sábado, 31 de agosto de 2013

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS EM PORTUGAL (Apontamentos Históricos – Parte I)


Num momento difícil que atravessam os nossos bombeiros, com incêndios, acidentes, feridos e mortes que abalam várias corporações e lembrando que hoje, 31 de Agosto de 2013, decorre um movimento de apoio às corporações de bombeiros pelo País, procuramos aqui lembrar a fundação de algumas das corporações de Bombeiros Voluntários mais antigas que se organizaram em Portugal. Certamente que não conseguiremos falar de todas, nem da forma exaustiva que alguns gostariam, mas algumas já têm a sua História enquanto corporação investigada e publicada, outras têm notas históricas de que nos socorremos para a realização desta pequena pesquisa, que esperemos sirva também para chamar a atenção para as dificuldades por que passam algumas destas associações e, sobretudo, as pessoas que as compõem.

As corporações de bombeiros terão sido organizadas de forma mais consistente a partir do reinado de Luís XIV, em França, e quando ele nomeia Demourier du Perier como Director das Bombas. Este organizou um corpo de bombeiros na cidade de Paris, com uma feição militar, com uniforme e com um soldo pago pelo Estado.

Em Portugal, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa foi instituída em 18 de Outubro de 1868, tendo como primeiro comandante Guilherme Cossoul, cargo que ocupou até à sua morte em 26 de Novembro de 1880. No comando da corporação seguiu-se depois Darlaston Shore, que se conquistou importantes apoios populares devido aos actos de heroísmo que manifestavam nas diferentes intervenções de combate aos incêndios pela cidade. Este veio a falecer em Março de 1887, seguindo-se no comando da corporação John B. Jauncey que se manteve até ao início do século XX. A sede dos bombeiros dividia-se entre a rua das Flores e no largo do Barão do Quintela. Em 18 de Outubro de 1902, quando a associação completava 34 anos, realizou-se um importante banquete de homenagem aos associados Ruy Quintella e Guilherme Maia pelos seus serviços, bem como um banquete realizado no primeiro andar da Praça Luís de Camões, a que assistiram todos os bombeiros no activo e grande número de associados. Nesse mesmo dia foi publicado um número único O Voluntário que, ao longo da publicação apresentava os retratos de todos os elementos no activo da associação. Sobre os Bombeiros Voluntários de Lisboa encontram-se dados úteis Aqui, ou Aqui.

No Porto, a Associação de Bombeiros Voluntários foi instituída em 1875, depois de a ideia da sua criação ter sido alimentada entre outros por Alexandre Theodoro Glama a partir de 1870, sendo acompanhado pelo amigo, e mais tarde cunhado, Abílio Augusto Monteiro e, a partir de 1872, por Hugo E. Kopke e Walter C. Kendall. Esta associação era sustentada por quotas pagas pelos associados e pelos protectores, com subscrições públicas e donativos feitos por alguns benfeitores. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto foi criada em 26 de Agosto de 1875, tendo-se constituído em associação em 26 de Agosto desse ano, numa sessão realizada no Teatro do Príncipe Real. Os estatutos da associação foram aprovados em 18 de Setembro de 1875. A sede situava-se na rua do Bomjardim, no denominado Páteo do Paraíso. O primeiro comandante da corporação foi Guilherme Gomes Fernandes, que foi oficialmente nomeado comandante em 11 de Julho de 1877 [nasceu na Baía em 6 de Fevereiro de 1850 e faleceu em Lisboa, em 31 de Outubro de 1902; foi comandante dos bombeiros até 1885, depois Inspector dos Serviços de Incêndio. Participa em várias competições internacionais de bombeiros, como em Londres em 1893, de Lyon, em 1894 e vence o concurso Internacional de Bombeiro, em Vincennes, em 1900]. Sobre os Bombeiros Voluntários do Porto encontram-se referências úteis Aqui  ou Aqui.

A Real Associação de Bombeiros Voluntários da Ajuda foi fundada em 10 de Abril de 1880. Foi seu primeiro comandante foi o Infante D. Afonso. Recebeu o alvará de Real Associação em 2 de Maio de 1881. A funcionar como sede uma parte do próprio Palácio da Ajuda.


Na cidade de Setúbal, a 19 de Outubro de 1883 um grupo constituído por Henrique Augusto Pereira, Artur Mena, Álvaro José Baptista, António Avelino Silva e Joaquim José Correia, juntamente com os senhores Manuel Maria Portela Júnior, Joaquim Caetano da Veia e Alfredo Portela, foram reunir-se numa sala do Clube Dramático, onde deliberaram convidar mais outras pessoas para uma nova reunião a realizar no Domingo 21 de Outubro de 1883 com o fim de fazer a eleição dos Corpos Gerentes da Associação dos Bombeiros Voluntários de Setúbal e lavraram uma acta de instalação da mesma associação. Sobre a História mais detalhada dos Bombeiros em Setúbal sugerimos a consulta AQUI .

[Em continuação]

A.A.B.M.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ARCEBISPO E MAÇON - O PADRE MARCOS ...


AUTOR: Francisco Carromeu;
EDITORA: Colibri, 2013 (Agosto/Setembro), 354 p.

O Estado que se refunda com as revoluções liberais exige a uma geração de portugueses a invenção de um novo contrato social, que junte a Nação, as instituições, a História e o progresso. Ao período que vai de 1820 e 1851, pede-se que se olhe com os olhos desse tempo e não com os do Antigo Regime que já passara ou com os do futuro que se não podia prever. Nele, ergueram-se os alicerces desse Portugal Moderno, difícil, controverso e confuso, muitas vezes gerador de equívocos que se foram repetindo na historiografia que se lhe seguiu. O padre Marcos esteve em todos os momentos decisivos desse período, interveio em todos eles, foi decisivo em alguns e tornou-se uma figura incontornável da sua inteligibilidade. Esteve na reforma do Estado e da Igreja e nunca considerou que fosse incompatível as suas condições de cristão e maçon, tendo chegado a Arcebispo de Lacedemónia e grão-mestre da Maçonaria portuguesa” [ver AQUI]

O livro de Francisco Carromeu é muito importante [como se compreenderá pelo brevíssimo percurso biográfico que nos atrevemos a apresentar sobre o padre Marcos] pela lacuna existente sobre esta “curiosa figura da nossa época constitucional” [cf. Manuel Pinheiro Chagas] e que lançará, decerto, “luz” sobre este “defensor acérrimo” dos direitos constitucionais do vintismo.   

O Padre Marcos [aliás Marcos Pinto Soares Vaz Preto] nasceu em Sesimbra a 30 de Dezembro de 1782. Seguindo [cf. A.H. Oliveira Marques; cf. Carlos H. G. Loureiro, “O Padre Marcos e o liberalismo”, Sesimbra, 1939] a carreira eclesiástica, professa o hábito da Ordem de Santiago, estuda filosofia em Évora, é prior de Alhos Vedros (1816-21) e da freguesia da Pena (1822-23), de onde é afastado e proibido de exercer.

Partidário das ideias liberais (já em 1808 se suspeitava que era autor de publicações clandestinas liberais, em Sesimbra), foi desterrado em 1823 (pela Vilafrancada) para Mesão Frio [Trás-os-Montes] e proibido de pregar. Com a chegada de D. Miguel, clandestinamente embarca (1828) para França, seguindo para o exílio em Inglaterra. Aí dirige os periódicos liberais, “Português Emigrado” (1828-29) e o “Paquete de Portugal” (1829-31). Acompanha as forças liberais de D. Pedro IV, que conhece na viagem para os Açores (1831-32), tornando-se seu confessor e pregador (bem como da rainha D. Maria II), desembarcando no Mindelo. Foi provedor e vigário geral do Patriarcado de Lisboa (1834), arcebispo de Lacedemónia (1835) e prior da Colegiada de Guimarães (1848). Esteve como deputado nas legislativas de 1834-36, 1942-46 e 1848-51.
O Padre Marcos pertenceu (1823) à Sociedade Patriótica Gabinete de Minerva [sociedade que a que pertenciam vários militares]. Foi maçon, iniciado em loja desconhecida [A.H.O.M.], com n.s. de “Filemon Fabrício”, tendo sido obreiro da Loja Regeneração nº338 (entre 1838-42) do REAA, sendo seu Orador (1841), loja essa que pertencia à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês. Esta Loja [instalada em 1837, em Lisboa, e extinta em 1872, era predominantemente ritualista, tendo entre os seus obreiros figuras como António Feliciano de Castilho (s. Chénier) ou Jorge Figanière e Mourão (s. Hector)] não deve ser confundida com a primitiva Loja “Regeneração”, fundada em 1797/8 e que se integrou no GOL (com o nº2) em 1804, tendo depois suspendido os seus trabalhos por várias vezes, extinguindo-se em 1823. Por último O Irmão “Filemon Fabrício” foi Grão-mestre da Loja Provincial do Oriente Irlandês, entre 1842-1851.

Morre o padre Marcos a 6 de Dezembro de 1851, em Lisboa.

J.M.M.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ANTÓNIO JOSÉ LOURINHO - DEPUTADO CONSTITUINTE POR PORTALEGRE


ANTÓNIO JOSÉ LOURINHO - o primeiro Presidente da Câmara de Portalegre depois do 5 de Outubro de 1910

“Nasceu em Ribeira de Nisa, Portalegre, a 30-4-1858, e morreu em Lisboa a 23-3-1917.

Estudou no Seminário de Portalegre e concluiu o Curso Superior de Letras [1885]. Professor no Liceu de Portalegre e no Seminário, colaborou nos periódicos Comércio do Alentejo, O Distrito de Portalegre e A Plebe, que dirigiu depois de 1911, e foi correspondente de O Século.

Antigo membro do Partido Progressista, aderiu ao Partido Republicano por volta de 1892 sendo já nesse ano candidato a deputado. Ficou célebre a polémica que manteve em 1890 com Trindade Coelho e que quase deu origem a um duelo entre ambos.

Católico convicto, amigo de D. Manuel Enes e de João de Deus, foi um conferencista nato, proferindo palestras nas associações locais, nomeadamente durante a crise motivada pelo Ultimato (1890), gozando ao mesmo tempo de grande prestígio entre a classe operária.

Foi um dos fundadores da Sociedade União Operária (1896), da Creche João Baptista Rolo e da Associação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre (1898). Procurador à Junta Geral do Distrito e reitor do Liceu, depois do 5 de Outubro presidiu à primeira comissão administrativa republicana do município portalegrense, que abandonou para tomar assento nas Constituintes de 1911 como deputado.

Foi eleito senador em 1915. Manteve-se no PRP, mesmo após a sua divisão, e presidiu à respectiva Federação Distrital" [ler AQUI]

via António Ventura Facebook

J.M.M.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

[TEXTO] CELEBRAÇÃO OFICIAL DA REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1820 E DE HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS, NA FIGUEIRA DA FOZ


[EXTRACTO] TEXTO LIDO NA CELEBRAÇÃO OFICIAL DA REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1820 E DE HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS NO DIA 24 DE AGOSTO DE 2013, NA FIGUEIRA DA FOZ, pela Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto.

"Faz hoje 193 anos que um punhado de heróis ajustou o ideal da santa liberdade, iluminado pela tolerância, à obra legislativa constitucional de um Portugal que se queria novo e regenerado, resultante da alevantada jornada de 24 de Agosto de 1820 na cidade do Porto.

O glorioso movimento vintista que alastrou a todo o país, libertador da intervenção e opressão férrea do estrangeiro, lançou, passe o seu apostolado utilitarista e apesar do seu malogro pela restauração absolutista de Junho de 1823, as sementes das reformas por que irá passar doravante a sociedade portuguesa, marcando o debate (jamais encerrado) entre Liberdade e Autoridade, a questão do arbítrio do Estado e dos privilégios sociais.       

De entre os notáveis de antanho, cintila a estrela luminosa do nosso patrício Manuel Fernandes Tomás, “um cidadão extremado, um homem único, um benemérito da Pátria, um libertador do povo escravo”, como tão bem dele soube dizer o poeta Almeida Garrett.

É portanto a figura do ilustre regenerador da Pátria, Manuel Fernandes Tomás, a “alma e o cérebro da revolução de 1820”, o honrado e impoluto servidor da causa pública, o filho mais querido, ilustre e venerado da Figueira da Foz que a todos e a cada um de nós cumpre hoje evocar.

A Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto tem o grato prazer de se associar à Homenagem a Fernandes Tomás - que todos os anos a edilidade tem, com brilho, vindo a promover nesta data - e honrar desta forma a figura veneranda desse homem de bem, livre e de bons costumes. O exemplo benemérito e civilizador de Manuel Fernandes Tomás vale hoje a pena e vale sempre a pena rememorar.

Mas se os nossos maiores nos encheram de alegria pelas suas virtudes, contributos e ensinamentos, cabe-nos em testemunho de memória, estima e gratidão fazer ecoar as suas sábias palavras no rigor austero e de muitas dificuldades que são estes atribulados tempos em que vivemos. E Manuel Fernandes Tomás, pela sua vida (de probidade e integridade), pensamento político e obra pública, legou-nos um património que persiste, acrescentando “uma página à história das idades”, uma dívida nacional sustentada no seu humanismo iluminista e secular e materializada nos grandes ideais de liberdade e justiça, que convinha de todo não esquecer.

O auspicioso levantamento de 1820 propunha, nas palavras de Fernandes Tomás, “a salvação da Pátria através da razão e da justiça” e de uma “revolução dos espíritos”, projecto esse alicerçado na forte solidariedade da opinião pública, perante a ruína do país, o descontentamento e mal-estar generalizado da população para com uma regência obscura e ditatorial.

O “Manifesto aos portugueses”, redigido por Manuel Fernandes Tomás, após o movimento de 24 de Agosto, em nome da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, justamente, assim o refere: “… Uma administração inconsiderada, cheia de erros e de vícios, havia acarretado sobre todos nós toda a casta de males, violando nossos foros e direitos, quebrando nossas franquezas e liberdades e profanando até esses louváveis costumes que nos caracterizaram sempre desde o estabelecimento da monarquia e que eram porventura o mais seguro penhor de nossas virtudes sociais[…]

Mas na verdade, e apesar disso tudo, o país não estava preparado para o processo revolucionário liberal que se seguiu ao pronunciamento militar de 24 de Agosto e por isso tão rápido caminhou para o seu colapso pela contra-revolução. Porém, o certo é que não deixou de se assistir, nesse período, à construção de novas referências jurídicas e constitucionais, na defesa da liberdade civil e garantias dos cidadãos, pela soberania da nação e no império da lei. Por isso os ideais liberais e progressivos da revolução vintista deixaram a sua semente luminosa e estiveram na base da construção do futuro estado constitucional republicano, dignificando os seus intervenientes e recompensando os seus “trabalhos e fadigas”.

Por isso vale a pena, hoje e sempre, lembrar como foi elevado o pensamento de Fernandes Tomás, tão generoso o seu cumulado idealismo e posição política e bem altiva a liberdade exortada pelo nosso ilustre confrade.

Nesse sentido cabe aqui, por fim, relembrar a intervenção de Manuel Fernandes Tomás na sessão das Cortes, do dia 5 de Outubro de 1821:

Se os direitos que o homem tem no estado da natureza são os da suma liberdade, se esta liberdade se lhe coarcta quando entra no estado da sociedade, é certo que, pretendendo-se opor limites maiores a esta liberdade que aqueles que o homem conveio que se lhe pusessem, necessariamente há-de resistir contra quem, querendo-lhos pôr, lhe tira uma parte dos seus direitos”.

Iluminados pelas memoráveis palavras de Manuel Fernandes Tomás e fazendo nossa a causa que tão virtuosamente abraçou, dizemos bem alto

Viva a Liberdade!                                       

[Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, Figueira da Foz, 24 de Agosto de 2013]

FOTO de M.C., com a devida vénia

J.M.M.

CAUSA DOS FRADES E DOS PEDREIROS LIVRES NO TRIBUNAL DA PRUDÊNCIA (1821)


[José Máximo Pinto da Fonseca Rangel] CAUSA DOS FRADES E DOS PEDREIROS LIVRES NO TRIBUNAL DA PRUDÊNCIA, Porto, Imprensa do Gandra, 1821, 61(4) p. [outro exemplar é datado de 1822, Lisboa, pela Typ. Rollandiana]  

"Este opúsculo anónimo é da autoria do militar e poeta José Máximo Pinto da Fonseca Rangel, implicado na chamada conspiração de Gomes Freire de Andrade em 1817, e por breve tempo ministro da Guerra em 1823. Esta é a primeira edição (Porto, Imprensa do Gandra, 1821). Oliveira Marques refere a segunda edição, no ano seguinte, em Lisboa. Desta obra escrita em defesa da Maçonaria, sob a forma de um diálogo entre Paulo e Emílio, transcrevemos este curioso excerto. Já na época se recorria a escribas mercenários e serventuários:

«Bem sabeis, e nenhum homem hoje ignora, que os autores das revoluções são os ministros e conselheiros, que em nome dos reis tiranizam e oprimem os povos; estes, que são racionais, e não jumentos, quando a carga é insuportável, forcejam por sacudi-la; reage então a Natureza. Eis o rei se assusta; pergunta a causa; o maligno conselheiro, ou o ministro, que a deu, desculpa-se com os pedreiros-livres; e para que esta calúnia seja verosímil, compra de antemão algum escritor venal para ralhar dos maçons a torto e a direito».


José Máximo Pinto da Fonseca Rangel nasce em 1770 [ou 72?] em Santa Marinha do Zêzere (Baião) – cf. A.H. de Oliveira Marques, in História da Maçonaria em Portugal, …, e Dicionário de Maçonaria Portuguesa. Filho de João Pinto Ribeiro da Fonseca (do Porto) e de Matilde Rosa da Fonseca Rangel.

Era primo [cf. Inocêncio F. Silva] de José Ribeiro Pinto, “alferes de infantaria nº16, justiçado em 1817 na chamada conspiração Gomes Freire”, e maçon, que foi preso em Guimarães. Ao ser escoltado para Lisboa, já perto de Santarém, Ribeiro Pinto aproveita uma distracção do oficial que o levava, tira-lhe a arma e “desfecha-a contra o peito, ferindo-se gravemente” [Raul Brandão, “A Conspiração de 1817”, p. 153].

Refira-se – de acordo com o Acórdão da Relação de Outubro de 1817 que condenou à morte a 18 de Outubro de 1817 [dois dias antes da sua publicação] o general Gomes Freire de Andrade e outros onze mártires - que José Ribeiro Pinto foi denunciado [sendo que, dos principais delatores da presumida tentativa de sublevação de Gomes Freire e seus companheiros, três deles eram maçons, como José de Andrade Corvo de Camões (Loja Virtude), Pedro Pinto de Morais Sarmento (Loja Filantropia, Santarém) e João de Sá Pereira Ferreira Soares (Loja Filantropia)] como um dos principais instigadores da sociedade conspiradora, dita como “Conselho Regenerador” [fundada em Fevereiro de 1817].

José Máximo Rangel foi bacharel, oficial do exército (Infantaria e Artilharia) desde 1794 [ibidem], participa na campanha do Rossilhão, é nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo (1802); iniciado na maçonaria, é em 1808 membro fundador e secretário do Conselho Conservador de Lisboa [associação paramaçónica fundada a 5 de Fevereiro de 1802, com o “objectivo de lutar contra a ocupação francesa”]; foi preso em 1809 e 1810 (na setembrizada – vide “A Conspiração de 1817”, de Raul Brandão) e em 1817, na consequência dos acontecimentos em torno da “Conspiração Gomes Freire” na qual foi apontado como um dos sublevados, tem ocasião de fugir (alertado por um padre) de uma quinta em Trás-os-Montes, onde se encontrava, exilando-se em Espanha (aí ficando até 1818). Na ocasião escreve mesmo aos governadores dizendo-se vítima de “calúnia” e que “está desligado até da sociedade maçónica” [Raul Brandão, ibidem, p. 215].   

Após o 24 de Agosto de 1820, pertence à Sociedade Patriótica Portuense (fundada em 1820), tendo sido nomeado Governador do Castelo de S. João da Foz, no Porto (1822-23; 1827-28); foi deputado à Cortes, pelo Porto, em 1822-23 e 1826-28; entre a saída de D. João VI de Lisboa (Maio de 1823) e a Vilafrancada, é encarregado do Ministério dos Negócios da Guerra, tendo-lhe sido depois estabelecida residência fixa na sua quinta em Baião (Guimarães).

José Máximo Rangel durante a contra-revolução Miguelista vive escondido (1828-1932), falecendo em Lisboa a 24 de Março de 1832. Refira-se que a sua família, na tentativa de não revelar o local onde estava refugiado, colocou o seu corpo à porta de uma igreja.

Tem várias obras publicadas, algumas sob anonimato. Refira-se: Poesias (1793); “Templo da Memória” (poesia); “Severo exame do procedimento dos portuguezes …” [anon.], Lisboa, Imp. Regia 1808, 16 p.; “Desengano feliz, ….”, Impr. Regia, 1809; “Catalogo por copia, extrahido do original das sessões e actas feitas pela sociedade de portuguezes, dirigida por um conselho intitulado ‘Conselho Conservador de Lisboa’ e installada n'esta mesma cidade em 5 de Fevereiro de 1808, para tratar da restauração da patria. Lisboa, na Imp. Regia (1808? 9?), 94 p. [José Máximo Rangel era, como foi referido, secretário do seu Conselho]; “A Batalha de OTTA, entremez heróico” [anon.], 1808, 12 p.; “Projecto de guerra contra as guerras, offerecido aos chefes das nações europeas”, Coimbra, Imp. Univ., 1821, 24 p.; “Pernicioso poder dos perfidos validos, destruido pela Constituição”, Imp. Univ., 1821, 22 p.; “Causa dos frades e dos pedreiros livresno tribunal da Prudencia”, Porto, Impr. do Gandra, 1821, 61(4) p.; “Vantagens do soldado portuguez”, Lisboa, Imp. Nacional, 1823.

J.M.M.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES THOMAZ



HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS [com biografia, notas sobre a sua descendência e sobre o seu monumento erigido na Figueira da Foz], 24 de Agosto de 1911


NA SENTIDA MORTE DE MANOEL FERNANDES THOMAZ Um dos Regeneradores da Pátria EPICEDIO, por Eusebio Pereira da Câmara Trindade Estudante de Mathematicas na Universidade de Coimbra, Coimbra Imprensa da Universidade, 1822.

Consagrar à memoria dos grandes homens algum monumento de gratidão, mais que um estimulo da Natureza, é dever, que nos incube.

Manoel Fernandes Thomaz, assíduo laborador da nossa Regeneração Política, a quem não intimidarão as fogueiras horrorosas do campo de Santa Anna, insigne pelas suas qualidades, e mormente pelo zelo do bem da Pátria, é merecedor sem dúvida do nosso reconhecimento …

[ibidem] 

J.M.M.

MANUEL FERNANDES TOMÁS – RELATÓRIO FEITO ÀS CORTES GERAIS E EXTRAORDINÁRIAS DE PORTUGAL (1821)



MANUEL FERNANDES TOMÁS - "Relatório feito às Cortes Gerais e Extraordinárias de Portugal" (1821)

«Quando um governo, Senhores, trata os interesses dos povos pelo modo que tendes ouvido e que desgraçadamente é muito verdadeiro, fazendo ou consentindo que se façam males tão grandes, ninguém poderá deixar de confessar que ele é um governo mau; e, em tal caso, seria bem admirável que houvesse ainda quem se lembrasse de disputar à Nação o direito de escolher ou de fazer outro melhor».

Manuel Fernandes Tomás, "Relatório feito às Cortes Gerais e Extraordinárias de Portugal (1821)"
 
via António Ventura Facebook

J.M.M.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

GEOGRAFIA E ECONOMIA DA REVOLUÇÃO DE 1820



GEOGRAFIA E ECONOMIA DA REVOLUÇÃO DE 1820, de Fernando Piteira Santos, Europa-América, 1975, 183 p.

“… Três meses após a execução de Gomes Freire de Andrade e dos conspiradores de 1817 (…) inicia Manuel Fernandes Tomás os seus trabalhos revolucionários. A actividade conspirativa e preparatória dos ‘regeneradores’ tem lugar sob a alçada do alvará de 30 de Março de 1818, que expressamente declarou ‘criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas de qualquer denominação que elas sejam ou com nomes e formas conhecidas, debaixo de qualquer nome e forma que de novo se disponha ou imagine, pois que todas e quaisquer deverão ser consideradas, de agora em diante, como feitas para conselho e confederação conta o rei e contra o Estado' ..."

[F. Piteira Santos, ibidem]

MANUEL FERNANDES TOMÁS. A REVOLUÇÃO DE 1820 [recolha e notas de José Tengarrinha - contém um APÊNDICE com o transcrição do “Relatório do Estado Público de Portugal em 1820”, de M. Fernandes Tomás, e, ainda, vários dos seus Discursos Parlamentares], por José Tengarrinha, Ed. Caminho, 1982 [2ª ed. – 1ª ed. é da Seara Nova, 1974], 163 p.

… Fernandes Tomás dizia constantemente aos seus dois amigos [José Ferreira Borges e José da Silva Carvalho]: este estado de coisas [… a situação política, económica e social] é impossível que persista; há-de haver necessariamente revoltas e anarquia. Preparemo-nos para esse caso e formemos um corpo compacto que apareça nessa ocasião para dirigir o movimento a prol do País e da sua liberdade

[transcrição das palavras de Xavier de Araújo, retiradas do seu livro, “Revelações e Memórias" – citado por José Tengarrinha]  

J.M.M.

MANUEL FERNANDES TOMÁS – O PRIMEIRO DOS REGENERADORES



CATÁLOGO. EXPOSIÇÃO Bíblio-Iconográfica do Bicentenário do nascimento de MANUEL FRENANDES TOMÁS Promovida pela Câmara Municipal da Figueira da Foz em 11 de Dezembro de 1971 [pref. M. Lopes de Almeida], C.M.F. Foz, 1971, VII-61 p.

… na celebridade do herói da Revolução, há-de sobretudo reconhecer-se o conjunto de reais qualidades para o ser, em pleno vulto na Consciência dos seus concidadãos. Admirar-se, e mesmo venerar-se, a constância moral, a preparação e probidade intelectual, o recto proceder judicativo, a regularidade e imparcialidade do procedimento, a obediência estrita a quanto era devido à integridade dos predicamentos, a modéstia de viver em verdade indivisível. 

Homem assim, pôde ser respeitado e seguido pelos melhores da sua época, tão fértil de personalidades de suma importância e influência no conspecto total da vida pública, quando efectivamente se abrira em Portugal uma nova página na ‘história das idades’

[M. Lopes de Almeida, ibidem]

O PRIMEIRO DOS REGENERADORES. No Bicentenário do nascimento de MANUEL FRENANDES TOMÁS [contém um APÊNDICE com o transcrição do “Relatório do Estado Público de Portugal em 1820”, de M. Fernandes Tomás], por António Cruz, Porto, FLUP, 1973, 45 p.

… As virtudes cívicas que lhe eram particulares avultam em todo o acto a que ficou ligado o seu nome. Transferido do recato do seu lar para a exigência da vida pública, da pesquisa de feição pessoal para as páginas de volumes, permanece o mesmo: íntegro na observância do seu evangelho cívico, patriota sem jaça, regenerador voltado para o futuro e sem olvidar ou menosprezar, sequer, o rumo definido no passado

Estremadas qualidades o distinguiam entre os seus pares. Esse o fundamento, essa a razão bastante para afirmar que Manuel Fernandes Tomás foi, de verdade, no seu tempo e na elevação do seu pensamento, o primeiro dos Regeneradores 

[António Cruz, ibidem]

J.M.M.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DIA 24 DE AGOSTO - HOMENAGEM A MANUEL FERNANDES TOMÁS - FIGUEIRA DA FOZ


 
FIGUEIRA DA FOZ - 24 de Agosto de 1913 - HOMENAGEM a Manuel Fernandes Tomás e à Revolução Liberal de 1820

PROGRAMA GERAL:

18,00 Horas – Cerimónia Oficial de Homenagem a Manuel Fernandes Tomás, junto à sua estatua, na Praça 8 de Maio [Figueira da Foz]:

- Deposição de uma Coroa de Flores junto ao túmulo, em homenagem a Manuel Fernandes Tomás
 
INTERVENÇÕES:

  • Vice-Presidente da Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto;
  • Presidente da Associação Manuel Fernandes Thomaz;
  • Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Dr. João Ataíde.
ORGANIZAÇÃO – Câmara Municipal da Figueira da Foz, Associação Manuel Fernandes Thomaz e Associação 24 de Agosto


19,00 Horas:

CONFERÊNCIA - "Manuel Fernandes Tomás, a Maçonaria e a Revolução Libera";
ORADOR – Professor Doutor António Ventura (Departamento História FLUL)

LOCAL - C.A.E da Figueira da Foz (Centro de Artes e Espectáculos - Pequeno Auditório)
ORGANIZAÇÃO – Associação Cívica e Cultural 24 de Agosto, com apoio da CMFF e da Junta de Freguesia de S. Julião.

J.M.M.

REVOLUÇÃO DE 1820 – HERÓIS QUE FUNDARAM O SINÉDRIO


HERÓIS QUE FUNDARAM O CÉLEBRE SINÉDRIO … José da Silva Carvalho, Manuel Fernandes Tomás, José Ferreira Borges

A celebração do centenário da Revolução de 1820 constitui uma divida nacional. Impunha-se como um dever a todos os liberais. Dominava o país uma opressão traiçoeira; esmagava-o ai intervenção férrea do estrangeiro. Foi nestas circunstâncias que apareceram os patriotas de 20, como libertadores e como precursores. Clamaram-lhes e chamam-lhes ainda hoje ingénuos. Ingénuos, sim, para os que são incapazes de avaliar o espírito de sacrifico. E é esse espírito, que torna o homem cidadão e apostolo, o que mais e melhor caracteriza os heróis daquela revolução, digamo-lo sem favor.

Foi admirável a obra legislativa dos revolucionários de 20. Modificada, poderia ter sido aproveitada com vantagem pela nossa República, em vez do pandemónio das leis que nem se compreendem nem se cumprem.

Uma revolução quem principia por proclamar a liberdade de pensamento, a liberdade de imprensa, a abolição da censura previa, numa época de fanatismo e de reacção, tem foros adquiridos a uma consagração nacional. É uma divida a saldar pela República Portuguesa que é um reflexo daquele patriotismo e daquela abnegação

Sebastião Magalhães Lima, “Uma Dívida Nacional”, in “A LUZ”, Ano III, nº 98, 16 de Agosto de 1920, p. 1
 

SINÉDRIO: associação secreta para-maçónica, fundada no Porto em Janeiro de 1818, que interveio na organização da revolução liberal de 24 de Agosto de 1820. Os fundadores (todos maçons) foram, além de Fernandes Thomaz (pertenceu á Loja Fortaleza, à Loja Patriotismo, com n.s. Valério Publícola), José Ferreira Borges (advogado, pertenceu à Loja 24 de Agosto, n.s. Viriato), José da Silva Carvalho (advogado, juiz, Ministro da Justiça, da Fazenda e da Marinha, pertenceu à Loja 1º Outubro, Loja 15 de Outubro, foi Grão-Mestre do GOL, fundador do primeiro Supremo Conselho do Grau 33, n.s. Hydaspe) e João Ferreira Viana (comerciante, desconhece-se a que Loja pertencia).

 
Fizeram parte, posteriormente, Duarte Lessa (comerciante e proprietário, Loja ?, mas em 1823 era Cavaleiro Rosa-Cruz), José Maria Lopes Carneiro (comerciante e proprietário, pertenceu à Loja Sinédrio Geral de Beneficência, loja de perfeição do grau 16 do REAA, n.s. Loth), José Gonçalves dos Santos Silva (comerciante e proprietário, Loja ?), José Pereira de Meneses (comerciante, Loja ?), Francisco Gomes da Silva (médico, Loja ?), João da Cunha Souto Maior (magistrado, Loja ?, foi Cavaleiro Rosa-Cruz e teve o cargo de Grão-mestre do GOL), José de Melo de Castro Abreu Pereira (moço fidalgo da casa real, coronel de Milícias da Beira, pertenceu à Loja Fortaleza), José Maria Xavier de Araújo (magistrado, Loja ?) e Bernardo Correia de Castro Sepúlveda (oficial do exercito). No total eram 13 os elementos do Sinédriocf. A. H. Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal [AQUI já publicado por nós]


J.M.M

domingo, 18 de agosto de 2013

ANNUARIO DEMOCRATICO


ANNUARIO DEMOCRATICO (1910, 1º Ano da sua publicação) / propriedade registada de [Francisco] Gomes de Carvalho e Jayme de Souza Sebroza, Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho, 1909, 297 p.

O Anuário Democrático foi publicado em 1910, antes do triunfo da Revolução, pela Livraria Central de Gomes de Carvalho, de Lisboa. Trata-se de um volume interessante por registar nas suas páginas as estruturas do Partido Republicano com a composição das comissões distritais, concelhias e paroquiais, centros republicanos e outras associações. Para além disso, insere uma relação dos jornais republicanos em publicação. As informações que encontramos neste Anuário dependem, naturalmente, do seu envio ao editor, pelo que a organização do PRP que ali encontramos não é exactamente a que existia ao tempo. De qualquer forma, vale a pena a sua consulta

 
J.M.M.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

SÍLVIO LIMA [1904-1993]


Não há maior tortura que a solidão forçada” [Sílvio Lima – citado por Carlos Leone]

Sílvio Lima [Sílvio Vieira Mendes Lima] nasce em Coimbra a 5 de Fevereiro de 1904. Depois de fazer os seus estudos secundários [escreve um livro de poemas, "Maldades", 1921] ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, mudando posteriormente para a Faculdade de Letras, onde se licencia (9 de Julho de 1927) em Ciências Históricas e Filosóficas, com o seu incontornável "Ensaio sobre a ética de Guyau nas suas relações com a crise moral contemporânea".

Segue os estudos académicos [sob proposta do dr. Joaquim de Carvalho – de que foi assistente - e curiosamente de Gonçalves Cerejeira, com quem polemiza mais tarde – vide o ensaio filosófico, “Notas críticas ao livro do Sr. Cardeal Cerejeira, A Igreja e o pensamento contemporâneo”, Livraria Cunha, 1930, livro aliás, que, pela sua posição crítica, conduz a exoneração posterior de Sílvio Lima da Universidade], onde atinge raro brilhantismo na área da psicologia, estudando a “problemática da vida do inconsciente” (área pouco comum de análise académica), frequenta estágios no estrangeiro [Paris, Genebra, Bruxelas] e apresenta a sua dissertação para Doutor, com o tema, “O problema da recognição – estudo teórico-experimental”, nas provas do dia 29 de Junho de 1929, com aprovação de 19 valores. Torna-se professor auxiliar de Ciências Filosóficas [onde rege a cadeira de Psicologia Escolar e Medidas Mentais, na secção de Ciências Pedagógicas] em 1931. O ex-estrangeirado Sílvio Lima irá marcar o estudo e o ensino das ciências sociais em Portugal. O seu livro (raríssimo), logo apreendido pela censura, “O Amor Místico. Noção e Valor da Experiência Religiosa” (vol I) [Impr. U. Coimbra, 1935] trouxe ao debate anti-dogmático [temerário, diga-se, pelo impacto que teve na época] que manteve com o cardeal Cerejeira [seu antigo proponente, à iniciação académica] o inefável cónego Trindade Salgueiro [na altura professor de teologia no Seminário e mais tarde bispo de Elvas], que, de imediato [na revista "Estudos", do CADC, nº 93-96] condenou a obra ["invectivando o racionalismo" e sugerindo uma pretensa filiação maçónica de Sílvio Lima - cf. Miguel Real, Sílvio Lima - Filósofo sem Filosofia] e o autor [como todos os do meio católico fizeram], tornando-o objecto da repressão do regime.  

Republicano [“libertário, na sua perspectiva intelectual e sergiana, de tipo social e reformista” - cf. Luís Reis Torgal, “Estados novos, estado novo: ensaios de história política e cultural”, vol I] colabora no jornal “Gente Nova” [1927-28], órgão do Centro Académico de Coimbra (sob edição de Carlos Cal Brandão, e colaboração de Vitorino Nemésio e Paulo Quintela). Opositor ao regime da ditadura saída do 28 de Maio de 1926, é demitido – com base do Decreto-Lei nº 25317, como aconteceu a outros professores e intelectuais – pelo Estado Novo, do seu lugar da Faculdade, em 13 de Maio de 1935. Afastado de toda a vida escolar e universitária, escreve nos periódicos [O Primeiro de Janeiro, Diário de Lisboa], publica diversos ensaios sobre educação cívica e desporto, sempre numa abordagem filosófica.

É reintegrado [pelo então ministro Mário de Figueiredo, estando na pasta da Justiça o seu cunhado Adriano Vaz Serra] na Universidade a 22 de Janeiro de 1942, aí regendo a cadeira de “Teoria da História” [lições que circulam via sebentas, porque nunca foram publicadas], tendo-se aposentando em 1961. Durante esse período de regresso à Universidade a sua produção teórica na psicologia, pedagogia e teoria da história manifesta-se profícua, com a publicação de novas obras, intervenções em conferências e congressos, revelando mesmo uma curiosa atenção à produção literária nacional, com diversas recensões aos novos escritores.

Democrata, integra em 1945 o MUD, assina petições de oposicionistas presos (caso de Ruy Luís Gomes), fez parte da Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão [cf. Luís Reis Torgal, ibidem], apoia em 1962 a luta dos estudantes da Universidade de Coimbra, participa nas comemorações do 5 de Outubro. Em 1975 (1 6de Abril) é reintegrado como professor catedrático, aposentado, no que foi uma homenagem “ainda em vida” ao professor e intelectual.

Morre a 6 de Janeiro de 1993.

[A CONSULTAR]: Biblos, vol IV, Coimbra, 1979 | Paulo Archer de Carvalho, “Sílvio Lima, um místico da razão crítica (Da incondicionalidade do amor intellectualis”, Impr. U.Coimbra, 2009 | Obras Completas de Sílvio Lima, II vols, FCG, 2002 | Sílvio Lima, por Carlos Leone | Sobre Sílvio Lima, de EduardoLourenço | Sílvio Lima - Filósofo sem Filosofia, de Miguel Real

J.M.M.

domingo, 4 de agosto de 2013

O PADRE, A MULHER E O CONVENTO

 

O Padre, a Mulher e o Confessionário”, pelo ex-padre CHINIQUY [pref. de Carlos Babo]; Editado pela Livraria Triunfo, Editora, Rua Nova da Trindade, 38, Lisboa; 1935, 201 p.

… Segundo conta Plutarco – tendo sido Lysandro intimado por um padre a confessar-se, perguntou-lhe_

- É a Deus ou ao homem que eu me devo confessar?

- A Deus – respondeu o hierofante.

- Então retira-te, homem! – exclamou o general lacedemonio” [in pref. de Carlos Babo]

 
O Convento Desmascarado. Escândalos da Vida Conventual”, por EDITH 0’GORMAN [pref. de Cristina Torres]; Editado pela Livraria Triunfo, Editora, Rua Nova da Trindade, 38, Lisboa; s/d, 303 p.
 
J.M.M.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

EPÍSTOLAS AOS PADRES – CARLOS BABO


CARLOS BABO, “Epístolas aos Padres. 1ª Serie. Celibato Eclesiástico” [ao todo são vinte e seis curiosas epístolas]; Editado pela Livraria Triunfo, Editora, Rua Nova da Trindade, 38, Lisboa; Impressão: Sociedade Nacional de Tipografia, R. do Século, 50, Lisboa; 1932, 164 p.

“Todo o homem está sujeito às potestades ou forças da Natureza, pois destas não há nenhuma ‘que não venha de Deus’ – conforme deveis saber pelas palavras de Paulo aos romanos. ‘E as que há, foram por Deus ordenadas' – disse o mesmo apostolo.

Ora, se elas têm mais força e poder do que todos os ‘príncipes’, como haveis vós – ó padres – de lhes opor juramento – pois que as potestades ou forças da natureza exigem por determinação insuperável da própria vida, que é, afinal, efeito dessas mesmas forças ou potestades?!

E visto que Deus é a vontade geradora de toda a potestade, o apóstolo acrescenta (Epist. aos Romanos, C. XIII, V. 2): ‘aquele que resiste à potestade, resiste à ordenação de Deus. E os que lhe resistem, a si mesmo trazem a condenação’.

A Igreja de Roma – obrigando-vos ao voto de castidade – exige de vós, por isso mesmo, a promessa, por juramento, de que haveis de resistir às forças da natureza – às potestades superiores da criação, às potências que foram ordenadas por Deus, para a vida do homem sobre a terra, para a vida da própria Vida – pois nessas potestades, forças ou potências da Natureza do vosso corpo, da substancia da vossa carne, do calor do vosso sangue – está o renascimento constante da Vida!

Essas potestades que vos fazem estremecer tão misteriosamente a carne, são da mesma natureza daquelas que vivificam …. o grão de trigo, de que há de nascer a planta geradora de novos grãos!...

A Natureza ‘cumpra todos os vossos desejos’. E Gloria à Natureza ‘por todos os séculos e séculos’. Eu vos saúdo”.

[Carlos Babo, ibidem, p. 7.]
 
J.M.M.