A
Comissão Liberato vai amanhã – dia 22 de Setembro de 2018 – na Vista Alegre
(Ílhavo) fazer a justa Homenagem a José Ferreira Pinto Basto, um devoto liberal,
destacado empresário e capitalista social do período vintista e que foi uma árvore
frondosa do liberalismo pátrio. Este respeitável cidadão manteve fortes laços com
José Liberato Freire de Carvalho, de quem foi amigo, auxiliando os exilados
liberais em fuga ao despotismo miguelista. Manteve-se firme em território
nacional, foi perseguido e preso, mas soube consolidar a sua obra comercial e industrial
– de que foi disso exemplo o sucesso da sua fábrica da Vista Alegre - com
sincera fraternidade social e inquebrantável justiça e progresso aos seus
trabalhadores.
PROGRAMA – HOMENAGEM A JOSÉ FERREIRA PINTO BASTO
DIA: 22 de Setembro de 2018
11.00 Horas – Descerramento de placa alusiva e deposição de uma
coroa de flores junto ao seu busto, na Vista Alegre (Ílhavo);
11.30 Horas – Visita ao Museu da Vista Alegre:
Conferência pela professora doutora Isabel
Nobre Vargues
13.00 Horas - Almoço
15.00 Horas – Visita guiada
ao Museu Marítimo de Ílhavo.
► JOSÉ FERREIRA PINTO BASTO [1744-1839] - NOTA BREVE
José
Ferreira Pinto Basto nasceu no Porto [a 16 de Setembro de 1744].
Era o filho primogénito de Domingos José Ferreira Pinto Basto [proprietário e
grande comerciante, com casa comercial estabelecida no Porto; o seu pai, Manuel
Ferreira Pinto, era natural de S. Jorge de Abadim, Cabeceiras de Basto, pelo
que Domingos José Ferreira Pinto acrescentou ao nome o de “Basto” – cf.
Enciclopédia Luso-Brasileira; ver, ainda e principalmente, Carlos Bobone,
“História da Família Ferreira Pinto Basto”, Livraria Bizantina, 1997, II vols,
obra que seguimos de muito perto] e de Maria do Amor Divino da Costa [filha de
um importante comerciante do Porto, António José da Costa] e teve como irmãos, entre
outros, António Ferreira Pinto Basto [1775-1860] e João Ferreira Pinto Basto
[1788-1854 ?], originando uma curiosa, próspera e influente família burguesa
[com brasão de armas, Alvará de D. João VI, 12 de Setembro de 1818, justamente
a José Ferreira Pinto de Basto – ver “Resenhas das Famílias Titulares e Grandes
de Portugal”, 1883, tomo I, p. 164], uma verdadeira dinastia comercial e industrial, e uma nova classe política, como
outras mais surgidas durante e após o processo da implantação, triunfo e consolidação
do liberalismo português.
José
Ferreira Pinto Basto, juntamente com o
seu pai e seus irmãos, António e João, e o seu primo Custodio José Teixeira
Pinto Basto [1774-1849], fundou a casa comercial “Domingos Ferreira Pinto,
Filhos & Ferreira”, na cidade do Porto, núcleo original da sua própria caminhada
financeira. Os negócios da família Pinto Basto prosperavam, o génio empreendedor
do seu filho mais velho estava individualmente lançado (em especial depois da
morte, em 1820, do seu pai).
Entre 1809 e 1837, o grupo Pinto Basto disputa e toma o lugar de contratador-geral dos Tabacos e das Saboarias e, para essa função, José Ferreira Pinto Basto vai residir em Lisboa [1817; mandou construir a Casa dos Arcos, na Boavista, para sede dos seus negócios, comprando o vasto terreno conhecido pelos “Prazos da Marinha da Boavista”, de onde partiam os seus navios para o Brasil e o Oriente] para dirigir esse lucrativo negócio do monopólio dos tabacos [enquanto o seu irmão António e o seu primo Custódio ficam á frente do contrato no Porto, e o seu irmão João se instalava em Inglaterra – cf. Carlos Bobone, ibidem]. De 1817 a 1828 o monopólio dos tabacos é dominado pela família Pinto Basto [diga-se que para renovar o contrato dos tabacos oferecia a família á volta de 1.700 contos ao governo, o que dá conta do volume e importância do negócio], até à sua perda com a contra-revolução absolutista. O miguelismo não lhe perdoaria o seu liberalismo militante e afasta a família Pinto Basto da poderosa administração dos Tabacos. Não deixa de ser curioso que, tendo perdido o contrato dos tabacos (fraudulentamente, diga-se, pois ofereceu melhores condições) a favor do negociante João Paulo Cordeiro, de boas graças governamentais, José Ferreira Pinto Basto tenha recorrido ao temível panfletário e publicista corcundático José Agostinho de Macedo, untando-lhe as mãos para esgrimir argumentos a favor das suas pretensões. Como seria de esperar, o padre “Lagosta” rapidamente muda de “amo” e torna-se fiel defensor do vitorioso arrematante governamental, tendo dele recebido uma “confortável pensão vitalícia” [Carlos Bobone, ibidem].
Não
esmoreceu, no entanto, José Ferreira Pinto Basto durante o período do miguelismo
apesar do rude golpe sofrido no seu império pela perda do contrato dos tabacos
ou até quando era ferozmente atacado pelo panfletismo corcundático [em sua
defesa surge o “Paquete de Portugal”, escrito por Rodrigo Fonseca Magalhães].
Continuou a desenvolver e modernizar os seus negócios no comércio e indústria,
em especial alavancando o negócio da Vista Alegre. Nova situação, porém, o põe
em aberto conflito com o governo. Este, face ao descalabro financeiro do país, impôs
um empréstimo obrigatório aos principais homens de negócios, tendo, por isso, a
família de José Ferreira Pinto Basto sido “taxada” com 16 contos. Recusou, de
imediato, pelo que lhe foi dada ordem de prisão e consequente pena de desterro
em Mirandela. Sabedor do que o
esperava, refugiou-se a bordo duma fragata francesa, ancorada no Tejo,
regressando dias depois. Refira-se que, durante a Abrilada, já tinha sido preso
por ordem do intendente da polícia, o barão de Randufe, com a acusação de ter
facilitado a fuga a José da Silva Carvalho para Londres. Estava, portanto,
precavido.
Isto
é, na verdade José Ferreira Pinto Basto teve, ao longo da sua vida, uma frenética
e modernizadora actividade empresarial: grande proprietário [herdou do pai
importantes terras em cabeceiras de Basto, em Miramar (quinta do Espírito
Santo); comprou depois, a quinta do paço da Ermida, da Vista Alegre, do
Silveiro (Oiã), do Rol (Ançâ), a de Foja (Montemor-o-Velho), o convento da Costa
e sua tapada (Guimarães), a quinta das Grades Verdes (Granja), a quinta do
Malvedo (no Douro), a quinta de Nogueira (Mogadouro; tinha pertencido aos
Távoras), a quinta de Queluz (Lisboa), as herdades da Defesa de Barros e do
Montinho (Avis), outras herdades em Fronteira, bem como numerosos prédios em
Lisboa e no Porto; destacado industrial, dirige a indústria do tabaco, de sabão,
de moagem (Aveiro), de soda (Ílhavo), toma posição no comércio marítimo, é encarregado
de companhias de seguros, dirige a venda de papel selado em todo o país, é
sócio da Companhia das Vinhas do Alto Douro, torna-se um activo e prospero industrial,
sendo de realçar a sua magnum opus,
a fábrica de porcelana da Vista Alegre (1824), em Ílhavo. Na verdade, o
singular modo como esta fábrica era gerida profissionalmente e humanamente,
torna-a objecto de estudo, quer no avançado conceito de “centro de produção”,
quer no envolvimento associativo e recreativo [e já agora, político; partiu
daqui uma brigada liberal – o temido batalhão da Vista Alegre, comandando por
Alberto Ferreira Pinto Basto e o diretor fabril João Maria Rissoto - que
combateu militarmente o cabralismo, em 1846, na Maria da Fonte; ficou a fábrica
9 meses sem os seus trabalhadores e administradores] dos seus trabalhadores,
que ia desde a habitação operária [o bairro operário da Vista Alegre é o
primeiro do género no país], um Colégio com internato, a oficina de música,
teatro ou capela. A organização social desta empresa diz muito do espirito
modernizador, avançado e progressista de José Ferreira Pinto Basto. Funda a
Associação Mercantil [de que foi seu presidente], depois denominada Associação
Comercial de Lisboa, promove a fundação da Companhia de Pescarias Lisbonenses,
integra a Sociétè General des Naufrages et de L’Union des Nations, foi sócio
fundador da Sociedade Promotora da Industria Nacional (1822)
José
Ferreira Pinto Basto foi um entusiasta e intransigente liberal
[curiosamente o seu irmão António, com quem se incompatibilizaria – até á sua
morte – politicamente e comercialmente, colocando mesmo fim aos negócios empresariais
conjuntos, era defensor das ambições de D. Miguel – consultar Carlos Bobone,
ibidem, p. 29], mantendo um relacionamento constante e intenso com os grandes
vultos do liberalismo vintista [como Palmela, José Ferreira Borges, Silva
Carvalho, Rodrigo da Fonseca Magalhães, Duarte Guilherme Ferreri, Almeida
Garrett, José Liberato, os Irmãos Passos, José Estevão]. Pertenceu (1822) à
influente e poderosa Sociedade Literária Patriótica de Lisboa [ver a importância
das Sociedades Patrióticas, AQUI]. Refira-se que o seu filho, José Ferreira
Pinto Basto Júnior integrou a, também, poderosa e “revolucionária” Sociedade
Patriótica Lisbonense (ou clube dos Camilos; 1836), que, além de outros propósitos,
debateu questões ligadas á indústria e exportação, tendo sido extinta
oficialmente pelo Conselho de Ministros, na eclosão da revolta de Setembro,
desse ano.
Foi deputado, quer às Cortes Constituintes de 1837
(por Aveiro), quer em 1838 (pelo Porto) e senador pela cidade de Aveiro. Combateu
os cartistas, militando (como seu filho) ao lado dos setembristas, sendo um dos
seus mais destacados obreiros – sobre este assunto consultar Carlos Bobone,
op.cit., p. 39 e ss.
A sua fortuna permitiu-lhe apoiar os exilados
liberais portugueses, fugidos ao despotismo miguelista, como José da Silva
Carvalho, José Liberato Freire de Carvalho, José Ferreira Borges ou Almeida
Garrett. Registe-se que, após ter recusado a proposta de adiantamento do
pagamento de 115 contos em troca da futura adjudicação do contrato de tabaco,
que lhe foi colocada pelo governo liberal de D. Maria II no exílio, perante a
assinatura do barão de Quintela [que aceitou a proposta] não ter sida
reconhecida internacionalmente, foi unicamente pelo seu aval que foi garantido
o bom pagamento e o acesso aos fundos necessários para se dar inicio à
expedição vitoriosa contra o usurpador D. Miguel – cf. Carlos Bobone, ibidem.
Era cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo (1803)
e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Por alvará de 8 de
Fevereiro de 1826 foi nomeado fidalgo-cavaleiro. Prestou valiosos serviços
públicos, em especial o seu contributo para o estabelecimento do porto franco
de Lisboa, a sua notável acção á frente da provedoria da Casa Pia, foi secretário
do Conservatório Real de Lisboa.
Morre a 23 de Setembro de 1839, na sua casa junto a
Santo Amaro, à Junqueira.
J.M.M.
2 comentários:
Muito bem!
Manuel Seixas
Grato pelo comentário e corrigenda. Cumprimentos JMM
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