quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

HERNÂNI CIDADE (Parte II)

(Hernâni Cidade, fotografia publicada por Jaime Cortesão, Memórias da Grande Guerra, Renascença Portuguesa, Porto, 1919)

Segundo o processo militar de Hernâni Cidade, ele partiu de Lisboa em 17 de Abril de 1917, integrado no Regimento de Infantaria nº 35, 2ª companhia.

Em 11 de Agosto de 1917 foi louvado pela ordem de serviço pela muita coragem demonstrada na noite de 12 de Julho, quando comandou uma patrulha de reconhecimento para que se tinha oferecido voluntariamente, tendo conseguido obter informações acerca das linhas inimigas. No dia seguinte, voltou a fazer nova patrulha de reconhecimento, tendo demonstrado “muita coragem, audácia e sangue frio”. Louvado pela “bravura e abnegação, com que socorreu debaixo de fogo de bombardeamento um praça do Batalhão de Infantaria nº 7”, por Ordem do Exército de 9 de Agosto de 1917. Foi debaixo de fogo à terra de ninguém buscar um soldado alemão ferido que, como forma de agradecimento, lhe ofereceu o cinturão e o sabre, que Hernâni Cidade conservou cuidadosamente em sua casa durante o resto da vida.

Foi condecorado com a Cruz de Guerra, de terceira classe, em 5 de Novembro desse ano, publicado na Ordem do Exército (2ª série) de 15 desse mês. Foi colocado como comandante do batalhão de metralhadoras ligeiras em 18 de Setembro. Obteve licença de campanha por 53 dias desde 26 de Janeiro de 1918, apresentou-se a 20 de Março. Desapareceu a 9 de Abril de 1918, durante a Batalha de La Lys. Feito prisioneiro pelos alemães, foi enviado para Strasburg e mais tarde para Bressen-Port-Roggendorf-Nechlemburg, tendo ficado prisioneiro por 9 meses. Durante esse período aprofundou o seu conhecimento da língua e da cultura alemã, além disso organizou aos domingos conferências sobre Literatura Portuguesa. A primeira, terá sido foi subordinada a “Camões, Poeta Europeu” a que se seguiram outras dentro do mesmo âmbito temático. Foi esta iniciativa que terá suscitado em Hernâni Cidade o desejo por seguir uma carreira académica. Foi presente ao Quartel-General em 27 de Janeiro de 1919, vindo do Paiol do Exército. Em 1 de Fevereiro de 1919 seguiu para Portugal, por via terrestre, e foi abatido ao serviço em 8 desse mês. Ascendeu à patente de tenente em 31 de Março de 1919, por Ordem do Exército nº 10.

Nesse ano de 1919 inicia a sua actividade como docente, por convite, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, dirigida por Leonardo Coimbra e onde se manteve até 1930. Iniciou a carreira como professor contratado do 2º Grupo (Filologia Românica), tendo cumprido dois anos nesta categoria. Conseguiu depois a nomeação para professor ordinário. Regeu as cadeiras de Língua e Literatura Portuguesa, Língua e Literatura Francesa, Gramática Comparada das Línguas Românicas, Filologia Portuguesa, Filologia Portuguesa, História da Literatura Italiana e História da Literatura Portuguesa.

Casa em 1 de Julho de 1920, no Porto, com Aida Feio de Oliveira Tâmega, filha de Manuel José de Oliveira Tâmega e de Carolina Gomes de Oliveira Tâmega, natural da freguesia do Bonfim, na cidade invicta.

Obteve o grau de Doutor em Letras, na área de Filologia Românica, em 19 de Abril de 1926.

 Após o anúncio oficial de extinção da Faculdade de Letras do Porto, pelo Decreto n.º 15 365, de 12 de Abril de 1928, e durante o período que antecedeu o seu encerramento efectivo, em 1931, leccionou no Liceu Rodrigues de Freitas, também no Porto. Neste mesmo ano, transitou para os quadros da Faculdade de Letras de Lisboa, após aprovação em concurso público com a dissertação "Obra poética de José Anastácio da Cunha".

Participou em alguns movimentos de oposição ao regime até meados da década de 1930, mas viu-se obrigado a abandoná-los depois de ter sido ameaçado de expulsão da Universidade de Lisboa. Apesar de a oposição ao Estado Novo o reconhecer como republicano, convidando-o em momentos simbólicos a estar presente, Hernâni Cidade procurou manter-se afastado da vida política activa com receio das consequências.

Dirige, entre 1934 e 1935, o Diário Liberal, juntamente com Joaquim de Carvalho e Mário de Azevedo Gomes.

[Em continuação]
A.A.B.M.

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