segunda-feira, 31 de março de 2008
A TRADIÇÃO DA CONTESTAÇÃO - MIGUEL CARDINA
Foi publicado há alguns dias o trabalho de investigação de Miguel Cardina, intitulado A Tradição da Contestação. Resistência Estudantil em Coimbra no Marcelismo, na linha dos estudos recentes publicados sobre a contestação estudantil.
Num momento em que a educação está envolta em polémica interessa compreender os movimentos contestatários que recorrentemente acontecem, de forma mais ou menos organizada e com carácter pontual ou sistemático, envolvidos por ideologias políticas que marca(ra)m a sociedade portuguesa num época de transição. Partindo do estudo sobre a contestação ao Estado Novo nos últimos anos do salazarismo, mas particularmente, durante o marcelismo, na Universidade de Coimbra, Miguel Cardina retoma os estudos iniciados há cerca de duas décadas por investigadores como Maria Eduarda Cruzeiro, em 1990 ou Álvaro Garrido, em 1996, Luís Reis Torgal em 1999 ou mais recentemente Rui Bebiano, em 2003.
A contestação académica em Coimbra conquista alguma visibilidade no final dos anos 50, sendo a crise de 1962 um reflexo dessa situação e vai culminar com outro momento marcante em 1969, quando os estudantes são violentamente reprimidos. Este estudo trata do vasto processo de politização [que se constata] nas práticas e nos discursos estudantis, contribuindo de forma decisiva para a quebra de legitimidade que a ditadura experimenta no seu troço final.
Miguel Cardina (Nazaré,1978) é licenciado em Filosofia e Mestre em História das Ideologias e Utopias Contemporâneas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Investigador-Associado do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra onde prepara a sua tese de doutoramento sobre a construção da esquerda radical durante o Estado Novo.
Um trabalho que se recomenda vivamente.
A.A.B.M.
RELIGIÃO, NAÇÃO E ESTADO NOS 60 ANOS DE ISRAEL
Religião, Nação e Estado nos 60 anos de Israel: geopolítica e (des)encontro de "Civilizações"
Organizado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra- CEIS20, através do Grupo de Investigação "História Económica, Social e das Organizações", coordenado pelo Doutora Alda Mourão e o Centro Académico da Democracia Cristã de Coimbra (CADC) vai realizar-se no Auditório da Reitoria da UC, no dia 2 de Abril de 2008 o Colóquio "Religião, Nação e Estado nos 60 anos de Israel: geopolítica e (des)encontro de "Civilizações".
A escolha de Israel como pretexto para o debate em causa resulta do facto de em 2008 ocorrer o 60º aniversário da sua fundação; de se ter considerado que o passado e o presente daquele Estado do Médio Oriente integram, com uma exaustividade e uma intensidade inabituais, muitos dos dilemas - dos bloqueios e das possibilidades - observáveis para o conjunto da Humanidade ao longo da Época Contemporânea.
Na perspectiva de muitas individualidades e de inúmeros "cidadãos comuns", a fase actual da história da Humanidade seria marcada pela emergência de um "conflito de Civilizações"; pelo desagregar da confiança na democracia, no direito e nas instituições internacionais, no racionalismo e nos saberes de matriz científico-tecnológica. Em alternativa, assistir-se-ia à inevitável afirmação da hegemonia dos EUA enquanto "defensor político-militar do Ocidente", de um capitalismo neoliberal globalizado, de factores de intolerância e violência associados a "identidades exclusivistas" diversas (nacionais e religiosas, étnicas e socioeconómicas, sexuais
e etárias), de mundividências tradicionalistas ou de "utopias regressivas".
Segundo outras individualidades e múltiplos "cidadãos comuns", estar-se-ia, apenas, perante mais uma etapa do sempre plural e contraditório processo de evolução das sociedades humanas, no qual é possível referenciar diferenças e semelhanças, transformações e permanências, aspectos positivos e negativos; no qual o futuro continua a depender das escolhas realizadas pelos indivíduos, organizações e Estados ou associações de Estados. O colapso do "Bloco Comunista" não significaria, assim, nem o "fim da história e das ideologias", nem o alastrar irreversível do "islamismo radical" e a eternização da "guerra ao terrorismo".
O programa, para os interessados, está estruturado da seguinte forma:
9h30 - Conferência de abertura
The Past and Future of Israel
Alan Dowty, Professor Emeritus of Political Science (University of Notre Dame, USA)
11h00 - 1.º Painel
Religião, Nação e Estado
Comunicantes:
Fernando Catroga (Fac. Letras da U.C. )
“A secularização da ideia de «povo eleito»: história e política”
João Carlos Loureiro (Fac. Direito U.C. )
“Constituições e tribulações de Israel”
Moderador:
Joaquim Gomes Canotilho (Fac. Direito da U.C.)
14h30 - 2.º Painel
Estado de Israel – História e Geopolítica
Comunicantes:
João Paulo Avelãs Nunes (Fac. Letras da U.C. )
Sionismo, Holocausto e eurocentrismo nas origens do Estado de Israel
Rogério Leitão (Fac. Economia da U.C. )
A União Europeia e o conflito Israelo-Palestiniano: entre cumplicidades e ambiguidades
Moderador:
Adriano Moreira (Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa)
16h45 - Mesa redonda
Encontro e Desencontro de «Civilizações»
Comunicantes:
José Oulman Carp (Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa); Peter Stilwell (Responsável do Patriarcado para o Diálogo Inter-religioso); Jorge Sampaio (Alto Representante da ONU para o Diálogo das Civilizações)
Moderador:
António Barbosa de Melo (Fac. de Direito da U.C.)
Organização:
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX
da Universidade de Coimbra – CEIS20
Centro Académico de Democracia Cristã – Couraça de Lisboa, 30 – Apartado 3024
3001-401 Coimbra
Tel.: 239 822 483 | Fax: 239 841 585 | E-mail: cadc@cadc.pt | url: www.cadc.pt
A.A.B.M.
sexta-feira, 28 de março de 2008
ARNALDO SIMÕES JANUÁRIO: 70 ANOS DEPOIS DA SUA MORTE
Arnaldo Simões Januário nasce em Coimbra a 6 de Junho de 1897. Barbeiro de profissão, militante operário e anarquista, morre no Campo da Morte do Tarrafal a 27 de Março de 1938 "vitimado por uma biliose anúrica sem qualquer assistência médica nem medicamentos, depois de vigorosos anos de combatividade e de sofrimento nos cárceres da ditadura e na deportação por diversas vezes" [in Perfil de Arnaldo Januário, revista Vértice, nº365-366, Junho-Julho, 1974]. A sua vida "é uma admirável lição de coragem e generosidade" [in CGT, Órgão Regional, 1947, ibid.].
Arnaldo Januário, de rara inteligência e acção, foi um propagandista e um organizador dos sindicatos e da luta operária, em Coimbra. Militante libertário da "União Anarquista Portuguesa", colaborou no jornal A Batalha, A Comuna, O Anarquismo, O Libertário e na revista Aurora [cf. Luís, Arnaldo Simões Januário]. É preso, pela primeira vez em 1927, na sequência da repressão que se abateu sobre o movimento operário depois do 28 de Maio de 1926. A partir dessa data e até 1931, diversas vezes foi privado da liberdade, passando pelas "cadeias do Governo Civil de Coimbra, Aljube, Trafaria, além de deportações em Angola, Açores e Cabo Verde, até ser internado no Campo de Concentração de Ué-Kussi ou Okussi em 22 de Outubro de 1931" [Vértice, ibid]. Em 1933 é posto em liberdade e regressa á sua cidade, Coimbra.
Não se deixando abater, física e ideologicamente, prossegue a sua campanha em prol do movimento operário e contra a ditadura. Não espanta, portanto, que apareça como um dos organizadores do movimento grevista e insurreccional de 18 de Janeiro de 1934, que na Marinha Grande e em Coimbra teve particular dureza repressiva. É referido [Id., ibid] que perante o "argumento do porrete" do PIDE Fernando Gouveia e seus esbirros, e em que a "maioria [dos grevistas] perdia os sentidos", tal a brutalidade e as torturas que lhes eram feitas, Arnaldo Januário, "num gesto nobre e altivo, declarou perante os seus carrascos que tomava inteira responsabilidade pela organização do Movimento Grevista que tinha por fim derrubar a ditadura". Tal facto determinou que apanhasse "tanta pancada que caiu sem sentidos em frente dos seus companheiros de cárcere, sendo ali, covardemente pisoteado pelos esbirros” [Id., ibid, aliás in Edgar Rodrigues, O Retrato da Ditadura Portuguesa]. É encarcerado no Aljube, depois vai para a Trafaria onde é julgado e condenado a 20 anos de prisão. Em Junho de 1934 é "enviado para o Forte de S. João Baptista, na Ilha Terceira". Aí, acusado de agitador juntamente com o também militante libertário Mário Castelhano, sofreu as piores ignomínias, em especial o ser enclausurado na célebre Paterna ("buraco aberto na rocha com 20 metros de profundidade e área de 5 metros quadrados, o tecto pingando agua dia e noite") durante 15 dias e 15 noites, sob o mando do esbirro Capitão Paz.
A 12 de Junho de 1937 é enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, (fundado pelo Capitão Manuel Martins dos Reis e pelo médico Esmeraldo Pais Pratas) onde "definhavam e morriam um a um homens que anos atrás representavam a elite operária do país, sob o olhar indiferente do director João Silva e de Seixas [agente da PIDE]".
Arnaldo Simões Januário, "lutador incansável que a tudo resistira, destruído física que não ideologicamente, sucumbe, enfim, a 27 de Março de 1938, rodeado dos cuidados possíveis dos seus companheiros mas sem os carinhos da família onde avultavam cinco filhos menores” [Id., Ibid].
J.M.M.
quinta-feira, 27 de março de 2008
EFEMÉRIDES - MARÇO DE 1908
EFEMÉRIDES – MARÇO DE 1908
Dia 1
Centro Capitão Leitão (Almada) – Reunião, em assembleia-geral, presidida por José Agostinho de Matos, para aprovar as contas de gerência do ano anterior e eleger os novos corpos gerentes.
Assembleia-Geral: José Malaquias, presidente; Francisco da Costa, vice-presidente; Francisco José da Silva e Francisco Caramelo, secretários; José Agostinho de Matos e José António Martins, vogais.
Direcção: José Justino Lopes, presidente; José Simões dos Santos, vice-presidente; Alfredo dos Santos Tenreiro e Abel da Costa e Silva, secretários; Evaristo Alves de Melo, tesoureiro; Joaquim Rodrigues Arado e Manuel da Graça e Sousa, vogais.
Conselho Fiscal: Joaquim Rodrigues Arado; Artur Pato e José Alves de Morais.
Dia 2
Torres Vedras – Constituição da Comissão Municipal do Partido Republicano. Efectivos: Júlio Vieira, comerciante, presidente; Augusto de Oliveira Martins, comerciante e proprietário, vice-presidente; Joaquim Marques Trindade, comerciante, 1º secretário; Honorato de Lima Lopes, comerciante, 2º secretário; José Anjos da Fonseca, comerciante, tesoureiro; Rufino de Carvalho, proprietário e Leandro Jorge, industrial, vogais. Membros substitutos: Manuel Augusto Baptista, industrial; Francisco Maria de Carvalho, proprietário; Vicente Martins, proprietário; Domingos Afonso, comerciante; António Alves, proprietário; José Machado Neto, comerciante; José António Lisboa, comerciante.
Comissão Paroquial Republicana de S. Pedro: Efectivos – Fernando Alves Rosa, comerciante, presidente; António Joaquim Teles, comerciante, secretário; Anselmo dos Santos Torres, industrial, tesoureiro. Substitutos: António da Silva, industrial; José da Silva Carnide, comerciante; Inácio dos Santos, industrial.
Comissão Paroquial Republicana de Santa Maria do Castelo: Efectivos – António Baptista da Costa, industrial, presidente; Frederico Rodrigues de Oliveira, escrevente, secretário; Florêncio Augusto das Chagas, industrial, tesoureiro. Substitutos: Cândido Ferreira, operário; Francisco Firmino, operário; Manuel Maria Laves, operário.
Dia 5
- A Comissão Municipal Republicana do Seixal, com sede na Rua Infante D. Henrique, 1, preparava-se para realizar uma reunião para tratar de assuntos gerais e eleitorais.
Dia 6
- Homenagem à professora e republicana D. Maria Veleda. Na Livraria Editora Gomes de Carvalho, sita na Rua da Prata, nº 158 a 160, preparava-se uma homenagem à escritora, digna professora e regente do Centro Escolar Republicano Dr. Afonso Costa, por iniciativa de um grupo de republicanos da Amadora.
- Em Alcântara fundou-se o Grémio Republicano de Alcântara, com sede na Rua Correia Guedes, 65, 1º. Este centro preparava-se para criar aulas de ensino nocturno e diurno, com prelecções sobre educação cívica, ensino laico e protecção aos pobres. Preparava também um conjunto de conferências para as quais estavam ainda a ser convidados oradores do partido.
Dia 8
- Associação do Registo Civil: Na sede esta associação, Travessa dos Remolares, 30, 1º, pelas 8 horas da noite, Augusto José Vieira, realizou uma conferência intitulada “Aspirações dos Livres-Pensadores”. Esta conferência servia para preparar o Congresso Nacional do Livre Pensamento.
- Viseu: grande comício republicano, onde terão comparecido cerca de 12000 pessoas. Participaram neste evento político os Drs. António Luís Gomes, António José de Almeida, Artur Leitão, Fernandes Costa, José Relvas e Carlos de Lemos. De seguida decorreu um banquete no Hotel Cadete, desta cidade, com mais de 50 talheres.
- Bensafrim (Lagos): Realizou-se um comício de propaganda eleitoral promovido pela Comissão Municipal Republicana de Lagos. Perante grande assistência da localidade e arredores, discursaram Francisco de Jesus Gomes, na qualidade de mais antigo republicano e presidente da Comissão Municipal Republicana de Lagos, o Dr. Jerónimo Cabrita Vieira Rato e José Júlio Lapelier Berger.
- Odemira: os republicanos da freguesia do Vale organizaram a sua Comissão Paroquial que ficou assim constituída: Efectivos – Joaquim Eduardo Júlio, António Eduardo Júlio e José Alexandre Simões. Substitutos –Joaquim Simões do Nascimento; António Vilhena e Joaquim António de Jesus.
Dia 9
- Reunião da Comissão Municipal Republicana de Alcácer do Sal para propor o seu candidato a deputado pelo círculo, sendo votado por unanimidade o Dr. José Jacinto Nunes.
Dia 10
- No concelho de Aviz realizou-se o registo civil de nascimento de uma menina de nome Ana, filha de Francisco Antunes Serra e de Miquelina Augusta. Foram testemunhas: Simão de Almeida Júnior e Francisco Dórdio Pais, todos do Ervedal.
Dia 11
- Golegã: realizou-se uma conferência republicana no novo teatro, ainda em construção, discursando o Dr. José Montez.
- Borba: reunião da Comissão Municipal Republicana que se ocupou da escolha dos candidatos a deputados nas próximas eleições.
Dia 12
Lisboa – reunião das comissões municipais e paroquiais dos círculos de Lisboa. Presidiu à sessão Tomás Cabreira, presidente da Comissão Distrital de Lisboa; Augusto de Vasconcelos, presidente da Comissão Municipal de Lisboa era vice-presidente e para secretários da sessão foram nomeados José de Abreu e João José Dinis.
Dia 13
- Lisboa: anunciavam-se os candidatos a deputados pelos círculos de Lisboa:
Círculo nº 15 - Oriental: Afonso Augusto da Costa; António José de Almeida; Augusto César de Vasconcelos Correia; Francisco Joaquim Teixeira de Queirós; e Pedro António de Bettencourt Raposo.
Círculo nº 16 – Ocidental: Alexandre Braga, António Aresta Branco, João Duarte de Meneses, Joaquim Teófilo Braga, José Relvas.
- Anunciava-se a realização de uma conferência na Figueira da Foz, no Centro Republicano José Falcão, onde seria conferencista Alves Sequeira, segundanista de Direito, que abordaria o tema das “Desigualdades Sociais”.
- Anunciava-se também a eleição para breve das Comissões Municipal e Distrital Republicana de Faro. Apontavam-se já como pertencentes à segunda os nomes de Estêvão de Vasconcelos, Ernesto Cabrita e de Silvestre Falcão.
- Realização de uma conferência em Oeiras, pelo sr. Gastão Rodrigues, na sala do Centro Escolar Republicano de Oeiras. O presidente da Comissão Municipal, Tomás Vieira Ramos, apresentou o conferencista.
Dia 14
- S. Bartolomeu de Messines: António Vaz Mascarenhas Júnior anunciava a filiação no Partido Republicano dos seguintes cidadãos: Patrício dos Reis Pires, negociante e Inácio Nobre Pereira, funileiro. Também em Olhão aderiu ao Partido Republicano o sr. Luís Lopes de Sousa.
- No Centro Republicano de Belém realizou uma conferência o dr. António José de Almeida.
- Agostinho Fortes realizou uma conferência na Sociedade Promotora de Educação Popular sobre Educação Cívica intitulada “A Evolução das Cortes”.
Dia 15
- Foram apresentados os candidatos a deputados republicanos pelo círculo de Beja. As comissões municipais e paroquiais de Beja escolheram como candidatos a deputados: Manuel de Brito Camacho, José Miranda do Vale, Dr. Augusto das Neves Baieta Barreto; Dr. António Francisco Colaço; Dr. José Jacinto Nunes.
- António José de Almeida realizou uma conferência no Centro Eleitoral Republicano de Belém. Presidiu a esta sessão de propaganda eleitoral o Dr. Pedro Roxa e secretariaram-na Joaquim André e Maurício Fernandes. Inaugurou-se nessa mesma data as aulas nesse centro.
- No Centro Alexandre Braga realizou-se uma sessão solene comemorativa do centro com a presença do Dr. Manuel de Arriaga e proferiram discursos na ocasião Alexandre Braga, João de Meneses, Alberto Costa, João Chagas e Boto Machado.
- No Centro Escolar do Socorro procedeu-se à distribuição de um bodo e prémios às crianças que frequentaram a 176ª missão das Escolas Móveis pelo Método João de Deus.
- No Grémio Republicano Federal, situado na Rua do Benformoso, 183, 1º anunciava-se a comemoração do 37º aniversário da 2ª Comuna de Paris. Foram convidados a participar na sessão António Ferrão,Dr. Máximo Brou, Agostinho Fortes,Urbano Rodrigues, Eugénio Vieira e Gastão Rodrigues.
- No Centro Republicano da Pena realizou-se uma assembleia-geral dos corpos gerentes do centro para discussão dos assuntos eleitorais.
- No Centro António José de Almeida realizou-se a eleição dos corpos gerentes que ficaram assim constituídos: Assembleia-Geral: Fernão Boto Machado, presidente; Manuel Dias da Costa Lima, vice-presidente; Tomás José de Aquino, 1º Secretário; Artur Hermógenes Ferreira; Agostinho Henriques Vasconcelos Fonseca e Manuel Martinho vice-secretários.
Direcção: Agostinho José Fortes, presidente; Luís de Oliveira Miranda Viana, vice-presidente; José Maria Gonçalves Morgado, tesoureiro; José Hemitério de Sousa Jordão, 1º secretário; Henrique dos Santos Costa, 2º secretário; Joaquim Henriques e José de Sousa Virote, vogais. Suplentes: Artur Pedro da Silva e Júlio da Costa Adão Júnior.
Conselho Fiscal: José Dias, presidente; José Ribeiro, secretário; Armando Filipe da Silva, relator. Suplentes: João Rodrigues Cebola; Augusto José de Góis e David da Silva.
- Na Associação de Operários Corticeiros realizou-se uma sessão de propaganda eleitoral republicana com a presença do Dr. Mendes Belo, João Fragoso e outros correligionários.
- Na sede da Associação de Compositores Tipográficos situada na Rua de S. Bento realizou-se uma conferência promovida pela Associação do Registo Civil, sendo conferente o sr. Ribeiro Braga. Anunciava-se já a realização de outras conferências para os dias seguintes sendo intervenientes o sr Boto Machado, tendo estas lugar na sede da Sociedade Promotora de Educação Popular subordinada ao tema: O Congresso do Livre-Pensamento: Liberdade, Descentralização e Sufrágio Universal.
[Na fotografia Augusto de Vasconcelos discursando num comício rpublicano em 1908. Retirado, com a devida vénia, do Arquivo Fotográfico de Lisboa.]
A.A.B.M.
quarta-feira, 26 de março de 2008
A SITUAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO EM 1850
terça-feira, 25 de março de 2008
A POLÍTICA DO MEDO - POR BENTO DE JESUS CARAÇA
A política do medo
"Em que condições exerce hoje o professor o seu mister de ensinar? Pergunta capital, em cuja resposta vai muito da eficiência da Escola e do valor intelectual e moral do ensino. Posso afirmar, sem receio de exagerar, que essas condições se caracterizam essencialmente assim: deficiência de meios pedagógicos; deficiência de meios materiais da vida do professor; limitação das condições de independência mental dos agentes económicos.
O professor hoje, em Portugal, vive com dificuldades de vida e com medo, esse terrível medo que se apoderou da quase totalidade da população portuguesa. Tenho já o tempo de vida bastante para poder ter observado, durante mais de 20 anos, a evolução duma certa corporação científica, e ter verificado nela a instalação e o alastramento desse processo de destruição progressiva do professor português. E é preciso registar que, a despeito de casos isolados de resistência heróica, esse processo de destruição tem produzido os seus efeitos.
A coisa vai mesmo mais longe – a política do medo não atingiu apenas uma determinada camada social ou profissão. Não, essa política foi a todos os sectores da vida nacional e a todos os núcleos de actividade privada e pública, procurando transformar-nos num povo aterrado, reduzido à condição deprimente de passarmos a vida a desconfiar uns dos outros. Mas o que é curioso, nesta questão, é que, ao fim e ao cabo, não se conseguiu apenas que os pequenos tenham medo uns dos outros e dos grandes, ou os indivíduos tenham medo das instituições. O próprio Estado foi vitima do seu jogo e acabou por ser tomado de medo dos cidadãos ..."
[Bento de Jesus Caraça, in Intervenção feita da Sessão de 30 de Novembro de 1946, realizada pelo Movimento da Unidade Popular, na sala de A Voz do Operário, aliás in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, 1978, p. 203 - sublinhados nossos]
Foto: Bento de Jesus Caraça, retirada do blog Ruy Luis Gomes, com a devida vénia
J.M.M.
segunda-feira, 24 de março de 2008
JOSÉ ANTÓNIO SIMÕES RAPOSO (1840-1900)
Natural de Lagoaça, concelho de Freixo de Espada à Cinta, onde nasceu a 29 de Abril de 1840. Era filho de Martinho Caetano Simões Raposo e de D. Maria da Conceição Linhares Morgado Raposo, descendentes de famílias ilustres de Trás-os-Montes.
Aos 23 anos veio para Lisboa, foi frequentar a Escola Normal, então em Marvila, atraído pela sua irresistível vocação para o magistério. Estudante sempre muito laureado, obteve distinção nos dois cursos, elementar e complementar. Obteve as habilitações para as funções de professor de segundo grau pela Escola Normal. Foi professor na Casa Pia, provisor de aulas, sub-director (1877)e encarregado da organização, direcção e inspecção dos estudos. Elaborou diversos relatórios sobre a organização de estudos da Casa Pia e sobre diferentes trabalhos escolares. Destaca-se na Casa Pia por introduzir a progressão de estudos por classes graduadas pela primeira vez em Portugal e que se alargou progressivamente a todo o sistema de ensino. Pertencendo a uma geração de professores normalistas que contribuiram para a formação de professores.
Desempenhou ainda as funções de inspector escolar desde Outubro de 1880; foi ainda vereador da Câmara Municipal de Belém, com o pelouro da instrução. Eleito presidente do Grémio Popular de Lisboa, professor de Pedagogia e Métodos na Escola Normal do sexo feminino. Na Escola Normal, do Calvário, desempenhou funções de professor de Pedagogia, e defendendo, em especial, o ensino pelo Método de Froebel. Desempenhou também o cargo de inspector primário no Porto e apresentou-se como candidato a deputado na legislatura de 1887 pelo "professorado primário".
Era sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa e secretário da secção de ensino geográfico, da mesma sociedade, onde realizou conferências importantes. Foi um dos sócios fundadores da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses em 1880. Nesse mesmo ano fez parte da Comissão de Imprensa que se encarregou de promover o Tricentenário de Camões.
Foi enviado pelo Governo como emissário às exposições universais de Viena de Áustria e de Paris. Participou no Congresso Internacional Pedagógico de Bruxelas, e 1880, realizando, posteriormente, uma visita às Escolas Normais da Bélgica, França, Suiça e Espanha. Foi o representante de Portugal no Congresso Pedagógico de Madrid, em 1882, proferindo algumas conferências em castelhano. Participou como conferente no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, de 1892, a convite de Bernardino Machado.
Era sócio honorário da Associação Geral do Professorado Espanhol, tendo sido eleito numa sessão extraordinária da assembleia-geral. Para lhe poder ser conferida esta homenagem, foi necessário alterar os estatutos da referida Associação, porque esta distinção só podia ser concedida a cidadãos espanhóis. Oficial da Academia Francesa, agraciado pelo Governo francês, em virtude da qualidade dos trabalhos apresentados pelos alunos da Casa Pia, na secção portuguesa da Exposição Universal de 1878. Trabalhos esses que mereceram ser arquivados e guardados no Museu Pedagógico de Paris.
Pertenceu a muitas comissões oficiais encarregadas de questões pedagógicas. Por decreto de 1 de Julho de 1880, foi criada uma comissão para organizar e propor os projectos de regulamentos e programas de ensino primário, onde pontificavam entre outros Luís Filipe Leite, José Joaquim da Silva Amado, Dr. Luís Jardim (conde de Valenças), para além de José António Simões Raposo e outros.
Nos últimos anos da sua vida dirige a Escola Normal Primária de Lisboa.
Faleceu em Lisboa a 18 de Junho de 1900.
Colaborou nas seguintes publicações:
- Boletim do Clero e do Professorado;
- Gazeta Pedagógica;
- Revista Pedagógica;
- Ensino Livre;
- Anais de Instrução Pública;
- Froebel;
- A Instrução Portuguesa;
- Revista Semanal do Clero e do Professorado;
- Clamor de Belém;
- Federação (A) escolar, 2.º ano, n.° 54, Número especial, impresso a azul, dedicado á Festa das Crianças, sob a dir. do inspector primário, José António Simões Raposo. Porto, 2 de Outubro de 1887, 4 pag.
- Festa (A) das crianças, 18 de Outubro. Jornal comemorativo da solene distribuição de prémios no Teatro Micaelense aos alunos de ambos os sexos das escolas oficiais e livres, que ficaram aprovados nos exames elementares e complementares no ano lectivo findo. Ilha de S. Miguel, Açores. Ponta Delgada, 1891, Tipografia Popular de Tavares de Resende, 4 innumeradas 27 pag., com colaboração de José António Simões Raposo, entre muitos outros que também fazia parte da comissão directora.
Publicou os seguintes títulos:
- Relatório das Aulas da Real Casa Pia de Lisboa, Lisboa, 1869; idem, 1874; idem, 1878; idem, 1881; idem 1882; idem, 1883; idem, 1884. Nestes relatórios destacam-se o primeiro, de 1869 e o de 1881, porque são os mais volumosos; o de 1869, apresenta um plano de estudos e no de 1881 os resultados obtidos desse plano;
- Tabelas ou Parietais de Leitura, Lisboa, 1866 (nova edição em 1884);
- Ciência para Todos..., Lisboa, 1870;
- Curso Elementar de Escrita, Lisboa, 1877 (reedição em 1880; 3ª ed. em 1882; 4ª ed. 1884);
- Instrução Popular, em três partes, intituladas – Primeiro, Segundo e Terceiro Livro da Escola, publicados em 1877, com gravuras; o Terceiro livro teve mais duas edições (1880 e 1881);
- Conferências Pedagógicas. Relatório das Conferências de Lisboa em 1883, etc. Lisboa na typ. de Matos Moreira, 1884;
- Conferências Pedagógicas do Porto, Porto, 1885.
- Henrique Augusto da Cunha Soares Freire, Selecta, Funchal, 1881, com introdução de Simões Raposo.
BIBLIOGRFIA CONSULTADA:
- Portugal. Dicionário Histórico, Corográfico, Geográfico, Heráldico, Numismático e Artístico, Dir. Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, vol. VI (Q-S), João Romano Torres Editores, Lisboa, 1912, p. 94-95.
- Tiago Moreira, "José António Simões Raposo", Dicionário de Educadores Portugueses, Dir. António Nóvoa, Asa, Lisboa, 2003, p. 1154-1156.
A.A.B.M.
domingo, 23 de março de 2008
1906 - CLASSIFICAÇÕES MENSAIS DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA
Instrução Primária – 4ª Classe
Classificações Mensais, da Instrução Primária (4ª classe), referentes a Fevereiro de 1906, de uma aluna do Colégio de Jesus, Maria, José, de Lisboa.
Disciplinas: Português, Doutrina Cristã, História Sagrada, História de Portugal, Corografia Portuguesa, Aritmética, Geometria, Escrita, Lavores, Francês, Conversação Francesa, Inglês, Piano, Desenho, Arranjo Doméstico.
[clicar na foto]
J.M.M.
A IMPORTÂNCIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA - POR JOSÉ FÉLIX HENRIQUES NOGUEIRA
Segundo José Félix Henriques Nogueira, em Maio de 1853, publicado no jornal A Revolução de Setembro, nº 3373, de 06-07-1853:
Não existe em Portugal ensino para o povo. O que aí se denomina instrução pública, é mais luxo de classificação, do que entidade real. A mesquinha, ignorada e por vezes solitária escola do campo, lá está para bruxulear sua luz duvidosa sobre a povoação de três ou quatro freguesias. Poucos contos de réis bastam no orçamento para satisfazer este momentoso encargo. De resto, quem faz caso de que o povo leia ou deixe de ler. Trabalhe ele, obedeça e pague - que tudo corre às mil maravilhas. É verdade que a ignorância o prejudica a cada instante, que os maus se aproveitam dela em seu prejuízo, e que todo o melhoramento lhe fica vedado. Mas isto toda a vida se viu. O povo não tem tempo para ler. É verdade que a ignorância o faz desprezar os seus melhores e mais importantes direitos políticos. Terras temos que os eleitores vão arrastados como presos de leva. Outras há em que nem eleições se fazem, à falta de quem saiba escrever. Mas também nisto não existe inconveniente. O santo sacramento da eleição celebra-se sempre. A diferença está em pouco. Em vez do povo, oficia o Governo. [...]
É verdade que a ignorância mantém o povo num estado mui vizinho da barbaridade, que com ela, não pode haver progresso nas artes, nem na administração, nem nos costumes. Mas estas coisas não são de primeira necessidade. O dinheiro corre para o Tesouro. As secretarias estão cheias de obra.Os quartéis regurgitam de operários. As prisões aumentam de povoação. Que mais se precisa? Não é esta uma civilização chapada? Será. Nós abominamo-la. E tanto mais a abominamos, quanto estamos convencidos que a felicidade pública, de todos os indivíduos e de todas as classes, depende dum vasto plano de educação, que permita a cada um o desenvolvimento das suas faculdades. Não é decerto com a marcha acanhada, egoísta e meticulosa dos governos de hoje, que tão importante conquista se há-de operar. Toca aos homens de coração filantrópico arredar os primeiros obstáculos que se opõem ao fiat lux e acender o farol que tem de guiar o baixel popular em sua perigosa derrota. É para eles que escrevemos estas linhas - e felizes nós se conseguirmos afervorar sua diligência para meter mãos à obra de tamanho e tão glorioso futuro.
Se a boa instrução é, como ninguém pode negar, uma fonte perene de interesses e de gozos para quem o possui, os livros são indubitavelmente o seu mais seguro depósito. Mas quão poucos dos nossos cidadãos sabem decifrar os mágicos caracteres de que estão cheias as suas páginas! À maior parte deles, a falta de mestres - ao pé da porta -vedou este conhecimento. A outros a cobiça e a rudeza dos pais e amos, serviu de obstáculo. A muitos a dificuldade e aridez do ensino desgostou desde as primeiras lições. Calcule-se por isto de que importância não é a invenção dum método para que pela simplicidade e agrado do seu processo, faz de cada sujeito medianamente instruído, um mestre, e de cada discípulo um leitor. O mestre não necessita de fazer profissão do ensino. Lavrador, artista, negociante, sacerdote, sábio; interrompe por uma hora, nas noites do Inverno, as suas tarefas - e cercado de vizinhos e amigos, de velhos e crianças, dirige-se a todos no caminho da ciência com benignidade e desinteresse. O discípulo não transtorna a sua carreira. Operário, pastor, caixeiro, trabalhador, criado de servir, tira ou pede para tirar essa hora, que tanto pode contribuir para a sua fortuna e de sua família, e vai à escola, apressado e contente como se fosse para uma festa. [...]
[Retirado de: José Félix Henriques Nogueira, Obra Completa, Tomo II, Org. António Carlos Leal da Silva, Col. Estudos Portugueses, INCM, Lisboa, 1979, p. 214-215. Itálicos e Negritos da nossa responsabilidade.]
A.A.B.M.
sexta-feira, 21 de março de 2008
A INSTRUÇÃO PÚBLICA E A REPÚBLICA - ALMANAQUE REPUBLICANO
A Instrução Pública e a República
"... a instrução pública é um arroteamento" [Alexandre Herculano]
Saber ler, escrever e contar, uma instrução pública popular – como direito e obrigação do Estado – e uma educação cívica de homens livres, estiveram sempre na alma socializante e romântica do republicanismo. Mesmo se o "saber ler, escrever e contar" fosse condição de uma técnica de aquisição, a doutrina republicana era entendida como "a entrada da vida" ou o "pão de espírito" que a educação portuguesa necessitaria e a administração republicana assim o exigia.
Na luta contra o analfabetismo, com a "instrução pública" função e domínio do Estado e, ao mesmo tempo, garantia do cidadão, em tal tarefa generosa e educativa, estão sempre presentes os princípios estimados do republicanismo: municipalismo, federalismo e associativismo. Para os republicanos "abrir uma escola, era fechar uma prisão", por isso a educação, no sentido de formar vontades, mentalidades ou "integração na civilização" [Bernardino Machado], era uma tarefa prioritária do ideário republicano.
O ensino livre, a difusão da cultura e o "associativismo educacional", tinham em mente, antes de mais, formar indivíduos, porque "Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias" (1911). A socialização do ensino tornaria os homens iguais, libertos e fraternos. A difusão da cultura pela educação fazia o homem. E o professor, "esse escultor de almas", entre a penúria pedagógica e a miséria salarial mas com esforço e entusiasmo, adere ao trabalho, à acção educativa e torna-se um propagandista da instrução pública.
Num momento particularmente difícil - como o de hoje - em que o ensino público e a educação são objecto da mais subversiva e assustadora contra-reforma, num estranho conúbio entre um economicismo doentio & as trapalhadas e os negócios da educação com interesses corporativos, o Almanaque Republicano - feito por dois professores devotos da instrução - irá publicar um conjunto de textos, documentos e memórias, acompanhadas de notas bio-bibliográficas, de pedagogos e professores que, com entusiasmo, participaram na causa comum da instrução pública republicana.
Saúde e fraternidade
J.M.M.
A.A.B.M.
quarta-feira, 19 de março de 2008
D. PEDRO V E AS OPÇÕES DA INSTRUÇÃO PÚBLICA
Nestes extractos percebe-se como os problemas do ensino, da instrução e da educação atravessavam dificuldades criadas pelos governantes que, não poucas vezes, pioravam ainda mais o ensino.
Retirado de: António e José de Castilho, Tributo à Memória de sua Magestade Fidelíssima D. Pedro V, O Muito Amado, Eduardo & Henrique Laemmert, Rio de Janeiro, 1862, p. 102 e 103.
A.A.B.M.
terça-feira, 18 de março de 2008
A INSTRUÇÃO PÚBLICA - POR ALEXANDRE HERCULANO
A INSTRUÇÃO PÚBLICA
[...] A história da nossa indústria é a da luta entre o trabalho e a administração. Quando os tem querido proteger os governos só têm sabido contrariá-los. Lede a pauta da alfândega, as leis dos forais, esse caos de leis incoerentes e parvas que se têm feito, e vereis sempre a mesma ignorância a transparecer em tudo ; ignorância dos princípios económicos gerais, ignorância da índole e necessidades do país. Não encontrareis nessa lastimosa história senão erros dos governos, esforços dos industriosos e agricultores: estes pagando sempre, aqueles enriquecendo-se e desbaratando a fortuna pública.
A história da instrução pública é semelhante às outras. As escolas superiores têm de estar em defesa permanentemente contra as agressões dos políticos ignorantes, que as consideram como inimigas suas irreconciliáveis. Fortes, porque são pela maior parte compostas de homens instruídos e respeitáveis pela sua integridade, têm podido, não só resistir aos ataques dos políticos de ofício, mas desenvolver-se , progredir, influir na instrução geral do país. As escolas primárias, a instrução do povo, a mais essencial de todas para o bem da nação essa, abandonada, esquecida, perseguida pelos tartufos políticos, e não tendo força para lutar com eles, sucumbiu, e hoje, podemos dizer, e com o coração opresso o dizemos, qua a não há. Temos muitos alferes, muitos tenentes, muitos generais, capacetes com penachos brancos na cavalaria, muitos soldados municipais agaloados, dourados, enfeitados; mas perceptores que ensinem a ler os filhos do povo, e lhes dêem as primeiras noções morais, padres virtuosos que propaguem os princípios suaves e eminentemente liberais da verdadeira religião, isso não temos nós; nem os nossos senhores tratam de preparar as coisas para que o hajam um dia.
A história do país é a condenação dos que nos têm governado. E será possível que, depois de tão longa quanto dolorosa experiência, os eleitores continuem a entregar os seus destinos áqueles que não têm feito senão erros ou vilanias? [...]
Alexandre Herculano, O País, 29-10-1851 in Opúsculos, Tomo 1, Questões Públicas - Política, org. Joel Serrão, Libraria Bertrand,Lisboa, 1983, p. 281.
[Nota: Passado mais de um século e meio, veja-se a actualidade deste texto e os problemas que aborda, são em muito semelhantes aos que se vivem nos nossos dias, no campo do ensino público. Os negritos e itálicos são da nossa responsabilidade.]
A.A.B.M.
domingo, 16 de março de 2008
FOLHETOS E OBRAS SOBRE A REPÚBLICA NA IN-LIBRIS
Folhetos e obras sobre a República na In-Libris
A In-Libris (Porto) apresenta no Catálogo do mês de Março, obras de Fernão Botto Machado e um conjunto de folhetos curiosos e raros sobre a República e o Estado Novo.
Registe-se o Manifesto Político do Centro Republicano do Porto [Porto, Sala das Sessões do Centro Eleitoral Republicano, 1 de dezembro de 1876], com as assinaturas impressas de Manoel Francisco Pereira de Sousa, José Joaquim Rodrigues de Freitas, Eduardo Augusto Falcão, José Jeronymo de Faria, Augusto Manoel Alves da Veiga, Augusto Luso da Silva, Tito Jorge de Carvalho Malta; uma 1 folha avulsa impressa "antes de 5 de Outubro de 1910", intitulada "Conjuras Reacionarias", com carta do Conde de Tovar e outra de José d’Azevedo Castelo Branco; rara folha volante de 5 de Outubro de 1910 da Liga da Mocidade Republicana do Norte, "Viva a República! 5 de Outubro de 1910! Saudámo-vos!"; o (raro) "manifesto oposicionista sobre as eleições distritais do Porto realizadas em 5 de Novembro de 1916 e paroquiais de 12 do mesmo mês e ano" da Federação Municipal Socialista do Porto [Typ. a vapor da Casa do Povo] intitulado "Ao Eleitorado Portuense! As Forças do Trabalho Submetidas a uma Prova de Consciência"; a "folha avulsa impressa em Vila Nova de Gaia, com três colunas em cada uma das duas páginas, tendo dois terços da primeira em prosa e o resto da folha, em versos populares relatando o que se passou desde a revolução de 5 de Dezembro de 1917, até à de 13 de Fevereiro de 1919" - "Os Crimes da Quadrilha Sidonista" - por Valentim Rodrigues Barroca [Vila Nova de Gaia. 23-2-1919]; uma folha avulsa "Carta ao Snr. Cardeal Patriarca, por José Manuel de Deus [Povo de Penafiel, 24 de Janeiro de 1932]; uma cópia dactilografada denominada "Carta Aberta ao Senhor Presidente da Comissão Provincial da União Nacional" (s.d.), assinada por António Almeida Santos, Carlos Adrião Rodrigues, Henrique Vasco Soares de Melo e José Santa Rita; a "Carta do Senhor Bispo do Porto, D. António ao Presidente do Conselho (No rescaldo da Campanha Eleitoral de 1958)" dirigida a Oliveira Salazar; uma folha-circular de Norton de Matos sobre as eleições presidenciais, com o título "À Nação" [Lisboa, Julho de 1948]; o documento policopiado, com diversas assinaturas, "Programa para a Democratização da República" [31 de Janeiro de 1961]; 2 cartas policopiadas de Cunha Leal [a Paulo Cunha e ao Dr. Castro Fernandes, ambas de 1965] a propósito da campanha eleitoral à Presidência da República do General Norton de Matos.
A consultar on line.
Foto: reprodução d'A Administração da Dictadura Clerical-Militarista, entrevista concedida pelo professor Anselmo Vieira ao jornal A Pátria, do Rio de Janeiro [26 e 27 de Outubro de 1929], Typ. Alliança, Rio de Janeiro
J.M.M.
sábado, 15 de março de 2008
JORNAL "AVANTE!" (CLANDESTINO) ON LINE
Jornal Avante! (clandestino) on line
Encontra-se on line a colecção completa (e muito rara) do Jornal "Avante!", orgão central do partido comunista português (PCP) que "orientou e mobilizou as lutas da classe operária e de todos os trabalhadores em pequenas e grandes batalhas contra o capital e contra o regime fundado por Salazar e prosseguido por Caetano", desde o 15 de Fevereiro de 1931 ao 25 de Abril de 1974.
Um verdadeiro e estimável serviço público. A consultar, aqui.
J.M.M.
sexta-feira, 14 de março de 2008
CENTRO DE ESTUDOS BOCAGEANOS
"Ler, contar e escrever" – mostra de livros escolares pelo Centro de Estudos Bocageanos
O Centro de Estudos Bocageanos apresenta, a partir de amanhã (dia 15, pelas 16.00h), na Biblioteca Municipal de Sétubal, uma mostra-exposição de livros escolares com o título "Ler, contar e escrever", com apresentação de Daniel Pires. A exposição, que decorrerá até ao dia 4 de Abril, é uma "homenagem ao Professor Primário".
Nota: o Centro de Estudos Bocageanos, associação sem fins lucrativos, com existência desde 1999, pretende "contribuir para a clarificação da personalidade de Bocage, divulgar a sua obra peculiar e colaborar na dinamização cultural da cidade de Setúbal". A associação que comemorou merecidamente, em 2005, o Bicentenário do falecimento de Bocage, pretende fundar em Setúbal um Museu da Educação, pelo que recolhe "manuais, documentos, fotografias e objectos escolares", para a constituição do seu acervo.
Com diversas publicações, uma página cultural mensal (coord. por Álvaro Arranja, António Chitas e Daniel Pires) publicada no jornal O Setubalense, várias exposições, palestras e conferências, o Centro de Estudos Bocageanos é um espaço e serviço de intervenção pública a seguir com estimada atenção.
Saber mais sobre o Centro de Estudos Bocageanos, aqui.
J.M.M.
ESTUDOS DO SÉCULO XX - CEIS20
Recebemos a informação que o Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX publicou recentemente o número 7 da Revista Estudos do Século XX. Neste número, dedicado ao tema global "O(s) tempo(s) dos media", encontram-se cerca de duas dezenas de artigos, publicados por alguns dos colaboradores regulares do Centro.
É Directora da Revista a Prof. Doutora Maria Manuela Tavares Ribeiro e Coordenadora deste número Prof. Doutora Isabel Nobre Vargues. Dividido em três subtemas, a revista conta com as seguintes colaborações:
Tempos e Transformações:
- Ana Teresa Peixinho, "Textos Jornalísticos de Eça de Queirós: o jornalismo oitocentista olhado pelo escritor/jornalista";
- Isabel Nobre Vargues, "Tesoura rolha e lápis: os tempos da censura e do combate pela liberdade de expressão em Portugal";
- Heloísa Paulo, " O jornalismo como alternativa. Os exilados e a sua colaboração nos jornais brasileiros";
- João Figueira, "Uma incursão no jornalismo português no Verão Quente de 1975";
- Isabel Ferin Cunha, " Lusofonia , Media e Conteúdos";
- Maria João Silveirinha, "Revisitar o passado na América: a " questão de ser mulher" no Jornalismo";
- María Arroyo Cabello, "La prensa española en la democracia (1982-2006): transformación, concentración y regionalización";
- Francisco Rui Cádima, "Jornalismo e Jornalistas em Portugal: Desafios, Limites e
Responsabilidade";
- Pablo Blesa Aledo, "El rapto de la democracia: oligarquías, mediocracia y globalización".
História e Memória:
- Lina Alves Madeira, "Nacionalismo e 'Americanismo' numa contenda jornalística. Aristides de Sousa Mendes e a comunidade portuguesa de S. Francisco;
- Luís Mota " O confronto ideológico nos primórdios do salazarismo: uma campanha contra a Escola do Magistério Primário de Coimbra";
- José Luís Lima Garcia "A propaganda colonial no início do Estado Novo: a acção do agente geral das colónias Júlio Garcez de Lencastre, entre os anos de 1932-1934";
- António Louçã e Isabelle Paccaud, " O Século com a Alemanha nazi (1934-1939)."; Sandra Duarte " A imprensa católica durante o Estado Novo: o caso da VOZ DO TRABALHO";
- João Rui Pita " A revista Notícias Farmacêuticas (anos 30 a 70);
- Ion Zainea "The World War II and Europe´s destiny in the notes of the journal from Portugal of Mircea Eliade (1941-1945;
Culturas e Medias
- Luís Costa Dias, " O papel do impresso na formação de uma cultura urbana de massas em Portugal";
- Fausto Cruchinho, " A televisão de Roberto Rosselini";
- Isabel Nogueira, "Considerações a respeito da crítica de arte e da sua função";
- Paulo Cunha, "O Público e o Novo Cinema Português";
- Paulo Granja, "Cineclubes e cinefília . Entre a cultura de massas e a cultura de elites".
A todos os interessados pela temática dos média e da comunicação, certamente encontrarão nesta revista muitas reflexões dignas de destaque. Uma excelente revista, de divulgação de trabalhos científicos, acessível para todos aqueles que gostam de estudar os meios de comunicação nas suas diferentes análises e interpretações.
A.A.B.M.
quarta-feira, 12 de março de 2008
EPITÁFIO - POR MIGUEL DE UNAMUNO [PARTE III]
EPITÁFIO - por Miguel de Unamuno [Parte III]
"O povo português tem, como o galego, fama de ser um povo sofrido e resignado, que tudo suporta sem protestar, a não ser passivamente. E, no entanto, há que ter cuidado com povos como esses. A ira mais terrível é a dos mansos. Nem me espanta que no complexo sentimento produzido pela notícia do regicídio, na alma dos portugueses aqui imigrados, entre em não pequena medida algo de orgulho nacional. Condenavam a execução, mas pareciam dizer: «vejam do que ainda somos capazes». Um destes imigrados, ao ler nos jornais que um dos regicidas era espanhol, deixou escapar este desabafo: «não, não, eram todos portugueses, tenho a certeza». Sem qualquer cumplicidade no acto, ainda que remota, ao serem surpreendidos pela notícia, orgulhavam-se de que na sua pátria tivesse havido homens com a coragem suficiente para levar a cabo essa execução terrível, da maneira como o fizeram, cara a cara e expondo-se, e não como Morral atentou contra os nossos reis no dia em que se casaram, tomando precauções para poder escapar-se.
E então eu disse a Guerra Junqueiro da diferença grande que existe entre os anarquistas galegos e catalães. Havendo como há em La Coruña, relativamente, tantos ou mais anarquistas do que em Barcelona – eu creio que mais -, na capital galega não tem havido atentados à bomba, desses perpetrados por um homem isolado actuando sem risco para si, enquanto na capital catalã os tem havido com deplorável frequência; por outro lado os operários de La Coruña já andaram, em consequência de uma greve, a combater a tiro nas ruas e de peito descoberto, coisa que não sucedeu em Barcelona. E o sangue português é o mesmo que o galego.
Portanto, nem o Rei D. Carlos nem João Franco conheciam o seu povo. E aquele demonstrou cabalmente não o conhecer nas suas famosas declarações ao redactor de Le Temps, declarações que constituíam uma verdadeira provocação à mansidão de um povo. Este dormia e rei e ditador juntos despertaram-no. É muito doloroso mas o certo é que a consciência dos povos adormecidos só desperta com actos de violência. E é ainda mais doloroso porque no comum dos casos não chega um abanão apenas; o dormente volta a adormecer, embora de um sono mais ligeiro e necessita de nova excitação. Mas pondo de parte o caso concreto, há que reconhecer todo o trágico da escravidão de um monarca.
Um presidente do Conselho de Ministros, um presidente da República, é um homem que se dedicou à política, escolhendo com mais ou menos consciência e determinação essa profissão; é alguém que procurou o lugar, apresentando a sua candidatura ou deixando que outros a apresentassem. Um rei, não. Um rei é um escravo de nascimento que, como quase todos os nascidos em escravidão, não têm força de vontade nem lucidez para se libertar das cadeias com que nasceu. Não seria terrível obrigar os filhos mais velhos a seguir a profissão dos seus pais? Não consideraríamos que era uma tirania intolerável? Podia falar-se de abdicações. Mas é muito raro, raríssimo, que os que nasceram para reis sejam capazes de abdicar. Aqui, em Espanha, abdicou do trono D. Amadeu; mas este secundogénito da Casa de Sabóia não nasceu para rei de Espanha nem para tal foi criado. E por isso não estava imbuído dessa espécie de honor régia de que os pobres reis são vítimas, como quase todos somos vítimas da honra especial da nossa profissão ou da nossa classe.
Escrevi uma vez, ao falar do socialismo, que compreendo perfeitamente que uma pessoa se faça socialista tanto por amor aos ricos como por amor aos pobres, pois o que liberta a estes da sua pobreza libertará aqueles da sua riqueza. Assim, compreendo que nas convicções republicanas de alguém pese um pouco um certo sentimento de compaixão pelos desgraçados dos reis, levando em conta que aquilo que liberta os bons povos dos maus reis libertará os bons reis dos maus povos. E é tal a condição dos reis que ninguém considera os atentados de que são vítimas ao mesmo nível de qualquer outro atentado a um particular. «São ossos do ofício», contam que disse D. Afonso XIII a seguir a um dos atentados contra si dirigidos. Se bem que o regicídio seja considerado crime, há que reconhecer que a maior parte das vezes é um crime de direito público, não de direito privado.
E neste caso concreto do regicídio de D. Carlos não se deve perder de vista que foi levado a cabo num país como Portugal, onde a pena de morte foi abolida há já algum tempo e onde chegou a haver distúrbios públicos para impedir que se executasse um condenado a ela. É mais uma prova do que é a ira do manso. Nesse povo brando, pacífico, sofrido e resignado, mas por dentro cheio de paixão, os crimes de sangue são raros, muito raros, raríssimos; mas entre os que ocorrem muitos parece haver que são mais atrozes e violentos do que aqui, em Espanha, onde por desgraça tais crimes são mais frequentes, muito mais frequentes do que lá.
Não tenho dúvida de que este epitáfio parecerá a mais de um leitor um tanto implacável e nada piedoso. Acredito, não obstante, que a suprema piedade é a da verdade e procurei dizer aquilo que dentro de dois, quatro ou vinte anos diria sobre esta morte. Um rei é sempre um sujeito histórico; como tal o considerámos. E a dor que a sua morte causa, mesmo nos seus parentes, próximos e amigos - quando os tem verdadeiros -, é uma dor histórica ou, melhor dizendo, é uma dor litúrgica e oficial. O terrível Fado, ao colocá-los fora da condição geral doméstica dos demais homens, colocou-os fora dos comuns
sentimentos domésticos. E para concluir cabe dizer: descanse em paz o infortunado D. Carlos, mas descanse Portugal também em paz. Se é que a um povo, e a um povo
como o de Portugal, se pode desejar descanso.
Salamanca, Fevereiro de 1908" [Miguel de Unamuno]
[pré-publicação de um texto de M. Unamuno, que faz parte da Antologia sobre esse importante pensador, intitulada "Portugal, Povo de Suicidas" e a sair brevemente sob edição da Livraria Letra Livre (com tradução de Rui Caeiro)]
J.M.M.
EPITÁFIO - POR MIGUEL DE UNAMUNO [PARTE II]
EPITÁFIO - por Miguel de Unamuno [Parte II]
"Mas de entre as muitas coisas, todas elas vergonhosíssimas, que ouvi acerca do infeliz monarca, a que porventura se me afigura mais grave, se bem que de um ponto de vista de moral corrente possa aos outros não o parecer, é que ele desprezava o seu povo. O pecado mais grave de D. Carlos, o seu pecado imperdoável, é que desprezava Portugal. Costumava dizer, falando da pátria onde reinava: Isto é uma piolheira. E assim como o Evangelho diz que pecados contra o Espírito Santo não têm remissão nem nesta vida nem na outra, assim é pecado irremissível o desprezo de um soberano pelo seu povo. A circunstância de não ser um homem privado de inteligência ou sequer vulgar, agrava a sua culpa a este respeito. O defunto D. Carlos não era um idiota nem se pode dizer que fosse uma inteligência inteiramente vulgar. O que ele foi sempre foi um egoísta astuto e um desenfreado gozador da vida. O seu corpo era reflexo da sua alma: nele o físico revelava o moral. Era do tipo de Falstaff.
E este desgraçado monarca fez uma espécie de pacto com João Franco, o ditador, a quem muitos agora culpam da morte daquele e do seu filho. Incluindo a própria rainha viúva. O pacto consistiu em que Franco daria ao rei aquilo de que este necessitava, ouro, justificando de uma ou de outra maneira os adiantamentos ou antecipações ilegais do Tesouro Público e aumentando-lhe a lista civil, e o rei daria a Franco o que a este apetecia com frenesi do monomaníaco: o poder.
Porque o apetite do poder que atingira Franco era uma verdadeira loucura. Recordando o que se conta do negociante Yanque ao dizer ao seu filho: my son, make money, honestly if you can, but make Money (meu filho, faz dinheiro, honradamente se puderes, mas faz dinheiro), - cabe dizer que o lema de Franco era: conserva o poder, honradamente se puderes, mas conserva-o.
Entre os portugueses que conheço, até os mais hostis ao ex-ditador reconhecem, quando falam serena e desapaixonadamente, que Franco tinha de princípio certas boas intenções e propunha-se, caso lhe fosse possível, introduzir ordem e rigor na desconcertada e corrompida administração pública portuguesa. Mas antes disso, e sobretudo, o seu propósito era exercer e deter o poder. Para lograr levar a cabo esses seus supostos bons propósitos havia um grande obstáculo, que era a própria causa do seu poder: ter transigido com as artimanhas do rei. É difícil cimentar uma administração honrada com um poder que deve a sua origem a uma violação da estrita honradez pública.
Franco cometeu imensos atropelos para reduzir o montante das dívidas do rei. E chamar-lhes dívidas é o menos que se pode dizer... No fundo, para o ditador tratava-se, mais do que ser honrado, de parecê-lo. A virtude era para ele uma arma. Ao serviço do seu frenético apetite de mandar tinha uma enorme dose de hipocrisia. Mentia com o coração na mão, segundo palavras de Guerra Junqueiro. Assim chegou a enganar muita gente acerca dos seus propósitos de regeneração económica. E contribuía para que nele acreditassem o facto de João Franco, sendo riquíssimo, dono de uma enorme fortuna pessoal, estar livre da suspeita de perseguir o lucro.
E ambos, o rei e o seu ministro, desconheciam o seu povo. O que nada tem de estranho, visto que o desconhecia - e continua talvez a desconhecer - a maior parte dos portugueses europeizantes ou europeizados e tão pouco o conhecemos muitos dos que, há algum tempo, atentamente o tomamos como objecto do nosso estudo".
(continua)
[pré-publicação de um texto de M. Unamuno, que faz parte da Antologia sobre esse importante pensador, intitulada "Portugal, Povo de Suicidas" e a sair brevemente sob edição da Livraria Letra Livre (com tradução de Rui Caeiro)]
J.M.M.
EPITÁFIO - POR MIGUEL DE UNAMUNO [PARTE I]
EPITÁFIO - por Miguel de Unamuno [Parte I]
[pré-publicação de um texto de M. Unamuno, que faz parte da Antologia sobre esse importante pensador, intitulada "Portugal, Povo de Suicidas" e a sair brevemente sob edição da Livraria Letra Livre (com tradução de Rui Caeiro)]
"Há uns oito dias atrás falava eu nesta cidade de Salamanca com o grande poeta português Guerra Junqueiro, que andava evitando presenciar os acontecimentos que já então se previa haviam de ter lugar. E falando-me do Rei D. Carlos, após salientar uma vez mais o rebaixamento moral desse pobre monarca que teve um fim tão trágico, acrescentou: «Não sei como isto vai acabar; mas acreditando, como acredito, que em Portugal há uma família a mais e que o Rei é um monstro de perversão, se eu daqui pudesse matá-lo com o pensamento, fá-lo-ia.» Poucos dias depois, anteontem, domingo 2, quando Guerra Junqueiro estava ainda nesta cidade, chegou a notícias do assassínio do Rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe.
Suponho que os meus leitores estão ao corrente dos acontecimentos. O rei, depois de abandonado por todos os políticos, que desconsiderara e ofendera, teve que colocar-se nas mãos de João Franco, que inaugurou uma era de ditadura e favoreceu as manobras reais, preparando a justificação dos adiantamentos que o monarca tinha conseguido do Tesouro Público. Dizia-se e repetia-se que toda a agitação em Portugal era uma tempestade num copo de água, obra unicamente dos políticos. Eu mesmo cheguei a acreditar nisso. No entretanto, o partido republicano crescia e ia engrossando com homens prestigiosos que para ele mudavam, vindos das fileiras monárquicas. Preparava uma sublevação popular para fins de Janeiro; foi denunciada a conspiração e os implicados foram presos e tiveram de fugir. E quando menos se esperava chega a notícia do assassínio do rei e do príncipe em Lisboa.
Disse-se que moralmente foi João Franco, o ditador, quem o matou. Eu creio ser mais exacto o que dizia Guerra Junqueiro: foi mesmo um suicídio.
O Rei D. Carlos - que Deus lhe perdoe - não precisava de João Franco para atrair a si o ódio do seu povo. Era quase unanimemente execrado. Tinha conseguido unir os seus súbditos num sentimento comum a seu respeito; um sentimento de ódio misturado com desprezo. Está correcto que de todos os lados a imprensa tenha condenado o assassínio; assim o pede a moral que professamos com maior ou menor sinceridade; mas como penso que acima de todos os amores se deve colocar o amor à verdade, tenho que dizer que os tiros sobre o rei partiram das próprias entranhas do povo português. E se a execução do Rei D. Carlos é execrável, é-o como o é a execução de qualquer réu. D. Carlos estava julgado e condenado pelo seu povo.
Estive por diversas vezes em Portugal. Convivi com muitos portugueses e a nenhum ouvi alguma vez defender o defunto rei. Não tinha, em rigor, um único partidário. Contavam-se a seu respeito coisas execráveis e horrendas. Ouvi a pessoas que com ele trataram, até a um que foi seu ministro, coisas realmente incontáveis em público
Oliveira Martins, esse enorme talento - acaso o mais robusto que Portugal teve no século passado -, deixou o Ministério dizendo que o rei era um monstro de perversidade. Há que ouvir contar as circunstâncias que precederam o suicídio de Mouzinho de Albuquerque, o herói de África, que ao regressar do seu governo colonial, rodeado de imenso prestígio, foi nomeado preceptor dos filhos do rei e acabou por suicidar-se.
Talvez a história algum dia venha a guardar alguma coisa de tudo isto - muito já a piedade ou o servilismo mergulhou no esquecimento - e a julgar o desgraçado D. Carlos".
(continua)
[Miguel de Unamuno, in "Portugal, Povo de Suicidas" (a sair em breve), Ed. Letra-Livre, 2008]
J.M.M.
sexta-feira, 7 de março de 2008
IN MEMORIAM DE JOEL SERRÃO [1919-2008]
In Memoriam de Joel Serrão [1919-2008]
Nasce na freguesia de S. António do Funchal, Funchal, em 1919. Aí conclui os estudos liceais e parte para Lisboa onde, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, se licencia em Ciências Histórico-Filosóficas. É professor sucessivamente em Viseu, Funchal, Lisboa [liceu Passos Manuel], exercendo depois funções docentes na sua própria Faculdade, em 1974. Foi Director do Centro de Estudos de História do Atlântico [Madeira], membro do Conselho de Administração da FCG, e em 1981 obteve o Premio PEN Clube Português de Ensaio com o seu trabalho "Fernando Pessoa: Cidadão do Imaginário".
Historiador impar, com obra vasta e estimada, cedo se aproximou da corrente dos Annales [de Bloch e Lucien Febvre]. Como investigador e ensaísta fez ao longo da vida incursões notáveis no estudo e evolução da história das ideias em Portugal [veja-se os trabalhos sobre Pessoa, Sampaio Bruno, Cesário, Antero, António Sérgio, Herculano] e no campo filosófico. Intelectual raro, cidadão exemplar, interveniente e livre, participa apaixonadamente no estudo, debate e divulgação das nossas raízes histórico-filosóficas, em especial o século XIX, pelo que muito se lhe deve.
Da sua copiosa obra, da qual emerge o seu Dicionário de História de Portugal, o rigor e a inteligência da investigação historiográfica está sempre presente.
Alguma Bibliografia: Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes-Rodrigues (1945) / O carácter social da revolução de 1383 (1946) / Sampaio Bruno: o homem e o pensamento (195?) / Da República: 1910-1935 (antologia de Fernando Pessoa, col. 1951) / Ultimatum e paginas de sociologia política (antologia de Fernando Pessoa, col. 1951) / O segredo da Aurora: noite natural e noite técnica (1957) / Temas de cultura portuguesa (1960) / Os cavaleiros do amor: plano de um livro a fazer: dispersos e inéditos de Sampaio Bruno (1960) / Dr. Jaime Cortesão. Notas bio-bibliográficas (1961) / Temas oitocentistas: para a história de Portugal no século passado (1962) / Lógica e teoria do conhecimento (c/ Rui Grácio, 1962) / Dicionário de história de Portugal (1963-68) / Notícias literárias de Portugal: 1780 (obra de José Anastácio da Cunha, 1966) / Antologia do pensamento político português: liberalismo, socialismo, republicanismo (1970) / Do sebastianismo ao socialismo em Portugal (1973) / Fontes de demografia portuguesa 1800-1862 (1973) / Cronologia geral da historia de Portugal (1973) / Ensaios, de António Sérgio (em parceria, 1974) / O sentido de Portugal segundo Fernando Pessoa (1978) / Das razões históricas dos fracassos industriais portugueses (1979) / Prosas sócio-políticas de Antero Quental (1982) / António Sérgio: uma antologia (1984) / O primeiro Fradique Mendes (1985) / Portugueses somos (198?) / Pequeno dicionário de História de Portugal (1987) / Nova História de Portugal (1987-1996) / Tendências gerais da filosofia na segunda metade do século XIX. Antero de Quental (1991) / Da situação da mulher portuguesa no século XIX (1987) / Da "Regeneração" à República (1990) / Obra completa de Cesário Verde (org., 1992) / Temas históricos madeirenses (1992)
Colaboração em periódicos e revistas: Revista Labor (Aveiro), Memórias da Academia de Ciências Lisboa (Classe de Letras, 1978/79), Colóquio Artes & Letras, Revista Pensamento (1930-1940, Análise Social, Congresso Internacional dos Estudos Pessoanos (Porto, 1979), Cadernos de Literatura (nº2, 1979), Studium Generale (Porto, 1980, nº0), Cultura, História e Filosofia (nº1, 1982) Actas do Colóquio Utopia e Socialismo em Portugal no sec. XIX (Paris, 1979), Homenagem a Jacinto Prado Coelho, revista Prelo, Atlântico (Funchal, nº2 1985), Arquivos do Centro Cultural Português, Paris, 1986, nº2), Boletim Cultural (Lisboa, 1976), Seara Nova, Revista da Historia das Ideias (Coimbra nº13, 1991), Jornal O Dia, Afinidades (19/20), Aqui e Além (Lisboa, 1945), Jornal Critica (1971), Estrada Larga (nº1 e 3, 1950), Gazeta Literária (Porto, 1952), revista Horizonte (quinzenário de Ciência, Técnica, Arte, Literatura e Critica, dir. Joel Serrão e ed. António Garcia Castilho, Lisboa, 1942-1943, X nurs), Itinerário (Lourenço Marques, 1941-1955, nº 52 e 60), Jornal das Letras , Ler (jornal das Letras, Artes e Ciências, de Lyon de Castro, 1952-1953), Mundo Literário (Lisboa, 1946-48), O Tempo e o Modo, Vértice, Vida Literária (suplm, do Diário de Lisboa, 1958 em diante ate 60).
J.M.M.
terça-feira, 4 de março de 2008
COLÓQUIO - IMAGINAR A EUROPA
A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), vai organizar, no âmbito da sua semana cultural, um colóquio internacional intitulado Imaginar a Europa, coordenado pela Prof. Doutora Manuela Tavares Ribeiro, que decorrerá amanhã, 5 de Março de 2008.
As Conferências irão abordar as diferentes visões da Europa - dos seus princípios e das suas realidades. Diversos olhares, várias vozes e uma comum inspiração - repensar a Europa.
O ciclo tem início às 9h30 com uma comunicação de Georges Contogeorgis, Professor da Universidade Panteion-Atenas, com o tema "L'Europe, quel avenir?". Seguem-se Peter Antes, Professor da Universidade de Hannover, com a comunicação "A vision of Europe : many religions in one political community". A terminar a sessão da manhã o Professor da Faculdade de Letras da U.C. e Investigador do CEIS20, Rui Cunha Martins, abordará o tema "Imaginário europeu: a evidência e os limites".
A tarde começará com Maria Fernanda Rollo, Professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa - FCSH-UNL, que vai abordar o tema "The American way: a construção americana da Europa no pós-guerra" seguida pelo Professor Luís Andrade, da Universidade dos Açores e Investigador do CEIS20, com "As relações transantlânticas - uma perspectiva açoriana". A Vice-Reitora da Universidade de Coimbra e Professora da FLUC, Cristina Robalo Cordeiro, encerra este Ciclo de Conferencias com a comunicação "A Europa em busca da sua alma".
Recomenda-se a todos os interessados pela problemática da Europa, a tivemos, a que temos e a que desejaríamos ter. Certamente, um espaço de reflexão muito interessante para partilhar conhecimentos e conhecer outras formas de abordagem da Europa e dos seus complexos problemas, num mundo que é cada vez mais global.
A.A.B.M.
O REGICÍDIO NA FLUC: CICLO DE CONFERÊNCIAS
Recebemos esta notícia que divulgamos a todos os interessados pela análise e interpretação dos acontecimentos ligados ao Regicídio. A FLUC vai assinalar, também ela, o Centenário do Regicídio organizando um conjunto de conferências coordenadas pelo Prof. Doutor Fernando Catroga, um dos grandes especialistas em Portugal sobre a evolução e desenvolvimento das ideias positivistas e do Partido Republicano.
O IHTI e o IHES da FLUC, em colaboração com o CEIS20 da UC, vão
organizar a seguinte iniciativa, coordenada pelo Prof. Doutor
Fernando Catroga (FLUC):
Ciclo de conferências sobre o Regicídio
Prof. Doutor Fernando Catroga, "O Regicídio de 1 de Fevereiro de
1908: e porquê?"
(5ª Feira, 06/03/08, 14h, Anf. II da FLUC, 4º Piso)
Prof. Doutor João Paulo Avelãs Nunes, "O Regicídio: de uma leitura
factualista a uma interpretação estrutural"
(6ª Feira, 07/03/08, 14h, Anf. II da FLUC, 4º Piso)
Prof. Doutor Vitor Neto, "O atentado de Serajevo e a Grande Guerra"
(2ª Feira, 10/03/08, 9h, Anf. I da FLUC, 3º Piso)
A todos os que possam acompanhar este ciclo, certamente muito interessante, e com novos contributos para a problemática do Regicídio.
Em nossa opinião, um ciclo de conferências a não perder.
A.A.B.M.
domingo, 2 de março de 2008
EXPOSIÇÃO SOBRE O REGICÍDIO NA BIBLIOTECA NACIONAL
A BN organiza uma exposição evocativa do acontecimento a que o Almanaque Republicano dedicou grande atenção durante o mês de Fevereiro: O Regicídio.
Inaugurada no passado dia 18 de Fevereiro, esta mostra bibliográfica estará patente até ao próximo dia 24 de Maio de 2008. Publica-se também o catálogo da exposição, que se recomenda, com apresentação do Director da Biblioteca Nacional, Jorge Couto, e organização e pesquisa coordenada por Manuela Rego, onde se encontra muita informação importante sobre os acontecimentos e sobre a sociedade portuguesa da época.
Com os votos de grandes sucessos para mais esta realização, que grandes paixões ainda desperta, conforme se verificou pelos acontecimentos que decorreram a assinalar o Centenário do Regicídio.
A.A.B.M.
EFEMÉRIDES DE FEVEREIRO DE 1908
Dia 1
- D. Carlos e o principe herdeiro Luís Filipe foram abatidos a tiro por um grupo de homens ligados à Carbonária. Deste grupo conhecem-se os nomes de Manuel dos Reis Buiça e Alfredo Luís Pereira da Costa , que foram abatidos na altura, e de José Nunes, Aquilino Ribeiro entre outros que participaram na conspiração.
Dia 8
S.Tiago do Escoural: Reunião da Comissão Paroquial Republicana que era constituída pelos cidadãos: Albino Vasques Fadista, António Gonçalves Matias Júnior, Flamínio António Abrantes, José Justo de Leão, José António Abrantes e José Joaquim Pisco.
Dia 15
Agostinho Fortes reliza uma conferência na Academia de Estudos Livres, Rua da Boavista, nº 140, 2º, sendo a última lição do curso de história pátria.
Dia 17
- Coimbra: Reunião das Comissão Municipal e Paroquiais do concelho, que resolveram desencadear “uma grande e activa propaganda do grande ideal, porque todo o bom português deve aspirar – a República – promovendo para isso sucessivas conferências no Centro Republicano e pelas povoações rurais".
- A Comissão Paroquial Republicana de S. Teotónio (Odemira) que tinha sido um baluarte republicano desde 1880, mandou imprimir mil exemplares da Cartilha do Zé Povinho, de José Falcão.
- A Comissão Paroquial Republicana de Cacia (Aveiro) inaugurou um curso nocturno para analfabetos adultos.
Dia 18
Reunião da Assembleia-Geral do Centro Republicano Académico de Coimbra para eleição da nova direcção. Esta ficou assim constituída: Mário Malheiros, presidente; José Tamagnini, vice-presidente; Júlio Dias da Costa e Francisco Luís Tavares, secretários; Álvaro Marques Machado, Alexandre Magno Ferraz de Andrade, vice-secretarios.
Dia 19
Reuniu-se a Comissão organizadora do Congresso Nacional do Livre Pensamento, sob a presidência de Nobre França, secretariado por Lourenço Correia Gomes e Augusto José Vieira, na Associação do Registo Civil, a fim de se escolher os 9 relatores das teses a discutir:
1º A Igreja e o Estado. A - Teses gerais; B – Teses especiais
2º Instituições Familiares
3º Direitos Políticos e Civis
4º Instrução Pública
5º Assistência Pública
6º Feminismo
7º Militarismo
8º Impostos.
Dia 20
- Comissão Paroquial Republicana das Mouriscas (Abrantes): Efectivos – Manuel Lopes Esteves, presidente; Augusto Dias Agudo, secretário; José Marques Esparteiro, tesoureiro; Substitutos: Francisco Gueifão Belo; António Dias Ródão; Daniel Marques Rombo.
- Comissão Paroquial de S. Martinho das Amoreiras (Odemira): Efectivos – Joaquim da Conceição Dias do Carmo, presidente; Sebastião Figueira, vice-presidente; Baltazar Calapez, 1º secretário; Norberto da Silva Matos, 2º secretário; Manuel Joaquim da Silva Graça, tesoureiro.
Dia 22 e 23
- Inauguração do Teatro Escola Heliodoro Salgado, no Beato, onde tomam parte Agostinho Fortes, António Pereira Cacho, Abreu Castelo, Francisco Baptista Gomes.
Dia 23
- Anunciava-se para breve o início da publicação de um jornal que seria o órgão do Partido Republicano , intitulava-se O Intransigente e o director era o médico, presidente da Comissão Municipal Republicana, Dr. José da Rocha Pina Corte Real.
- Assinalava-se a festa de encerramento da Missão nº 178, das Escolas Móveis pelo Método de João de Deus, no Centro Republicano Latino Coelho. Discursaram na ocasião Feio Terenas, a professora Adelaide Gomes Freire Ferreira e por fim, Joaquim Roque da Fonseca e João de Meneses.
- No Centro Republicano Rodrigues de Freitas realizou-se um banquete de homenagem aos srs. Macedo Bragança, José do Vale, Ricardo Covões, António Fernandes e Juvenal Sacadura que estiveram presos no Forte de Caxias, por ocasião dos últimos acontecimentos políticos. O banquete com 48 talheres correu de forma muito animada.
Dia 24
Homenagem a Teófilo Braga, por ocasião dos seus cinquenta aos de vida literária. Esta sessão decorreu na Associação de Professores do Ensino Livre. Discursaram Manuel de Arriaga, Urbano Rodrigues, Agostinho Fortes, António Ferrão e o homenageado.
[NOTA IMPORTANTE: Lamentamos a publicação tardia destas efemérides,-pois referem-se ainda ao mês de Fevereiro - mas a sobrecarga em termos profissionais, impede-nos de realizar as pesquisas necessárias para confirmar os dados e organizá-los para publicação. Solicitamos a todos a melhor compreensão.]
A.A.B.M.
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