhante para esta região.
Por fim, permitam-nos destacar o artigo da autoria de Henrique Manuel S. Pereira, intitulado Polémica entre Sena Freitas e Guerra Junqueiro, porque aborda uma polémica sempre presente entre republicanos,livres-pensadores e maçons face aos católicos. Neste caso representados por duas figuras de relevo num e noutro campos, numa polémica pouco conhecida entre o padre José Joaquim de Sena Freitas, que teria celebrado uma missa aquando do falecimento de Émile Littré (1881) onde criticou o seu pensamento ao que Abílio Guerra Junqueiro respondeu com a publicação de uma poesia onde insultava de forma clara o eclesiástico com "Littré e o Padre Sena Freitas" publicado no jornal portuense Folha Nova em Julho de 1881. O autor analisou os ecos na imprensa desta polémica e as suas várias leituras, bem como as referências que encontrou sobre esta questão em diferentes autores ao longo do tempo. Muito interessante para compreender a evolução do pensamento de Guerra Junqueiro e o anticlericalismo de muitos dos autores ligados ao Partido Republicano.
A.A.B.M.
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