sexta-feira, 21 de setembro de 2018

JOSÉ FERREIRA PINTO BASTO – HOMENAGEM EM ÍLHAVO, 22 SETEMBRO



A Comissão Liberato vai amanhã – dia 22 de Setembro de 2018 – na Vista Alegre (Ílhavo) fazer a justa Homenagem a José Ferreira Pinto Basto, um devoto liberal, destacado empresário e capitalista social do período vintista e que foi uma árvore frondosa do liberalismo pátrio. Este respeitável cidadão manteve fortes laços com José Liberato Freire de Carvalho, de quem foi amigo, auxiliando os exilados liberais em fuga ao despotismo miguelista. Manteve-se firme em território nacional, foi perseguido e preso, mas soube consolidar a sua obra comercial e industrial – de que foi disso exemplo o sucesso da sua fábrica da Vista Alegre - com sincera fraternidade social e inquebrantável justiça e progresso aos seus trabalhadores.     

PROGRAMA – HOMENAGEM A JOSÉ FERREIRA PINTO BASTO

DIA: 22 de Setembro de 2018

11.00 Horas – Descerramento de placa alusiva e deposição de uma coroa de flores junto ao seu busto, na Vista Alegre (Ílhavo);

11.30 Horas – Visita ao Museu da Vista Alegre:

Conferência pela professora doutora Isabel Nobre Vargues

13.00 Horas - Almoço

15.00 Horas – Visita guiada ao Museu Marítimo de Ílhavo.

ORGANIZAÇÃO: Comissão Liberato
 
JOSÉ FERREIRA PINTO BASTO [1744-1839] - NOTA BREVE

José Ferreira Pinto Basto nasceu no Porto [a 16 de Setembro de 1744]. Era o filho primogénito de Domingos José Ferreira Pinto Basto [proprietário e grande comerciante, com casa comercial estabelecida no Porto; o seu pai, Manuel Ferreira Pinto, era natural de S. Jorge de Abadim, Cabeceiras de Basto, pelo que Domingos José Ferreira Pinto acrescentou ao nome o de “Basto” – cf. Enciclopédia Luso-Brasileira; ver, ainda e principalmente, Carlos Bobone, “História da Família Ferreira Pinto Basto”, Livraria Bizantina, 1997, II vols, obra que seguimos de muito perto] e de Maria do Amor Divino da Costa [filha de um importante comerciante do Porto, António José da Costa] e teve como irmãos, entre outros, António Ferreira Pinto Basto [1775-1860] e João Ferreira Pinto Basto [1788-1854 ?], originando uma curiosa, próspera e influente família burguesa [com brasão de armas, Alvará de D. João VI, 12 de Setembro de 1818, justamente a José Ferreira Pinto de Basto – ver “Resenhas das Famílias Titulares e Grandes de Portugal”, 1883, tomo I, p. 164], uma verdadeira dinastia comercial  e industrial, e uma nova classe política, como outras mais surgidas durante e após o processo da implantação, triunfo e consolidação do liberalismo português.

José Ferreira Pinto Basto, juntamente com o seu pai e seus irmãos, António e João, e o seu primo Custodio José Teixeira Pinto Basto [1774-1849], fundou a casa comercial “Domingos Ferreira Pinto, Filhos & Ferreira”, na cidade do Porto, núcleo original da sua própria caminhada financeira. Os negócios da família Pinto Basto prosperavam, o génio empreendedor do seu filho mais velho estava individualmente lançado (em especial depois da morte, em 1820, do seu pai).

 


Entre 1809 e 1837, o grupo Pinto Basto disputa e toma o lugar de contratador-geral dos Tabacos e das Saboarias e, para essa função, José Ferreira Pinto Basto vai residir em Lisboa [1817; mandou construir a Casa dos Arcos, na Boavista, para sede dos seus negócios, comprando o vasto terreno conhecido pelos “Prazos da Marinha da Boavista”, de onde partiam os seus navios para o Brasil e o Oriente] para dirigir esse lucrativo negócio do monopólio dos tabacos [enquanto o seu irmão António e o seu primo Custódio ficam á frente do contrato no Porto, e o seu irmão João se instalava em Inglaterra – cf. Carlos Bobone, ibidem]. De 1817 a 1828 o monopólio dos tabacos é dominado pela família Pinto Basto [diga-se que para renovar o contrato dos tabacos oferecia a família á volta de 1.700 contos ao governo, o que dá conta do volume e importância do negócio], até à sua perda com a contra-revolução absolutista. O miguelismo não lhe perdoaria o seu liberalismo militante e afasta a família Pinto Basto da poderosa administração dos Tabacos. Não deixa de ser curioso que, tendo perdido o contrato dos tabacos (fraudulentamente, diga-se, pois ofereceu melhores condições) a favor do negociante João Paulo Cordeiro, de boas graças governamentais, José Ferreira Pinto Basto tenha recorrido ao temível panfletário e publicista corcundático José Agostinho de Macedo, untando-lhe as mãos para esgrimir argumentos a favor das suas pretensões. Como seria de esperar, o padre “Lagosta” rapidamente muda de “amo” e torna-se fiel defensor do vitorioso arrematante governamental, tendo dele recebido uma “confortável pensão vitalícia” [Carlos Bobone, ibidem].

Não esmoreceu, no entanto, José Ferreira Pinto Basto durante o período do miguelismo apesar do rude golpe sofrido no seu império pela perda do contrato dos tabacos ou até quando era ferozmente atacado pelo panfletismo corcundático [em sua defesa surge o “Paquete de Portugal”, escrito por Rodrigo Fonseca Magalhães]. Continuou a desenvolver e modernizar os seus negócios no comércio e indústria, em especial alavancando o negócio da Vista Alegre. Nova situação, porém, o põe em aberto conflito com o governo. Este, face ao descalabro financeiro do país, impôs um empréstimo obrigatório aos principais homens de negócios, tendo, por isso, a família de José Ferreira Pinto Basto sido “taxada” com 16 contos. Recusou, de imediato, pelo que lhe foi dada ordem de prisão e consequente pena de desterro em Mirandela. Sabedor do que o esperava, refugiou-se a bordo duma fragata francesa, ancorada no Tejo, regressando dias depois. Refira-se que, durante a Abrilada, já tinha sido preso por ordem do intendente da polícia, o barão de Randufe, com a acusação de ter facilitado a fuga a José da Silva Carvalho para Londres. Estava, portanto, precavido.

 


Isto é, na verdade José Ferreira Pinto Basto teve, ao longo da sua vida, uma frenética e modernizadora actividade empresarial: grande proprietário [herdou do pai importantes terras em cabeceiras de Basto, em Miramar (quinta do Espírito Santo); comprou depois, a quinta do paço da Ermida, da Vista Alegre, do Silveiro (Oiã), do Rol (Ançâ), a de Foja (Montemor-o-Velho), o convento da Costa e sua tapada (Guimarães), a quinta das Grades Verdes (Granja), a quinta do Malvedo (no Douro), a quinta de Nogueira (Mogadouro; tinha pertencido aos Távoras), a quinta de Queluz (Lisboa), as herdades da Defesa de Barros e do Montinho (Avis), outras herdades em Fronteira, bem como numerosos prédios em Lisboa e no Porto; destacado industrial, dirige a indústria do tabaco, de sabão, de moagem (Aveiro), de soda (Ílhavo), toma posição no comércio marítimo, é encarregado de companhias de seguros, dirige a venda de papel selado em todo o país, é sócio da Companhia das Vinhas do Alto Douro, torna-se um activo e prospero industrial, sendo de realçar a sua magnum opus, a fábrica de porcelana da Vista Alegre (1824), em Ílhavo. Na verdade, o singular modo como esta fábrica era gerida profissionalmente e humanamente, torna-a objecto de estudo, quer no avançado conceito de “centro de produção”, quer no envolvimento associativo e recreativo [e já agora, político; partiu daqui uma brigada liberal – o temido batalhão da Vista Alegre, comandando por Alberto Ferreira Pinto Basto e o diretor fabril João Maria Rissoto - que combateu militarmente o cabralismo, em 1846, na Maria da Fonte; ficou a fábrica 9 meses sem os seus trabalhadores e administradores] dos seus trabalhadores, que ia desde a habitação operária [o bairro operário da Vista Alegre é o primeiro do género no país], um Colégio com internato, a oficina de música, teatro ou capela. A organização social desta empresa diz muito do espirito modernizador, avançado e progressista de José Ferreira Pinto Basto. Funda a Associação Mercantil [de que foi seu presidente], depois denominada Associação Comercial de Lisboa, promove a fundação da Companhia de Pescarias Lisbonenses, integra a Sociétè General des Naufrages et de L’Union des Nations, foi sócio fundador da Sociedade Promotora da Industria Nacional (1822) 

José Ferreira Pinto Basto foi um entusiasta e intransigente liberal [curiosamente o seu irmão António, com quem se incompatibilizaria – até á sua morte – politicamente e comercialmente, colocando mesmo fim aos negócios empresariais conjuntos, era defensor das ambições de D. Miguel – consultar Carlos Bobone, ibidem, p. 29], mantendo um relacionamento constante e intenso com os grandes vultos do liberalismo vintista [como Palmela, José Ferreira Borges, Silva Carvalho, Rodrigo da Fonseca Magalhães, Duarte Guilherme Ferreri, Almeida Garrett, José Liberato, os Irmãos Passos, José Estevão]. Pertenceu (1822) à influente e poderosa Sociedade Literária Patriótica de Lisboa [ver a importância das Sociedades Patrióticas, AQUI]. Refira-se que o seu filho, José Ferreira Pinto Basto Júnior integrou a, também, poderosa e “revolucionária” Sociedade Patriótica Lisbonense (ou clube dos Camilos; 1836), que, além de outros propósitos, debateu questões ligadas á indústria e exportação, tendo sido extinta oficialmente pelo Conselho de Ministros, na eclosão da revolta de Setembro, desse ano.

Foi deputado, quer às Cortes Constituintes de 1837 (por Aveiro), quer em 1838 (pelo Porto) e senador pela cidade de Aveiro. Combateu os cartistas, militando (como seu filho) ao lado dos setembristas, sendo um dos seus mais destacados obreiros – sobre este assunto consultar Carlos Bobone, op.cit., p. 39 e ss.

 


A sua fortuna permitiu-lhe apoiar os exilados liberais portugueses, fugidos ao despotismo miguelista, como José da Silva Carvalho, José Liberato Freire de Carvalho, José Ferreira Borges ou Almeida Garrett. Registe-se que, após ter recusado a proposta de adiantamento do pagamento de 115 contos em troca da futura adjudicação do contrato de tabaco, que lhe foi colocada pelo governo liberal de D. Maria II no exílio, perante a assinatura do barão de Quintela [que aceitou a proposta] não ter sida reconhecida internacionalmente, foi unicamente pelo seu aval que foi garantido o bom pagamento e o acesso aos fundos necessários para se dar inicio à expedição vitoriosa contra o usurpador D. Miguelcf. Carlos Bobone, ibidem.  

Era cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo (1803) e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Por alvará de 8 de Fevereiro de 1826 foi nomeado fidalgo-cavaleiro. Prestou valiosos serviços públicos, em especial o seu contributo para o estabelecimento do porto franco de Lisboa, a sua notável acção á frente da provedoria da Casa Pia, foi secretário do Conservatório Real de Lisboa.

Morre a 23 de Setembro de 1839, na sua casa junto a Santo Amaro, à Junqueira.     

J.M.M.

2 comentários:

Manuel Seixas disse...

Muito bem!
Manuel Seixas

Almanaque Republicano disse...

Grato pelo comentário e corrigenda. Cumprimentos JMM