sexta-feira, 6 de abril de 2007

PINTO QUARTIN E A GREVE ACADÉMICA DE COIMBRA EM 1907 (II)


Pinto Quartin e a Greve Académica de Coimbra em 1907 (II)

O autor continua a recordar os acontecimentos em que foi um dos protagonistas e refere alguns factos com grande pormenor. Um dos aspectos que aborda com particular interesse é o facto de o movimento iniciado em Coimbra ter alastrado ao restante país, causando grande impacto na opinião pública devido ao eco dos acontecimentos na imprensa da época. Assim, afirmava Pinto Quartin:

A atitude dos estudantes de Coimbra é imediatamente secundada pelos estudantes das escolas superiores de Lisboa e Porto, que se declararam também em greve de solidariedade para com os estudantes expulsos. No Ateneu Comercial de Lisboa, numa reunião em que usaram da palavra Campos Lima, Mário Monteiro, Pulido Valente, Alberto Xavier e Carlos Olavo, é lida uma carta do lente Dr. Bernardino Machado, solidarizando-se com o protesto dos estudantes.

No Porto, no Salão da Guarda, realiza-se um comício a que presidiu o terceiranista de Medicina Teixeira de Seixas e em que falaram Bissaya Barreto, Jaime Cortesão, Campos Lima, Leonardo Coimbra, Álvaro Monteiro, Henrique Forjaz, Augusto Verol, Pádua Correia e o lente da Escola Médico Cirúrgica dr. Alfredo de Magalhães, sendo recebida uma carta de incitamento do poeta Guerra Junqueiro.

Rapidamente a greve se generalizou a todo o País. Não só os estudantes das escolas superiores, são também os das escolas industriais e comerciais, de Belas Artes, do Conservatório, das escolas normais masculina e feminina e até os dos liceus. Formam-se Comissões Centrais em Lisboa e no Porto e Comissões de Vigilância em todos os estabelecimentos de ensino, distinguindo-se nesse movimento, além dos citados em vários passos desta reportagem retrospectiva, os estudantes José Montez, Madeira Pinto, Rui Feijó, Humberto Avelar, Chaves de Almeida, Costa Cabedo, Alfredo França, Henrique Brás, Francisco Luís Tavares, Tadeu Sacramento Monteiro, Francisco Lopes Vieira de Almeida, Alberto Mac Bride, Valentim Lourenço, Colares Correia, Feio Terenas, António de Sousa, Cláudio Basto, Armando Marques Guedes, Álvaro e Ernesto Beleza de Andrade, Manuel Pinto Coelho Vale e Vasconcelos, Mário Malheiros, Eduardo Lopes, José Maria Nunes Leitão, Júlio Gomes dos Santos Júnior, Emílio Martins, António Vaz de Sá Pereira e Castro, Fernando Matos, Alfredo Martins, Januário Leite, Carlos Rego, António Martins, Arnaldo Lima, Francisco Negrão, Germano de Amorim, Lusitano e Geraldino de Brites, José Maria Rangel de Sampaio, António Joyce, António de Carvalho Lucas, Américo de Castro, Antero Cardoso, Amâncio de Alpoim, Paiva Lereno, António Nápoles, Francisco Cruz, Jacinto de Freitas, João Santos Moita, Luís Bicudo, Luís Faísca, Maurício Costa e Luís da Câmara Reis.


A seriação dos nomes dos principais envolvidos nesta polémica, pode tornar-se maçadora para alguns, mas é bastante interessante verificar o papel social e político que algumas destas personalidades vão desempenhar anos mais tarde. Encontramos aqui desde futuros professores da Universidade, ministros, jornalistas, escritores, poetas, músicos, médicos, advogados, outros que vão continuar no anonimato, etc.
Continuando a transcrição do artigo, Pinto Quartin relata:

Pela sua atitude, alguns dos directores e professores são vaiados, outros, como o general Schiapa Monteiro e o Dr. Silva Teles, são vitoriados. De pequenos conflitos com a polícia resulta a prisão, por pouco tempo mantida, dos estudantes Adriano de Almeida Lopes e Francisco José da Silveira Campos. Fernando Bissaya Barreto é também preso, mas pouco tempo depois posto em liberdade, por se ter rido de um polícia de que o prevenira de que não podia «andar parado». E porque, suspenso o direito de reunião, os estudantes se juntassem no «Gelo» e no «Martinho», em Lisboa, e no «Central» no Porto, foram dadas ordens aos proprietários dos «cafés» para não consentirem que nos seus estabelecimentos se falasse de política, nos assuntos académicos ou «em tudo o que saísse do simples e usual exercício da sua indústria». (sic)

Nos próximos dias continuaremos a dar a conhecer mais este importante contributo para a história da Questão Académica de 1907.


[Na foto, as pessoas a passearem frente ao Café Martinho da Arcada onde os estudantes também se reuniam para as discussões políticas. Foto in Arquivo Fotográfico de Lisboa]

A.A.B.M.

1 comentário:

Germano Amorim disse...

Caros responsáveis do Almanaque Republicano,

O meu nome é Germano Amorim, bisneto do mencionado Germano de Amorim no vosso texto sobre a Crise Académica de 1907. Gostaria de saber se era possível fornecerem-me informações sobre o seu passado de estudante (foi advogado)e outras.
O motivo prende-se com o facto de estar a recolher dados biográficos sobre o mesmo acerca da comemoração do centenário da República.
Agradeço o contacto despedindo-me com estima e consideração,

Germano Amorim