segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O PERIODISMO POLÍTICO DA PÓS-VILAFRANCADA AO SETEMBRISMO (1826-1836)




AUTOR: José Augusto dos Santos Alves;
EDIÇÃO: Mediaxxi, Outubro 2018

LANÇAMENTO:

DIA: 23 de Outubro 2018 (18,30 horas);
LOCAL: El Corte Inglês [Sala de Âmbito Cultural – piso 6], Av. António Augusto de Aguiar, 31, Lisboa;
ORADORES: Inês Cordeiro [diretora da BNP] | João Pedro da Rosa Ferreira [FCSH UNL]

ORGANIZAÇÃO: Editora Mediaxxi | El Corte Inglês

“À luz da concepção, segundo a qual toda a época fala, antes de mais, dela própria, pode dizer-se que os historiadores escrevem um passado à luz do seu presente. Como diz W. Benjamin, nenhuma realidade é antecipadamente um facto histórico. Ela torna-se assim, a título póstumo, graças a acontecimentos separados dela por milénios, séculos, décadas.

Qualquer obra, antiga ou moderna, é matéria de reflexões, subentendidos múltiplos, reminiscências ressuscitadas, aproximações, genealogias, recorrências, reaparições, entrecruzamentos. As imagens só possuem um sentido se o historiador as considerar como espaços de energia e de cruzamento de experiências decisivas. Uma obra só adquire o seu verdadeiro sentido graças à força insurreccional que encerra; só assim é possível fugir ao laxismo ecléctico generalizado. Assim sendo, tendo presente esta concepção operatória, também posso acrescentar que cruzar periódicos é cruzar saberes, certamente um dos actos mais ricos deste tipo de investigação.

Para teorizar o cruzamento de saberes labirínticos, liberais, conservadores, ultramontanos e republicanos dos periódicos desta época, é necessário estar atento ao descriptar do texto, noticioso ou editorializado, ao discurso opaco ou transparente, embalsamado de verdades, infiltradas pela mentira ou mentiras embalsamadas como verdades, à escrituralidade substantivada da imaginação criadora dos fomentadores da grande política e à prédica plena de aproximações, fanfarronadas e banalidades, em que, sob a miséria da incompetência e da intolerância, se veiculam formulários, desígnios e considerandos sem substância. As transformações acontecidas no modo de produção do periodismo, ainda que longe de superar todos os obstáculos e inércias, não impedem o periodista e o periodismo portugueses de atingir os padrões da Europa, o que desde logo tem repercussão nas questões do desenvolvimento na criação de periódicos e de interiorização das liberdades, sobretudo depois da deriva despótica miguelista.

Apesar das diferenças ideológicas entre periódicos, são, contudo, partilháveis, e da mesma natureza, os modos de escriturar encontrados a esse nível na imprensa da formação social portuguesa, nesta primeira metade do século XIX. Desde logo, o cruzamento de saberes periodísticos é um facto ocorrente sempre que “submergimos” na sua investigação, interpretação ou análise dos periódicos de referência, liberais ou conservadores.

Existe uma evidência na progressão da produção espiritual, intelectual e tecnológica dos periódicos, em clara aceleração na terceira e quarta décadas do século XIX, que vai produzindo crescente influência na própria configuração dos periódicos e da formação social portuguesa em todos os níveis – sociopolítico, económico e cultural –, como resultado da dialógica e da intercompreensão resultantes do cruzamento de saberes periodísticos. São distinções tão fortes que tendem a deixar na sombra a poderosa dinâmica de que estão imbricados e que só é inteligível a prazo e na articulação panorâmica dos periódicos envolvidos neste processo de encruzilhada de saberes, em muitos casos sem a consciência do que está a acontecer.

Tirar do esquecimento esta excelente fonte de informação, comunicação e memória, que explica a dramática das sociedades humanas e o seu futuro – a que se chama actualmente história –, a par desse efeito de criação e de atravessamento e destruição de saberes, leva a pensar que a formação social portuguesa se começa a pensar mais a si própria e aos seus problemas, ao mesmo tempo que alarga o círculo de leitura, estimulando-o a fazer uso da capacidade de utilizar a razão e a dinamizar a opinião pública, numa época em que o homem ou a mulher modernos tinham necessidade de aprender a argumentar para convencer o seu interlocutor ou o seu público.

O acto de convencer, distinto do de explicar ou do de informar, tem o poder de fazer evoluir a opinião e poder mudar as coisas, tendo sempre presente a retórica imbricada com duas preocupações indissociáveis, a da eficácia e a da ética. A retórica, ainda se mantinha, em grande parte, à distância das técnicas de manipulação, apesar da vacuidade retórica manipuladora começar a estar presente na esfera comunicacional. A eficácia podia perfeitamente caminhar a par com o respeito pelo Outro e por si mesmo, eficácia, naturalmente, potenciada pelo cruzamento de saberes periodísticos” [AQUI]

J.M.M.

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