sábado, 6 de março de 2021

DR. AFONSO COSTA - NOS 150 ANOS DO SEU NASCIMENTO

 


Viva o Dr. Afonso Costa (Seia, 6 de Março de 1871)

“Há três meses que domina em Portugal, absoluta e olímpica, a Republica nova do sr. Sidónio Pais. O que se tem passado durante este afadigado, incerto e nevrótico consulado dava já para publicar volumes. Mas uma coisa destaca, por entre todas, que desperta o pasmo e sobressalta os espíritos.

Refiro-me à situação dos presos políticos que eu já tratei, em público, discursando, mas a que não posso deixar de voltar mais uma vez.

Há republicanos que estão metidos nos cárceres há três meses precisos. Qual o seu crime, a sua culpa, a sua falta? Ignora-se. Alguns mal foram interrogados e só ultimamente; nenhum tem processo instaurado; e, sendo a lei clara a respeito destes casos judiciários, não se encontra, afinal, explicação razoável, para tamanho encarniçamento contra cidadãos a que se não atribui ainda, com fundamento legal, o mínimo delito.

A República que ai temos foi feita por entre destroços e devastações para, disse-o o sr. Sidónio Pais, restaurar em Portugal o império da lei. Mas a lei não foi instaurada, porque o que impera é a vontade de um homem, tão pessoal e tão autoritário que supomos estar em frente da de um rei absoluto.

 O Pais sente-se mal desalentado e oprimido […]

Em Elvas, há precisamente três meses, está encarcerado Afonso Costa. Refiro-me a ele em especial, não porque a sua liberdade valha para mim mais do que a dos outros presos políticos, mas porque contra o chefe do partido democrático se tomaram medidas mais despoticamente severas.

Sobre ele recaíam as acusações mais graves; era ele o alvo dos ódios mais acesos; dizia-se, sob a protecção das autoridades e com aplauso delas, que a República, destes sete anos tinha sido um regime de atentados e crimes e fazia-se de Afonso Costa o símbolo vivo desses atentados e crimes. Mais uma razão, portanto, para lhe não taparem a boca, deixando-lhe a liberdade de amplamente se defender.

Vem de longe esta lei moral: — que ao acusado se não tolha a defesa, que parece ser um atributo sagrado conferido ao homem pelos primeiros rudimentos da civilização.

Todavia Afonso Costa está, metido no seu in-pace, onde não chegam os rumores da vida social que o cerca. Ele é mais do que um proscrito dentro da própria pátria; é uma espécie de morto dentro da própria vida. Têm-lhe atirado para cima as acusações mais sangrentas e os epítetos mais degradantes. Ondas de lama têm rolado sobre ele, cobrindo de podridão e de esterco a sua vida de homem público. Mas ele não pode falar. Se ao seu cárcere tem chegado, alguma vez, a notícia dessas torpes acusações à sua honra, ele tem curtido o desespero de não lhes poder responder. Não foi bastante tirarem-lhe direito à liberdade; também lhe tiraram o direito à vida moral, - o que de mais respeitável há no homem …”

[António José de Almeida, in jornal República, 9 de Março de 1918]

J.M.M.

1 comentário:

antonio figueiredo disse...

O tribuno e o legislador por excelencia,aqui já estariam de candeias às avessas..mas a admiração e a consideração eram mutuas..não se apaga uma amizade forjada na monarquia ..depois integraram um governo de Uniao Sagrada...por causa d Guerra