Foi, no agora centenário, ano de 1915, um dos mais agitados e instáveis de toda a I República, que se preparou, organizou e realizou o I Congresso Regional Algarvio, que decorreu entre os dias 3 e 7 de Setembro de 1915 na Praia da Rocha.
A realização de um Congresso era uma oportunidade de chamar a atenção dos poderes públicos e políticos sobre o Algarve, uma região, sistemática e injustamente esquecida pelo poder central. A justiça reclamada pelos algarvios prendia-se com o facto de o Algarve apresentar um saldo positivo entre receitas e despesas, contribuindo para os cofres centrais com montantes superiores aos que recebia.
O Congresso assumiu-se como uma verdadeira comissão técnica de aconselhamento dos poderes instituídos, sendo porventura uma iniciativa pioneira em Portugal, quer na forma como estruturou a sua intervenção, quer nos conteúdos abordados. Na verdade, pela primeira vez, um conjunto de personalidades afectas à elite do saber e de reconhecida competência técnica sobre as matérias essenciais ao desenvolvimento reuniu-se para reflectir sobre uma região do país e apresentar soluções de curto, médio e longo prazo para os problemas e entraves ao desenvolvimento sectorial e global do Algarve, em conformidade com um verdadeiro plano estratégico de desenvolvimento para a região.
Deste modo, o CRA projectou uma nova era para o Algarve, subordinando as suas teses à concepção de uma região internacionalizada pelo Turismo, que ocuparia “o lugar de topo, no conjunto de actividades económicas da região”, sendo simultaneamente a actividade estruturante, agregadora e promotora das restantes actividades. O clima, a paisagem, a riqueza dos solos agrícolas e a abundância dos recursos marítimos asseguravam ao Algarve as “condições para alimentar uma indústria turística próspera contribuindo para a riqueza nacional de forma auto-sustentada.
O Congresso Regional Algarvio não teve, porém, os resultados desejados. A gravidade das várias convulsões políticas após 1915 não permitiu a implementação das ideias e das coordenadas de acção propostas pelo CRA.
No entanto, um dos principais objectivos do Congresso foi conseguido. O Algarve fora estudado por reputados especialistas das mais diversas áreas que analisaram, a agricultura, a pesca, a indústria, a rede viária e portuária, os transportes, a educação, o turismo, a fiscalidade, a exportação, o clima, o turismo, a cultura, a assistência, o analfabetismo, a saúde, a arte e demais recursos da região.
Os congressistas, para além da minuciosa caracterização da província, imprescindível para qualquer mudança estratégica, indicaram os novos rumos a seguir para um Algarve bem sucedido, com um desenvolvimento verdadeiramente sustentado e sustentável. As suas teses são fontes imprescindíveis para o conhecimento e compreensão da I República no Algarve e da sua relação com o país, pelo que o seu estudo abre novas pistas de análise para múltiplas investigações sobre o nosso destino colectivo enquanto região.
Que a celebração do Centenário do CRA, seja efectivamente útil no esclarecimento do nosso devir histórico e colectivo.
Como seria o Algarve, se estas teses não tivessem caído no esquecimento?
Como seria o Algarve, se estas teses tivessem sido lidas e aproveitadas pelas gerações vindouras?
MJRD [Maria João Raminhos Duarte]
Com o nosso agradecimento pela autorização de publicação do texto que pode ser encontrado AQUI.
A selecção da imagem e os destaques do texto são da nossa autoria.
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