domingo, 25 de agosto de 2019

FRANCISCO AUGUSTO CORREIA BARATA (PARTE II)



Enquanto deputado fez parte da Comissão de Redacção, da Fazenda, de Legislação Criminal, da Instrução Superior (1885-1886), do Bill de Indemnidade (1885), da Comissão de Inquérito sobre os impostos do Sal (1885), da Comissão de Resposta ao Discurso da Coroa (1886) e da Comissão para Estudar as Causas da Emigração (1886). Neste período tomou parte em vários debates na Câmara dos Deputados e apresentou uma proposta de projecto de lei para a organização do curso geral da Faculdade de Filosofia, em Abril de 1885. Envolveu-se no debate sobre a revisão constitucional defendendo a manutenção do beneplácito na Constituição, procurando garantir o bom relacionamento entre a Igreja e o Estado. Numa das sessões, o deputado republicano Consiglieri Pedroso solicitou maior rapidez na obtenção de resultados da Comissão de Inquérito ao Imposto do Sal e Correia Barata fez questão de apresentar os resultados até ali obtidos, bem como todas as iniciativas que tinha tomado para melhor esclarecer a situação e no final solicitou que o dispensassem da referida comissão, porque talvez assim os trabalhos avançassem mais depressa.

Recebeu o título de Conselheiro e já jubilado, exerceu ainda as funções de director da Secretaria da Câmara dos Deputados, por diploma de 1 de Fevereiro de 1897 tendo tomado posse do cargo a 3 de Fevereiro seguinte. Desempenhava estas funções quando faleceu.
Foi dos primeiros a acolher com entusiasmo as ideias positivistas de Augusto Comte e conquistou alguma reputação no plano internacional, principalmente em França, onde um dos seguidores de Comte, Pierre Lafitte, o citava com frequência nas suas aulas.

Foi um dos impulsionadores das comemorações do Centenário do Marquês de Pombal na Universidade de Coimbra. Em 15 de Novembro de 1881, na reunião do conselho da Faculdade de Filosofia, apresentou a proposta para se fazer as comemorações do centenário do Marquês de Pombal. A proposta foi aprovada por unanimidade e, no dia 8 de Maio de 1882, discursou na sessão solene juntamente com António Cândido, tendo o discurso sido publicado no Anuário da Universidade de Coimbra 1882/1883, p. 3 a 20. No entanto, a crítica às comemorações surgiram e, entre eles, Ramalho Ortigão, nas suas Farpas foi dos mais críticos. Este discurso encontra-se reproduzido no Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, vol. 19, Lisboa, Imprensa Nacional, 1908, p. 79 a 83.

Tornou-se sócio da Sociedade de Geografia, uma das mais prestigiadas instituições portuguesas na segunda metade do século XIX, em 27 de Março de 1877, sendo o sócio nº 170.

Foi um dos principais responsáveis pela elaboração da Carta de Lei que criou na Universidade de Coimbra a cadeira de Antropologia, Paleontologia Humana e Arqueologia Pré-Histórica, substituindo a de Agricultura que era lecionada até 1885. Juntamente com Bernardino Machado, foi um dos impulsionadores das ideias que foram discutidas e apresentadas no Congresso de Lisboa de 1880. Os professores responsáveis pela cadeira a partir de 1885/1886 foram H. Teixeira Bastos, seguiu-se Bernardino Machado e mais tarde Eusébio Tamagnini.

Em 1886, traduziu a obra de Júlio Verne, Cinco Semanas em Balão, viagem através de África, para editora de David Corazzi.

Sobre a sua personalidade dizia-se que, “era o algarvio menos falador que se conhecia. Calado e taciturno, firme e austero. Irritava-se facilmente e seria um declarado inimigo do obscurantismo católico reacionário, sendo frequentemente atacado por ser um confesso ateu” [Paulo Jorge Fernandes, apud Carlos Lobo d’Ávila, “Barata, Francisco Augusto Correia”, Dicionário Biográfico Parlamentar, vol. I (A-C), coord. Maria Filomena Mónica, Col. Parlamento, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, 2004, p. 296]

Colaborou com os Estudos Cosmológicos, red. A. M. de Senna, Bernardino Machado, F. A. Corrêa Barata. - Nº 1 (1870) - nº 4 (1871). - Coimbra : Imprensa da Universidade, 1870-1871. Disponível aqui: http://purl.pt/30403/4

O Século. Publicação de Filosofia Popular e de Conhecimentos para todos, quinzenalmente, entre Dezembro de 1876 e Maio de 1878, em duas séries, onde colaboravam também: Zeferino Cândido;

A Revista de Coimbra, Coimbra, 1879, tendo sido director da publicação.

Colaborou regularmente com a revista O Instituto, de Coimbra.

Colaborou ainda em Fraternidade Militar, Coimbra, 1887 (número único). Refere Inocêncio a propósito desta publicação: “organizado pela comissão promotora da festa militar realizada em Coimbra pelos oficiais do regimento de infantaria nº 23, em favor da viúva e filhos do desditoso capitão do mesmo regimento José Maria de Sousa Neves. Publicado em 10 de abril de 1887.

Bernardino Machado, faz-lhe o elogio fúnebre n’O Instituto de 1900, conforme se pode ler aqui:

No final da sua vida, envolta em grande sofrimento provocado por doença, acabou por se converter ao Cristianismo, ele que tinha sido fortemente critico da religião fruta da aproximação à filosofia positivista acabou por receber os sacramentos da Igreja, conforme noticiava o jornal A Nação [ver aqui: http://purl.pt/28600/1/j-2976-g_1900-03-30/j-2976-g_1900-03-30_item2/j-2976-g_1900-03-30_PDF/j-2976-g_1900-03-30_PDF_24-C-R0150/j-2976-g_1900-03-30_0000_1-4_t24-C-R0150.pdf ].

Era casado com Rosalina Amélia do Couto d’Almeida Vale Correia Barata, de quem teve filhos. 

Alguma correspondência entre Correia Barata e Bernardino Machado pode ser consultada na Casa Comum da Fundação Mário Soares, disponível aqui: http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_5373

Faleceu em Lisboa, em 28 de Março de 1900.

Obras Publicadas:
Da Atomicidade – Estudo sobre as teorias químicas modernas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871 disponível aqui: https://almamater.uc.pt/cn/fundo_antigo/da_atomicidade_estudo_sobre_theorias_chimicas_modernas_por_francisco_augusto_corr%C3%AAa
As raças históricas da Península Ibérica, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1872
Origens Antropológicas da Europa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1873, disponível aqui:
“Juízo Crítico e Científico em desfavor das Teorias do Génesis”, In O Instituto, Julho de 1876, nº 12.
Lições de Química Inorgânica, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1881.
Carta ao sr. Ramalho Ortigão a propósito do Centenário Pombalino, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1882.

Bibliografia Consultada:
Cardoso, Augusto Correia, “Excertos da História do Laboratorio Chymico da Universidade de Coimbra. Parte II: Período 1860–1930”, Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, vol. 42, n.º 148 janeiro–março 2018, p. 33-44. Disponível aqui: https://www.spq.pt/magazines/BSPQuimica/683/pdf
CATROGA, FERNANDO, “Os Inícios do Positivismo em Portugal”, Revista de História das Ideias, nº1, Coimbra, 1977
FERNANDES, Paulo Jorge, “Barata, Francisco Augusto Correia”, Dicionário Biográfico Parlamentar, vol. I (A-C), coord. Maria Filomena Mónica, Col. Parlamento, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, 2004, p. 296-297
FRANCO, Mário Lyster, Algarviana. Subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos Autores Algarvios, vol. I (A-B), Faro, Câmara Municipal, 1982, p. 243-245.
OLIVEIRA, Francisco Xavier de Ataíde, Monografia do Concelho de Loulé, Faro, Algarve em Foco, 1990
SILVA, Inocêncio Francisco da, Dicionário Bibliográfico Português, Lisboa, Imprensa Nacional, vol. 19, Lisboa, Imprensa Nacional, 1908, p. 79 a 83



NOTA: Apesar de percorrer várias Enciclopédias e Dicionários, jornais e revistas da época não se conseguiu localizar uma gravura ou fotografia de Francisco Augusto Correia Barata. Ela existirá certamente, mas não foi possível, em tempo útil, conseguir uma fotografia. Alerta-se também para o facto de na página da Universidade de Coimbra, AQUI, existirem alguns dados biográficos sobre este professor, a data de falecimento que se encontra publicada não corresponde, conforme chamámos a atenção na primeira parte destes apontamentos biobibliográficos.

A.A.B.M.

2 comentários:

Manuel disse...

Vou perguntar ao Museu Bernardino Machado se existe alguma fotografia. Abraços apertados
Manuel Sá Marques

Paulo Barata disse...

Boa tarde,

O meu nome é Paulo Alexandre Amaral Barata, e Fernando Augusto Correia Barata era meu tio bisavô, sendo seu pai, Joaquim José da Silva Barata, meu trisavô e comerciante de Loulé.

Estou a fazer a árvore genealógica da família e não consigo obter dados sobre Joaquim José da Silva Barata. Há alguém que me possa ajudar nesta busca?

Obrigado
Cumprimentos,

Paulo Barata