Sessão Evocativa de Ramalho Ortigão (por ocasião do
centenário da sua morte)
[TEMAS /ORADORES]:
► “Ramalho e os Vencidos da Vida” [Guilherme d’Oliveira Martins];
► “Saudação em nome da família de Ramalho” [Margarida Ortigão Ramos];
► “Virtudes e defeitos do povo n’As Farpas” [António Valdemar];
► “Ramalho na Academia das Ciências” [Artur Anselmo].
«Tenho hoje 54 anos, dos quais 35 consagrados à
profissão das letras. Do exercício da minha arte tirei grandes alegrias de
aplicação e de trabalho. Nos primeiros anos um feminismo, que estava talvez em
gérmen no meu temperamento, mas que a leitura de Garrett na psicose da minha
puberdade contribui muito para desenvolver num sentido romanesco, levava-me a
apetecer um certo género de celebridade: que as mulheres me lessem, me olhassem
com simpatia. Essa ambição tive, mas nunca tive outra sendo completa e
absolutamente indiferente ao aplauso das academias, aos prémios oficiais, a
toda a espécie de honras e dignidades públicas. Mais tarde esvaiu-se esse mesmo
desejo de ser lido por mulheres lindas, e o meu único prazer de escrever está
na minha própria escrita, quando raramente numa e noutra linha consigo fixar a
imagem de um sentimento verdadeiro, transmitir uma emoção sincera.
Maçar o menos que seja possível o meu semelhante,
procurando tornar para os que me cercam a existência mais doce, o mundo mais
alegre, a sociedade mais justa, tem sido a regra de toda a minha vida
particular. O acaso fez de mim um crítico. Foi um desvio de inclinação a que me
conservei fiel. O meu fundo é de poeta lírico.
Cumpri o melhor que pude o meu destino, criando o filho e escrevendo o livro. Faltou-me plantar a árvore, e é já agora tarde para o fazer com alguma probabilidade de aproveitar a sombra.
Cumpri o melhor que pude o meu destino, criando o filho e escrevendo o livro. Faltou-me plantar a árvore, e é já agora tarde para o fazer com alguma probabilidade de aproveitar a sombra.
Mas à minha profissão exercida com modéstia, mas com honradez, devo amizades, e ligações de simpatia, que fazem a minha única glória, e me permitirão talvez não morrer ao sol e às moscas” [Autobiografia]
J.M.M.
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