REVISTA DE MAÇONARIA. Ano I, nº 1 (Novembro de 2020); Editor: Manuel Pinto dos Santos; Director: Fernando Marques da Costa; Impressão: Europress – Indústrias Gráficas; Lisboa; 2020, p. 292
Trata-se de uma revista de Maçonaria onde se “acolhem trabalhos que vão da História à contemporaneidade, do ritual ao simbólico, do individual ao coletivo, da espiritualidade ao ceticismo” (in Estatuto Editorial, p. 1). Esta noviciada revista, curiosamente “em papel”, é projecto independente da “tutela das organizações maçónicas” (p.3), estando centrada no “estudo da maçonaria” e outras sociedades fraternais e espirituais, com “rigor e exigência metodológica” e no recurso e interação sustentada em competentes fontes historiográficas. É-nos dito, também, que a revista privilegia essencialmente a “investigação, mais que o proselitismo”, pelo que está “aberta à colaboração de todos”, cedendo a palavra a quem dela quiser fazer uso.
Do Índice:
Efemérides | História da Maçonaria em Portugal. Vol. VII (A. H. de Oliveira
Marques) | O Grão-mestre e o Grão-mestrado de Luís Gonçalves Rebordão (Fernando
Marques da Costa) | Sinédrio e maçonaria no movimento de 1820 (Manuel Pinto dos
Santos) | Um Ritual desconhecido do Grande Oriente Lusitano (Talles G. A. de
Melo, Joaquim G. dos Santos e Fernando M. da Costa) | Ritual Maçonico regulador
do primeiro Grao Simbólico Aprendiz Maçon | O RER. Ensaio sobre a Gnose e o
Cristianismo como (um) Caminho (Paulo Mendes Pinto) | Maçonaria e Comunicação
Social (Henrique Monteiro) | “Je suis partout” (Paulo Mendes Pinto) | Maçonaria
e género: da segregação imposta à diversidade escolhida (Alexandra Mota Torres
e Helena Guimarães) | O Estigma social da Maçonaria em Portugal (a propósito de
um projeto de lei) (Manuel Pinto dos Santos) | As última negociações entre o
Grande Oriente Lusitano e o Grémio Luso-Escocês, 1932 | Recensões Críticas.
►
Este é um projeto arriscado. Tentar editar uma revista sobre
Maçonaria independente da tutela de organizações maçónicas, seja de forma
financeira ou outra, e centrada na investigação, mais do que no proselitismo ou
na calúnia, não é tarefa fácil, num país pequeno como Portugal.
O
estudo da Maçonaria enquanto fenómeno social, nos seus diversos aspetos, é,
desde há décadas, internacionalmente, uma tarefa de investigadores académicos,
maçons ou não maçons e dela resultam anualmente abundantes artigos científicos,
teses de mestrado e de doutoramento. Não é esse o caso em Portugal, onde o tema
parece ser pouco apelativo à comunidade científica. Lá fora, as próprias
organizações maçónicas possuem lojas ou institutos de investigação que publicam
regularmente revistas que qualquer um pode adquirir ou assinar, para além de
abundante publicação de estudos em revistas científicas académicas. Também não
é esse o caso em Portugal que nunca possuiu, nem possui, uma loja maçónica
exclusivamente dedicada à investigação do tema, nos seus múltiplos aspetos e
são raros os não maçons que investigam o tema. Não existe, ao contrário da
generalidade da Europa, uma única revista de investigação sobre Maçonaria e
sociedades fraternais.
Existiu
no passado uma Revista da Maçonaria, em duas séries, uma em março de 2004 a
dezembro de 2006 e outra de novembro de 2011 a dezembro de 2012 e os seus
proprietários e diretores a ela dedicaram o melhor do seu engenho e esforço,
sem que, todavia, os seus projetos tenham vingado. Um aviso eloquente sobre as
dificuldades que se nos deparam. A pequena diferença de título; Revista de
Maçonaria, marca a diferença entre duas iniciativas de origem e propósitos
diferentes.
Os
tempos mudaram e há hoje uma facilidade de comunicação de projetos que então
não existia. É também diversa a abordagem a que nos propomos. Esta não é uma
revista de «banca». Saindo fora desse universo, em que as tiragens (e os
custos) são mais elevados, a internet e as redes sociais oferecem atualmente
meios de divulgação e de comunicação mais eficazes, porque mais bem
direcionados para o público alvo.
Queremos
também, estar abertos à comunidade científica internacional em parcerias de
publicação de artigos, porque o estudo comparado da Maçonaria (e das sociedades
fraternais em geral) enquanto fenómeno social permite-nos sair do quadro
paroquial onde a investigação sobre a Maçonaria portuguesa por vezes se deixa
aprisionar.
Esta
é uma revista «em papel», uma opção conservadora, mas que assenta na ambição –
de que serve um projeto sem ambição? – de ser uma revista de «estante». É uma
opção um pouco em contracorrente, é verdade. Mas, (por ora) seguimos o exemplo
- ou será tradição? – da generalidade das congéneres internacionais. O futuro
dirá da virtualidade desta opção.
A
esta Revista de Maçonaria estará associada uma página de internet onde se
concentrarão conteúdos de apoio à investigação que nela não tem lugar e que
servirá como uma plataforma de comunicação entre investigadores e de apoio a
novos projetos.
Privilegiamos
o conteúdo à forma, a simplicidade ao aparato gráfico, como é timbre da generalidade
das revistas internacionais de investigação similares, por todas as razões,
mas, também, para que os custos sejam menores e a revista se possa vender ao
mais baixo preço possível a todos os interessados.
O
nosso propósito não é a divulgação da Maçonaria – tarefa que cumpre às diversas
organizações existentes em Portugal, mas o estudo da Maçonaria, feita por quem
a ela se dedica, com rigor e exigência metodológica, citando fontes, para que
as afirmações possam ser sustentadas e corroboradas. Maçon ou não, isso de nada
importa. Esta é uma revista aberta a colaboração de todos, e sobre todas as
perspetivas relacionadas com o tema, na sua aceção mais ampla, isto é, não
apenas Maçonaria, mas todo o tipo de sociedade fraternais, nos seus diversos
aspetos, bem como um leque amplo de formas de espiritualidade a elas associado.
Todos os estudos enviados para apreciação e publicação serão analisados pelo seu
valor intrínseco e não por qualquer tipo de filiação; consideração que aqui não
tem lugar.
Oxalá
sejamos capazes de atingir estes objetivos.
[Fernando
Marques da Costa (Diretor), in Editorial, Uma Nova Página, pp. 3-4 - sublinhados nossos]
J.M.M.
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