A RAZÃO. Semanário Republicano [ao nº 9, Órgão do Centro Republicano José Falcão]. Ano I, nº I (27 Janeiro 1904) ao nº XVII (22 Maio 1904); Administração e Redacção: Rua do Estendal, 33, 3º [depois, ao nº7, Rua de Santo António, 9], Figueira da Foz; Editor: José Maria Roque dos Reis [ao nº4, Amadeu Sanches Barreto; ao nº8, José Soares Coronel]; Redactor Principal: Gustaf Adolf Bergstrom; Impressão: Typographia Democratica (Coimbra); Figueira da Foz; 1904, 17 numrs
Trata-se
de um semanário figueirense que se dispunha a “lutar pela ideia da República,
como primeira etapa a alcançar na senda do progresso”, referindo que fazem
tenção de tomar o “mais humilde logar nas fileiras da democracia pela qual lutaremos
sempre com serenidade, mas enérgica e intransigentemente” (in nº1, texto
assinado, em nome da redacção, por Gustavo Adolf Bergstrom).
[Gustaf Adolf Bergstrom nasceu
em 1892 na Ilha de Santo Antão (Cabo Verde). De ascendência sueca pelo lado do
pai, residiu na Figueira da Foz e casou com Amélia Lucas de Oliveira (e, assim
julgamos, casou uma segunda vez com Maria da Luz – cf. O Paiz, Rio de Janeiro,
28/12/1916) – tiveram duas filhas, Maria Regina Bergstrom (n. 1902), que se
fixou em Moçambique e Fernanda Bergstrom (n. 1910). Curiosamente o seu pai, Theodoro
Segismundo Bergström (1856?-1934; foi director do BNU em S. Tomé e Príncipe) e
o seu avô paterno, tinham casado também com cidadãs portuguesas. Gustaf Adolf
Bergstrom dedicou-se à instrução pública, foi professor de ensino livre
(especialidade em língua inglesa) em Lisboa (no Novo Colégio Inglês), Figueira
da Foz e Coimbra. Foi jornalista e um ardente propagandista liberal e
republicano. Foi maçon, tendo integrado a Loja maçónica "Academia Livre", de Coimbra.
Como jornalista, funda (11 de
Maio de 1902) e redige o jornal “A Voz da Justiça” da Figueira da Foz (a 17 de
Maio de 1903, Gustaf Bergstrom, cede a propriedade do jornal para a Associação
de Instrução Popular, passando o periódico a ser administrado por maçons
filiados na Loja Fernandes Tomás, loja maçónica instalada a 22 de Setembro de
1900 na Figueira da Foz); escreve no jornal, “Desaffronta” (1903, Figueira da
Foz - nº único) em defesa do descanso semanal dos caixeiros figueirenses – à
revindicação dos trabalhadores sucede um “longo” processo judicial, tendo sido
Afonso Costa o advogado dos caixeiros processados; participa (1904) no jornal
comemorativo da revolta do 31 de Janeiro de 1891, “Glória aos Vencidos”, patrocinado
pelo Centro Eleitoral Republicano José Falcão da Figueira da Foz; foi redactor
principal do semanário “A Razão”, mais tarde órgão desse mesmo Centro
Republicano.
Retira-se para Coimbra (vive numa casa nos
Arcos do Jardim, ao nº52), frequenta como aluno voluntário a Faculdade de Filosofia
e de Matemática na Universidade de Coimbra, exercendo a docência no Liceu da
cidade, leccionando (em sua casa) um curso especial de inglês prático para
alunos internos. Foi um curioso poeta e letrista (com que contribuiu para
alguns estimados fados). Parte Gustaf A. Bergstrom, anos depois (1912/13?), para
o Brasil. Lecciona matemática, física e química, e dá cursos particulares de
inglês, no Instituto Beltrão (rua Haddock Lobo, nº 419) e no Instituto La-Fayette,
do Rio de Janeiro. Discursa na sessão solene das comemorações da República
Portuguesa em 1913, promovidas pelo Grémio Republicano do Rio de Janeiro (foi realizada
excepcionalmente no dia 12 de Outubro) no teatro Lyrico, sob presidência do dr.
Bernardino Machado. Morre a 23 de Junho de 1916 (cf. jornal Estado do Pará, 24/06/2016)
no hospital da “Beneficência Portuguesa”, vítima da “tuberculose” (assim o
refere, como causa da sua morte, Cardoso Martha, in “Jornalismo Figueirense”,
1926, p. 60)]
Refira-se que “A Razão” foi
criada por um grupo de republicanos que pretendiam reatar “os laços morais” da
comissão municipal republicana, pelo que constituíram o núcleo (fundador) do
Centro Eleitoral Republicano José Falcão (instalado e inaugurado no dia 31 de
Janeiro de 1904, aniversário da revolta republicana do Porto e em que usa da
palavra Gustaf Bergstrom, um dos principais impulsionadores do Centro e seu
presidente). Antes mesmo da fundação do Centro Republicano José Falcão foi
decidido pelo núcleo inicial a criação de um jornal que fosse seu órgão de
imprensa. De facto, assim aconteceu, a 27 de Janeiro de 1904, o semanário “A
Razão” [cf. Cardoso Martha, ibidem].
[A CONTINUAR]
J.M.M.
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