quinta-feira, 5 de abril de 2018

PEDRO FRANCISCO MASSANO DE AMORIM (Parte II)



João de Azevedo Coutinho, um conhecido político e administrador colonial português, considerava que Massano de Amorim tinha sido “o homem preciso”, “arrojado”, “de cujas qualidades de inteligência e inteligência estava bem seguro”, “destemido chefe, embora exigente” para dominar o Angoche, quando até ali ninguém ainda o havia conseguido [João de Azevedo Coutinho, As duas conquistas de Angoche, Col. Pelo Império, Lisboa, 11, 1935, p. 40-41]. Coutinho assume que Massano de Amorim teve papel de relevo na questão de Angoche, mas também contava com homens de valor a seu lado como Gomes da Costa, Augusto José da Cunha, Neutel de Abreu e Dâmaso Marques, entre outros [João de Azevedo Coutinho, idem, p. 44, nota 1]. A descrição de toda a acção de Massano de Amorim neste processo do Angoche ficou descrita no relato feito pelo próprio no Relatório sobre a ocupação de Angoche: operações de campanha e de mais trabalhos realizados: ano de 1910, mas também no pequeno opúsculo de João de Azevedo Coutinho acima citado.

Sobre a acção de Massano de Amorim durante a Grande Guerra, a força expedicionária partiu de Lisboa em 11 de Setembro de 1914 e desembarcou em Porto Amélia em 1 de Novembro desse ano. O grande problema com que se defrontaram foi a questão sanitária, que era extremamente deficiente, associando-se a isto uma alimentação de péssima qualidade e as condições de alojamento das tropas também eram paupérrimas. Este conjunto de situações conjugadas, fez com que um quinto da força militar chegada a Moçambique, ficasse fora de combate, mesmo antes de abandonar o local de chegada passado meio ano.

As instruções que recebeu de Lisboa indicavam que teria que desalojar os alemães da ilha de Quionga, onde se encontravam desde 1894. Esta ilha situava-se na foz do rio Rovuma, local onde as tropas portuguesas passaram grandes dificuldades. Para cumprir com as instruções recebidas, Massano de Amorim solicitou o reforço de tropas visto que tinha elevado número de baixas provocadas por doenças que debilitavam cada vez mais as tropas portuguesas.

Para tentar ultrapassar esta situação organiza-se então a segunda expedição, comandada pelo major Moura Mendes, que partiu de Lisboa em Outubro de 1915. Sobre as dificuldades sentidas pelas tropas portuguesas o fica o relato do Capitão António Pires, feito em 1924:

A Campanha da África Oriental Portuguesa, foi feita em condições que a tornaram única na história. A composição das tropas e seu equipamento e a natureza da colónia de Moçambique tudo se combinou para criar dificuldades sem precedentes. Pouca é conhecida até agora esta campanha a não ser meia dúzia de oficiais combatentes que todos os anos a têm comemorado. Pode dizer-se que a Campanha de Moçambique, de sofrimentos e resignações, de combates sangrentos em campo raso e guerra em movimento, ela não é conhecida para o grande público. Para França, foram os políticos, os escritores, os literatos e os militares conhecidos; para Moçambique, foram os que apenas eram militares ou soldados, e por isso a campanha, lá longe, lutando contra todos os inconvenientes possíveis e imaginários, combatendo-se em silêncio, e silenciosamente morrendo pela Pátria, é desconhecida.

Massano de Amorim cumpre as instruções recebidas, porém a chegada de um novo governador, Álvaro de Castro, vai alterar o posicionamento e as ordens seguiram numa nova direcção. Por outro lado, o contexto político em Portugal, com a revolta de Maio de 1915, altera as circunstâncias. Agora a questão não era somente reocupar Quionga, mas entrar deliberadamente em conflito com a Alemanha. O militar e colonialista português foi então enviado como governador de Angola em Janeiro de 1916.

Chegado ao território português na costa ocidental africana, em Abril de 1916, dirige-se a Luanda e depois para a região sul desse território, onde a ameaça alemã e os episódios bélicos já tinham começado. Novamente, as instruções passam por tentar evitar o confronto directo com os alemães, mas tentar proporcionar alguma abertura para facilitar a colonização europeia. No fundo, era um trabalho de continuidade já desencadeado anteriormente por outros governadores da colónia angolana.

Um ano depois da sua chegada eclode uma revolta das populações africanas na região de Angoche, estava em Maio de 1917. Este conflito era provocado pelas prepotências praticadas pelos colonos portugueses estabelecidos na região, entre elas o governador destacava: “a detenção dos indígenas, imposição do trabalho forçado fora dos termos legais, falta de pagamento de salários a par da desobediência à autoridade, do contrabando da pólvora e armas vendidas ao gentio”. Porque não havia tropas suficientes, o próprio governador dirige-se para a região revoltada onde chega em Setembro de 1917. Consegue congregar esforços e apoios no Bailundo o que lhe permite sufocar a revolta. Estabilizada a situação, consegue, um mês depois, obter autorização para partir para Portugal. Em Janeiro de 1918, Massano de Amorim foi demitido do seu cargo.


[Em Continuação]

A.A.B.M.

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