sábado, 31 de março de 2007

CAFÉ BOM: O CAFÉ DOS ANARQUISTAS


Princípio do séc. XX - Na Rua da Betesga, em Lisboa, o Café Bom "onde se reuniam os primeiros anarquistas" portugueses.

Foto de Joshua Benoliel, in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.

sexta-feira, 30 de março de 2007

PINTO QUARTIN



Nascido na Rua de S. Luís Gonzaga, em S. Cristóvão, Rio de Janeiro, filho de pai português (Bráz Leão Soares Quartin) e mãe brasileira (Guilhermina Augusta Castro Pinto), em 15 de Janeiro de 1887, com o nome completo de António Tomás Pinto Quartin. Foram seus padrinhos de baptismo os Barões de Quartin. Morre, em Lisboa, a 7 de Fevereiro de 1970.

Regressado a Portugal, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1905, onde se encontra em 1907, aquando da Questão Académica. O seu envolvimento nestes acontecimentos provocaram a sua expulsão da Universidade por um ano. Porém, a sua actividade política e a escrita nos jornais não lhe permitiram a continuação dos estudos, pelo que ingressou na vida jornalística.

Inicialmente colabora de forma esporádica no jornal A Vida, que se publicou no Porto, entre 18-03-1905 e 3-07-1910, onde colaboravam também: Manuel Joaquim de Sousa, Alfredo Pimenta, Ângelo Jorge, António de Sousa, Augusto Casimiro, Campos Lima, César Porto, Guilherme de Azevedo, Homem Cristo Filho, João de Barros, Rodrigo Solano e Vaz Passos.

Começa a sua vida como jornalista no jornal O Século, em 1908, onde se torna responsável pela secção "Vida Operária", pouco tempo após funda e dirige O Protesto,de que era proprietário e redactor principal, cujo primeiro número seria publicado em 25 de Julho de 1908 e que termina a publicação em 20- 03-1909.

Chefia também o efémero Amanhã[nº1, 1-06-1909 a nº 6, 15-08-1909], Lisboa, onde colaboram entre outros: António Altavila, Augusto Casimiro, Bento Casimiro, Bento Faria, Coriolano Leite, Emílio Costa, José Bacelar, Manuel Ribeiro e Tomás da Fonseca.

Colaborou também no jornal A Greve, Lisboa, [18-09-1908 a 1917] juntamente com Grácio Ramos onde pontificavam também Teodoro Ribeiro, Fernandes Alves, Trindade Correia, Ladislau Batalha, Augusto César dos Santos, João Pereira, César Nogueira, Teixeira Severino, Eduardo de Abreu, António José de Ávila, Hilário Marques, Jorge Coutinho, João Pedro dos Santos, Manuel Córdoba, Francisco Cristo, José Benedy, Luís Calvet de Magalhães, Deolinda Lopes Vieira [que viria a casar com Pinto Quartin], Rosalina Ferreira e Lucinda Tavares . Este jornal que começou por se publicar diariamente acabou por se transformar em bissemanário e mais tarde em mensário da classe operária.

Em 1911, Pinto Quartin colabora na revista Lúmen, que tinha por editor, Joaquim Madureira, o director era Severino de Carvalho e os colaboradores eram: César Porto, Bernardo Sá, Aráujo Pereira, Adolfo Lima, Jorge Coutinho e Luís da Mota.

Começa a organizar em sua casa, a partir de 1912, reuniões anarquistas onde assistiam Sobral de Campos, Neno Vasco, Aurélio Quintanilha, Mário Costa, Afonso Manaças, Lucinda Tavares, Susana Quintanilha, António Manaças e outros.

Em 1913 reaparece na direccção do semanário anarquista A Aurora, Porto, 10-07-1910 a 29-10-1916, publicaram-se três séries, num total de 54 números. Neste jornal colaboraram: António Alves Pereira, Alfredo Guerra, Maciel Barbosa, João Pinto Coelho, Serafim Cardoso Lucena, Manuel Joaquim de Sousa, Clemente Alves dos Santos.

Casa com Deolinda Lopes Vieira, de quem viria a ter dois filhos: Hélio Vieira Quartin (n. 1916) e Glícinia Vieira Quartin (n. Lisboa,20-12-1924 - fal.Lisboa, 28-4-2006).

Faz parte do jornal Terra Livre, colaboradores: Carlos Rates, Sobral de Campos, António Alves Pereira, Araújo Pereira, Bernardo de Sá, Campos Lima, Clemente Vieira de Campos, Emílio Costa, José Benedy. Este jornal acabou por ser perseguido e apreendido pela "formiga branca".

É preso e expulso do país após a explosão da bomba no dia 10 de Junho de 1913, por um período de dez anos, mas passados dois anos estava de regresso à redacção de O Século (1915). Durante a sua estadia no Brasil (1913-1915)colaborou na revista A Vida, ao lado de José Oiticica e Francisco Viotti. Durante esse período concede uma entrevista ao jornal diário do Rio de Janeiro, A Época, que teve grande repercussão.

Dirige os jornais Ultima Hora, Lisboa, 16-02-1921 a 3-3-1921, onde participaram também Ramiro Barros e Silva e Norberto Lopes; Actualidade.
Colabora ainda na A Aurora, 1917; O Movimento Operário, 29-04-1917 a 09-1918, publicou-se por iniciativa da União Operária Nacional, o editor era Ricardo Malheiro e o director era Alexandre Vieira; A Batalha, 23-02-1919 a 1949 [entre 1934 e 1949 publicou-se clandestinamente], dirigida inicialmente por Alexandre Vieira, com colaboração de: Joaquim Cardoso, Manuel Joaquim de Sousa, Alberto Dias, Carlos José de Sousa, David de Carvalho; A Pátria, Lisboa, 1920; A Tarde, 1923;O Primeiro de Janeiro, Porto [foi chefe da redacção deste jornal em Lisboa]; colaborou ainda no semanário O Diabo, Lisboa, 2-06-1934 a 21-12-1940; O Globo, Lisboa, 2-01-1930 a 20-07-1930.

Como viveu em Angola entre 1930 e 1936 colaborou na imprensa angolana como: A Província de Angola, Luanda, 1930-1936; O Planalto, Nova Lisboa, 1930-1936. Escreveu ainda as seguintes obras:
- Mulheres, s.d., s.l.
- Trezentos Contos (peça de teatro satírica, em 4 quadros), Luanda, 1934.
- A Lenda e o Processo do Estranho Caso Pauling (novela), Luanda, 1935.

Publica em 1908 um folheto intitulado Libertai-Vos!, com a seguinte dedicatória: para que [as mulheres] venham unir-se a esta legião aventureira e audaz que caminha, sofendo e cantando, para um mundo novo exuberante de amor e de justiça, do coração dedica o Autor.

Publicara já anteriormente dois folhetos: Vítimas da Guerra (conto antimilitarista), Lisboa, 1906; Mocidade Vivei!, Clássica Editora, Lisboa, 1907[livro proibido durante o regime salazarista];
Eu e a Questão Universitária, Clássica Editora, s.d.
Falar é semear, s.d.
O Sindicalismo e os Intelectuais, s.d.
Ao Trabalhador Diferente, s.d.

Traduziu ainda obras de Réclus como Ao Meu irmão Camponês, Lisboa 1908;
J. Cuenca, Como Não Ser Anarquista, Lisboa, 1909;
D. Elmassian, Lisboa, 1909.

O espólio de Pinto Quartin, legado à Casa da Imprensa, foi mais tarde depositado no Instituto de Ciências Sociais, no Arquivo de História Social e pode ser consultado online. Nele podem ser encontrados milhares de documentos sobre o movimento sindical e anarquista em Portugal. Para poder analisar os diversos documentos que aí existem deve consultar-se o catálogo da Exposição de Documentos de Pinto Quartin integrado no Seminário "O Movimento Operário em Portugal", organizado pelo Gabinete de Investigações Sociais, com texto de Maria Filomena Mónica, Lisboa, Biblioteca Nacional, 4 a 67 de Maio de 1981.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

Medina, João , Um Semanário Anarquista durante o primeiro governo de Afonso Costa: Terra Livre, Análise Social, GIS, vol. 17, nº 67-68-69,Lisboa,1981.
Oliveira, César de , Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, Perspectivas & Realidades, Lisboa, 1984.
Pires, Daniel, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940), vol I, Grifo, Lisboa, 1986.
Rodrigues, Edgar, A Oposição Libertária em Portugal: 1939-1974, Editora Sementeira, Lisboa, 1982, p. 147-148.
Sá, Victor de, Roteiro da Imprensa Operária e Sindical (1836-1986) ,Caminho, Lisboa, 1991.
Vieira, Alexandre, Para a História do Sindicalismo em Portugal, Seara Nova, Lisboa, 1974.

A.A.B.M.

quarta-feira, 28 de março de 2007

O CENÁCULO DOS INTRANSIGENTES



No prosseguimento da Greve Académica de 1907 em Coimbra, a tentativa de "romper os laços de solidariedade que se estabeleceram, e se mantinham, entre os estudantes de Coimbra e entre estes e os de todas as escolas superiores e técnicas do país" [in História da Greve Académica de 1907, de Alberto Xavier, 1962] foi diversas vezes tentada, sem total êxito. A nomeação do novo reitor da Universidade de Coimbra, D. João de Alarcão, os apelos de vários pais de alunos ["na sua maioria, políticos militantes, e, alguns deles, franquistas", ibidem] para demover os estudantes e a solicitação feita ao próprio Rei, nesse sentido, ele mesmo interessado na resolução do conflito, levou a contemplar diversos mecanismos para que os estudantes desavindos pudessem fazer as suas provas, sem ao mesmo tempo "vexar os professores". Não foi, parece, pacifica entre os lentes, e em especial os da Faculdade de Direito, o processo que permitia "a realização dos actos", o que não obstou a que um Decreto (23 de Maio de 1907) do ministro do Reino determinasse a "reabertura da Universidade para efeitos de exames", mediante algumas condições.

Pretendia-se, dado a ordem a cumprir rigorosamente, que os estudantes regressassem individualmente e "somente nos dias indicados para as provas", para que afastada a presumida "reunião" dos alunos dos "cursos jurídicos", de onde pertenciam os mais intransigentes, se estabelecesse a quebra de "solidariedade" entre os estudantes de Coimbra e entre estes e os do resto do país. Diversos normativos foram publicados para o efeito, quer no que respeita a Coimbra, quer aos cursos de Lisboa e Porto.

Desta forma, em Coimbra, dos "1049" alunos matriculados, "encerraram a matricula 866 alunos", para efeitos de exame. Por decisão do Conselho de Decanos [1 de Abril de 1907] sete alunos tinham sido expulsos e recusaram-se a requerer matrícula [diz-nos Alberto Xavier] 160 alunos [e não 155 como foi na altura registado]. Tais estudantes "que procederam como homens de perfeita responsabilidade, dotados de livre autonomia de vontade, os quais, desinteressada e briosamente, se recusaram a requerer matrícula para efeitos de exames, enquanto os sete camaradas, injustamente expulsos, não fossem restituídos à plenitude dos direitos e regalias universitárias" [idem, ibidem], a opinião publica denomino-os de intransigentes.

Aos intransigentes, a estes alunos, foi dada a ordem de "abandonar Coimbra". Muitos regressaram às suas casas, mas um curioso grupo deles foram "passar o Verão à praia da Figueira da Foz, onde organizaram uma ‘pousada’ denominada dos Intransigentes, na Rua do Melhoramento, 63. Logo de início os comensais eram

Alfredo Pimenta, Alfredo França, M. Monteiro, Pestana Júnior, Justino Campos, Teixeira Jardim, Sant'Ana Leite, e Parreira da Rocha. Outros apareceram a aumentar o número" [ibidem]

Diz-nos, ainda, Alberto Xavier, citando o jornal O Século de 14 de Junho, desse ano:

"O 'Cenáculo dos Intransigentes', instalado na Figueira da Foz, continua sendo o ponto de reunião de todos os estudantes que não encerram matrícula na Universidade. Aquela agremiação académica tem já um hino próprio, denominado charge aos furadores da greve, e que se vai tornando popular, por os estudantes o cantarem, em grupos, pelas ruas, nas proximidades do cenáculo. O autor do hino foi o maestro Dias Costa

J.M.M.

terça-feira, 27 de março de 2007

segunda-feira, 26 de março de 2007

ALBERTO XAVIER


De seu nome completo António Maria Eurico Alberto Fiel Xavier, nasceu em Nova Goa a 24 de Abril de 1881, filho de Francisco João Xavier e Matilde de Abreu Xavier. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra em 1908, após a sua participação nos acontecimentos da greve académica de 1907. Estabeleceu-se como advogado em Lisboa e dedicou-se ao jornalismo e à política.

Após a implantação da República foi administrador do 4º Bairro, em Lisboa, mais tarde foi nomeado Director-Geral da Fazenda Pública (1919) e secretário-geral do Ministério das Finanças já durante o tempo de Salazar. Foi também nomeado para administrador da Caixa Geral de Depósitos, em 1924, por um curto período de tempo.
Foi deputado nas eleições extraordinárias de 1913, de 1915, de 1919, 1921 e 1922. Inicialmente, pertenceu ao Partido Democrático e mais tarde passou para o Partido Reconstituinte.

Com a queda da República democrática aproxima-se das posições do Estado Novo e continua a dispor de grande influência política porque se torna um dos colaboradores de Oliveira Salazar. Entre 1933 e 1947, foi Juíz Conselheiro do Tribunal de Contas. Entre 1940 e 1947 foi o comissário-adjunto do Governo na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Desempenhou também as funções de presidente do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, administrador-geral da Casa da Moeda e das Lotarias da Misericórdia de Lisboa.

Pertenceu à Maçonaria tendo sido iniciado na Loja Pátria, de Coimbra, em 1906,com o nome simbólico de Robespierre.

Destacou-se como jurista e ensaista.

No campo literário publicou diversos títulos como: Política Republicana em Matéria Eclesiástica, 1912; Memórias da Vida Pública, 1950; O Imperialismo da Rússia, 1951; publicou ainda estudos literários como: O Romance, 1935; O Romance no século XVII, 1938; Dom Quixote (Análise Crítica), 1942; Camilo Romântico, 1947; Dom João, Tipo Sedutor de Mulheres (Ensaio sobre Tirso de Molina), 1960.

Na vida jornalística colaborou entre outras com as seguintes publicações:
Diário da Tarde(Dir.), Lisboa, 1925-1927; A República, Lisboa, 1ª Série, 1911-1927; A República Portuguesa, Lisboa, 1910-1911; Jornal do Comércio ,Lisboa; A Manhã, Lisboa, 1917-1922; A Vitória, Lisboa, 1919-1922; e O Cronista, Lisboa, 1958. Publicou ainda alguns artigos no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa.

A.A.B.M.

domingo, 25 de março de 2007

CRISE, CONFLITOS E GREVES NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - NOTA BREVE


Desde a sua fundação (1290) a Universidade de Coimbra foi palco de infindáveis acontecimentos que tiveram no seu centro os estudantes e que, por isso, merecem a melhor das atenções. Quer se tenha tratado de invectivas, soiças ou arruaças, motins (como aquele contra os cristãos-novos (1630), tumultos (caso da desordem na sala dos Capelos em 1757), constituição de trupes (vide o Rancho de Carqueja, 1720-21), participação dos estudantes nas guerras da restauração (1645) ou nos diversos batalhões académicos formados, seja o caso do assassinato dos lentes (18/03/1828) ou a constituição da sociedade secreta dos Divodignos, até mesmo a acção das diferentes Sociedades Secretas (ex: Sociedade do Raio, 1861-1863), passando por pontuais, mas não indiferentes, movimentos de luta estudantil (caso do conflito havido, em Junho de 1938, contra uma conferência de um fascista italiano nos Direitos) ou mesmo, se quisermos, o repúdio da Academia contra o filme "Capas Negras" (1947) ou uma bem curiosa greve aos cinemas de Coimbra (1932), os estudantes da Academia de Coimbra conquistaram, ao longo de gerações, um espaço legítimo na luta política, social e cultural do país.

Desses conflitos, crises ou greves, que animaram o espírito coimbrão, registe-se pela sua vitalidade e importância:

o conflito conhecido por Tomarada ou Entrudada (Fevereiro-Março 1854) entre os estudantes e os futricas / conflito da Rolinada (Abril-Maio de 1864) onde participa Antero de Quental / a Questão Coimbrã (1865-1866) / a Zé Pereirada (1881) / a Questão da Sebenta (1883) / a greve (ou parede) de Maio de 1886 contra o Reitor Adriano Abreu Cardoso Machado / a greve de 1892 / a Campanha do Ferrão (1898) / a Revolta do Grelo (Março-Abril de 1903) / a Questão Académica ou a Greve de 1907 / o conflito resultante da criação das Universidades de Lisboa e Porto e o desdobramento da Faculdade de Direito (1911-1913) / conflito "Olha o Boné" (1913) entre estudantes e polícias / o conflito entre os estudantes da Escola Normal Superior e o seu director (Fevereiro-Março 1916) / a Greve de 1919 (Maio-Junho de 1919) contra a transferência da Faculdade de Letras / a Tomada da Bastilha (25/11/1920) / o conflito entre o V Ano Médico e o dr. Ângelo da Fonseca (Abril-Setembro 1921) / o conflito de Maio-Setembro de 1924 / a greve em "protesto contra a reforma universitária do Governo da Ditadura" (Maio de 1928) / a Tomatada (1930) / a reacção académica ao Decreto 40900 de 1956 / a crise académica de 1962 / a crise de 1965 como resultado da vitória nas eleições da AAC da lista do Conselho das Repúblicas / a crise académica e Greve de 1969 / a crise de 1970/71.

Fonte principal: A Academia de Coimbra (1537-1990), de Alberto de Sousa Lamy, Rei dos Livros, 1990.

Foto: reprodução da 1ª página do jornal do Conselho das Repúblicas, Coimbra, Março de 1968. Curioso porque traz um "Sumário da Crise" de 1961/62, uma reflexão sobre a Questão Coimbrã (por Celso Cruzeiro), além de vários artigos, entre os quais o "Desafio à Universidade" (por Rui Namorado) e "Os 20 Anos do Conselho de Repúblicas" (por Décio de Sousa)

J.M.M.

A CRISE ACADÉMICA DE 1962



"Faz hoje 45 anos, milhares de estudantes revoltaram-se. Marcelo Caetano solidarizou-se com eles, pela autonomia da universidade. Jorge Sampaio e alguns dos principais líderes em Lisboa, Coimbra e Porto contam como viveram esse dia e a influência que a luta teve na sua vida (...)

Mentiras ministeriais, agressões brutais da polícia, humilhação inflingida ao reitor, que mantinha relações cordiais com os dirigentes associativos - está constituído o caldo de cultura explosivo que vai baptizar politicamente milhares de jovens estudantes portugueses.
Nos três meses de agitação que se seguem e nas ondas de choque que se repercutem pelas vidas de muitos deles - 150 perdem o ano, muitas centenas são presos, vários torturados, 43 expulsos do sistema de ensino, numerosos chamados à tropa - forja-se uma nova geração que prepara o fim do Estado Novo ...
"

[Adelino Gomes, in Crise de 62 contada pelos que a dirigiram, jornal Público (P2), 24/03/2007 - sublinhados nossos. Foto do jornal Público, com a devida vénia]

J.M.M.

sábado, 24 de março de 2007

AINDA ... BERNARDINO MACHADO


«A greve académica de 1907, cujo ponto de partida foi a acintosa reprovação do Dr. José Eugénio Ferreira no acto de doutoramento em Direito, revestiu significado politico evidente, tanto mais que se tratava de uma personalidade em evidência no Partido Republicano de Coimbra. Todavia, foi o carácter afrontoso, e contrario a todas as práticas, dessa reprovação de um licenciado que desencadeou na Universidade uma situação insurreccional que não tardaria a alastrar à demais escolas superiores e liceus do país.

Bernardino Machado, na inauguração do Centro Eleitoral de Belém, em Março desse ano, não apenas dá a cobertura moral do seu imenso prestigio às revindicações estudantis como declara que, se algum estudante fosse, "como caudilho desse honroso movimento, expulso das aulas por um arcaico e falso critério disciplinar ele as considerará também para si fechadas"
Poucos dias depois, retomará no Centro Democrático de Lisboa o tema da disciplina académica que já versava em 1885. A defesa dos estudantes é acompanhada de censuras não menos firmes à Universidade ao seu imobilismo.

O Governo de João Franco diligencia junto do Reitor Santos Viegas no sentido de Bernardino Machado ser objecto de processo. Inteirado de que tal pretensão se não concretizaria, pede a exoneração de lente catedrático por ofício datado de 16 de Abril de 1907 mas remetido alguns dias depois.

Posteriormente, em Junho, numa entrevista concedida a Mayer Garção para o jornal "O Mundo", Bernardino Machado inserirá com extrema lucidez a questão universitária e as medidas repressivas governamentais no processo ditatorial de João Franco.

O pedido de demissão de Bernardino Maçado e o apoio incondicional prestado aos estudantes durante toda a crise académica provocaram a maior emoção em todo o País. Além da homenagem pública que lhe seria prestada em Julho desse ano, existem vários documentos epistolares altamente significativos, entre os quais um soneto, ao que supomos inédito, de Angelina Vidal.

Entre as reacções mais significativas inclui-se, decerto, o de um dos sete estudantes expulsos, Campos Lima, dada à estampa no "País" sob o título de A lógica dos factos. Caracterizando o que poderíamos chamar "a ilusão reformista" de Bernardino Machado em relação à Universidade, a sua aposta numa "corrente nova de lentes" que levariam por diante uma reforma radical da instituição, Campos Lima [que, ao que parece, mantinha curiosos debates com Bernardino Machado, que lhe publica, via 'Instituto', e a pedido do prof. Marnoco e Sousa, a sua tese de dissertação, 'O Movimento Operário em Portugal'] aditava:

Aquando da sua oração de sapiência já alguma coisa devia ter-lhe levado ao espírito o convencimento de que a Universidade não se modificava com palavras de amor, se o espírito desse homem não fosse de uma grande generosidade, que é o seu maior defeito. O conflito académico, em cujas responsabilidades uma manifesta má vontade dos dirigentes o ia envolvendo, sem que a Universidade pela pessoa dos seus lentes se erguesse num protesto, como a Academia o fez para connosco, os estudantes expulsos, deve ter-lhe feito ver claro a respeito das belezas daquele armazém de sábios sem ciência'

A exoneração de Bernardino Machado marca de facto o termo das tentativas de reestruturação da Universidade a partir de um conjunto de pressões endógenas»

[Rogério Fernandes, in Bernardino Machado e os problemas da Instrução Pública, Livros Horizonte, 1985 - sublinhados nossos]

J.M.M.

TERTÚLIAS DA REVISTA HISTÓRIA


No âmbito de mais esta iniciativa da Revista História, dirigida pelo professor Fernando Rosas e coadjuvado pelo professor Luís Farinha, vai realizar-se mais outra tertúlia da nossa única revista de divulgação histórica.

No dia 28 de Março, quarta-feira, às 18:30 horas, o historiador José Medeiros Ferreira estará na FNAC Chiado para falar sobre Portugal na CEE, no dia em que se comemora os 30 anos do pedido de adesão. Esta é a quarta actividade do Ciclo de Palestras Conversas com a História, promovido pela Revista História.

Saudamos e divulgamos agradavelmente mais esta iniciativa.
Desejamos o maior sucesso a mais este projecto, esperando que ele comece também a percorrer outros espaços de Portugal, pois encontrará certamente mais pessoas interessadas em preservar a memória de alguns destes acontecimentos.

A.A.B.M.

sexta-feira, 23 de março de 2007

A QUESTÃO DA UNIVERSIDADE - A POSIÇÃO DE BERNARDINO MACHADO


Agradecendo a mensagem enviada pelo nosso leitor, vimos esclarecer que ainda não foi possível abordar a questão da posição dos vários professores da Universidade perante o conflito. Porém, é nossa intenção tratar também esta temática nos próximos dias, porque a bibliografia sobre este assunto ainda continua por explorar.

No caso de Bernardino Machado, conhecemos as obras que nos refere, mas até agora não foi possível utilizá-las pois não as possuimos nas nossas "pequenas" bibliotecas pessoais.

Mas recordamos a propósito o que ele próprio afirmava em 1907:

Os agravos que, num momento passageiro de exaltação mútua, um ou outro estudante cometeu, mas toda a academia, logo reunida em assembleia geral, repudiou, indo dar deles satisfação, castiguem-nos, se não têm grandeza de alma para os perdoar. Mas castiguem, sujeitando-os ao fôro comum, em conformidade com o código penal, que desde 1885, dispõe sobre a matéria, e não ao fôro universitário, que, por falta de garantias para a defesa, desde que deixe de ser paternal, converte-se em inquisitorial. Nem sirva de enbaraço o decreto de 1839 sobre disciplina académica, porque outro decreto ou uma lei o derroga. O que seria incrível é que a Universidade que ensina o direito, o não praticasse. Castiguem, muito embora, se crêem mais na eficácia do rigor do que da bondade. [apud Bernardino Machado, A Universidade de Coimbra, 1908, p. 306-307 in Angelo Vaz, Bernardino Machado. Sentimentos, Ideias e Factos do seu Tempo, Ed. do Autor, Porto,1950, p. 89]

Fica clara, desde aqui, a posição deste ilustre professor da Universidade, que assume a defesa dos estudantes, mas sobretudo a importância de não os julgar pelo fôro académico, mas de acordo com o Código Penal então vigente. Outros professores tomaram posição na defesa dos estudantes, mas a atitude daquele que viria a ser Presidente da República foi extremamente importante no contexto da época, até porque era uma figura muito conhecida e respeitada, mesmo nos meios monárquicos, porque já tinha feito parte de governos regeneradores.

Renovamos os nossos agradecimentos pela informação bibliográfica e pela atenção que nos dispensa.

[foto in Arquivo Fotográfico de Lisboa]

A.A.B.M.

terça-feira, 20 de março de 2007

ACADÉMICOS DE COIMBRA



Académicos de Coimbra nos jardins do Ateneu Comercial - foto de Carlos Alberto Lima, in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.

segunda-feira, 19 de março de 2007

ENCONTRO DA JUVENTUDE DE BELA MANDIL (1947-2007)



Encontro da Juventude de Bela Mandil (1947-2007)

Para assinalar o 60º aniversário deste encontro, um dos acontecimentos mais importantes na História da Oposição à Ditadura no Algarve, no período que se seguiu ao fim da guerra, a Junta de Freguesia de Pechão decidiu realizar um evento comemorativo nos próximos dias 23 e 24 de Março de 2007.

O MUD Juvenil da região algarvia reuniu-se na mata de Bela Mandil (Olhão), para confraternização, mas os cerca de mil participantes, segundo as estimativas, viram as expectativas frustradas com a intervenção da GNR.

Aproveitando esta efeméride, vão realizar-se diversas actividades de que nos permite destacar: no dia 23, a inauguração da placa evocativa, com a presença prevista de várias personalidades da região e o almoço de confraternização. No dia 24, destaca-se a apresentação do trabalho de multimédia A Geração de Bela Mandil e uma palestra a realizar pela Dr. Maria João Raminhos Duarte sobre MUD Juvenil (1946-1957) uma juventude rebelde e generosa. Para consultar o programa completo ver aqui.

Saudamos todas as iniciativas deste género que chegam ao nosso conhecimento.

A.A.B.M.

sábado, 17 de março de 2007

JARDIM DO ATENEU COMERCIAL DE LISBOA - MARÇO 1907



Foto da Conferência de Teófilo Braga, no Jardim do Ateneu Comercial de Lisboa, durante a crise académica [in Ilustração Portuguesa, Março 1907]

J.M.M.

sexta-feira, 16 de março de 2007

EFEMÉRIDES DE MARÇO (II)

Dia 16

1884 - Inauguração do Centro Escolar e Eleitoral Democrático de Cacilhas.
1901 - É apreendida mais uma edição do jornal O Mundo.
1902 - Assinala-se o quinto aniversário do Centro Republicano José Falcão.
1906 - Dá entrada na cadeia do Limoeiro, Carlos Cruz, secretário da Associação Propagadora do Registo Civil de Lisboa, para cumprir a pena de vinte meses de prisão por ofensas ao dogma da Imaculada Conceição, publicadas no jornal Vanguarda. Carlos Cruz acabou por cumprir somente setenta e oito dias de prisão, porque foi indultado pelo governo de João Franco.

1907 - Manuel de Brito Camacho realiza uma conferência política no Centro Republicano da Pena.

Dia 17
1907 - Realiza-se a inauguração do posto de vacina gratuito no Centro Republicano da Pena.
1907 - Inaugura-se o Centro Republicano Pátria Nova, em Carnaxide.
1907 - É eleita a Comissão Municipal Republicana do Porto.
1908 - Adere ao Partido Republicano o Dr. Carlos Bello de Moraes, lente na Escola Médica de Lisboa.

Dia 18
1883 - Sai na Régua o primeiro número do semanário republicano O Grito do Douro.
1887 - Morre a menina Maria da Graça Braga, filha de Teófilo Braga, cujo funeral decorreu civilmente.

1900 - Heliodoro Salgado realiza uma conferência na Associação de Instrução A Obra, sobre A Revolução Comunalista de 1871.
1906 - Heliodoro Salgado realiza nova conferência no Grémio Federal Republicano, subordinada ao tema: República e Comuna.

Dia 19
1876 - Comício no Casino Lisbonense, em que o Partido Republicano reclama junto das oposições monárquicas a necessidade de instaurar o sufrágio universal, a responsabilidade ministerial e o registo civil obrigatório.
1882 - Inaugura-se na freguesia de Santa Isabel (Lisboa), o Clube Gomes Freire de Andrade.
1901 - A autoridade proibe a realização de um comício republicano no Porto.
1905 - Morre em Lisboa, o médico João Rodrigues dos Santos, que
1906 - Publica-se o primeiro número do jornal Pátria, órgão do Centro Académico Republicano de Coimbra.
1906 - Reune a Comissão Paroquial Republicana de Dois Portos (Torres Vedras).
1907 - Inaugura-se nas Caldas da Rainha um centro republicano.
1907 - O Dr. Teófilo Braga realizou uma conferência na Associação dos Lojistas para marcar a inauguração da Escola Maternal.
1908 - Adere ao Partido Republicano o Dr. Pinto de Magalhães, professor da Escola Médica de Lisboa.

Dia 20
1881 - Sai em Lisboa o primeiro número do semanário republicano A Justiça.
1881 - Assinala-se o primeiro registo civil de nascimento no Seixal.
1889 - Morre em Lisboa o venerando chefe republicano António de Oliveira Marreca.
1902 - Reune a Comissão Paroquial de Santa Engrácia(Lisboa).
1908 - Adere ao Partido Republicano o Dr. José de Pádua, conhecido médico em Lisboa.

Dia 21
1857 - Nasce em Tomar o fundador do semanário A Emancipação e dedicado republicano Carlos Campeão dos Santos.
1891 - O Abade João Pais Pinto, João Chagas e Francisco Homem Cristo, que se encontravam presos a bordo do navio Moçambique, por terem sido implicados na revolta do Porto, protestam contra o facto de estarem depois de julgados, muitos dias esperando que o tribunal leia a sentença.
1900 - Realiza-se no Porto a eleição da Comissão Municipal dessa cidade.
1902 - Parte para Luanda o ex-tenente Manuel Maria Coelho, um dos oficiais que tomaram parte na revolta de 31 de Janeiro de 1891, no Porto.

Dia 22
1902 - O Dr. Bernardino Machado realiza uma conferência na cidade do Porto.

Dia 23
1856 - Nasce em Cuba (Alentejo) o Dr. Ernesto Cabrita.
1879 - Realiza-se a sessão de abertura do III Congresso do Partido Socialista Português.
1890 - Sai em Coimbra o primeiro número do jornal Ultimatum, órgão dos estudantes revolucionários.
1897 - Instala-se a Comissão Municipal Republicana de Lisboa, sendo a posse dada pelo sr. Gomes da Silva e ficando constituída pelos seguintes elementos: Teófilo Braga, João Viegas Paula Nogueira, Andrade Neves, Teixeira de Magalhães e Coelho da Silva.
1907 - Realiza-se em Chaves, um conferência republicana com o Dr. Eugénio Ferreira.

Dia 24
1901 - O Governador Civil do Porto proibe um comício popular.
1901 - Manuel de Brito Camacho realiza em Évora uma conferência republicana.
1907 - Inauguração do Centro Republicano Heliodoro Salgado, em Benfica (Lisboa).
1907 - No Centro Republicano de Santa Isabel (Lisboa), realiza-se uma conferência política com o Dr. Manuel de Arriaga.
1907 - Realiza-se uma sessão solene no Centro Republicano Escolar de Lordelo do Ouro (Porto) para distribuição de prémios.
1907 - Sessão comemorativa do aniversário da Escola Liberal (Setúbal).
1907 - Realiza-se um banquete em Chaves, de homenagem ao Dr. Eugénio Ferreira.
1907 - É eleita a Comissão Municipal Republicana de Anadia e a Comissão Paroquial Republicana de Sangalhos.

Dia 25
1876 - Realiza-se um jantar de cerca de 150 pessoas em Lisboa para comemorar as vitórias eleitorais alcançadas pelos republicanos franceses.
1882 - Inaugura-se em Lordelo do Ouro (Porto) o Clube Democrático de Instrução Guilherme Braga.
1897 - Reunem, sob a presidência de João Chagas, os corpos gerentes do Centro Fraternidade Republicana, sendo lidas e aprovadas as bases para a federação das agremiações republicanas.
1897 - Realiza-se uma reunião preparatória para a reorganização do Centro Republicano Borges Carneiro.
1900 - Realiza-se nas salas da Associação dos Lojistas a sessão solene promovida pelo Clube José Falcão em honra dos deputados pelo Porto.

1901 - Grande agitação anti-jesuítica em Setúbal motivada pela questão Calmon. Rosa Calmon, filha do consul brasileiro no Porto, foi influenciada a ponto de querer à viva força abandonar a família e internar-se num convento. O movimento de protesto surgiu de imediato e um pouco pelo País. Em Setúbal foram mortos dois populares, pelos militares, na Avenida Luisa Todi.
1902 - Reune o Grémio Republicano.
1907 - Inaugura-se o Centro Eleitoral Republicano de Belém, declarando-se na sessão solene solidário com a Academia de Coimbra o Dr. Bernardino Machado. Nessa ocasião, assume o compromisso de abandonar a cadeira de lente no caso de algum académico ser expulso.
1907 - Realiza-se um comício republicano em Sarilhos Grandes (Montijo), para eleição da Comissão Paroquial Republicana.

Dia 26
1805 - Nasce em Santarém o eminente chefe republicano António de Oliveira Marreca.

Dia 27
1881 - Realiza-se um comício republicano, no Porto, de protesto contra o Lourenço Marques.
1882 - Funda-se em Aldeia Galega (Montjo), um Centro Republicano.

Dia 28
1810 - Nasce em Lisboa o grande historiador e homem fundamental do Liberalismo português Alexandre Herculano.

1851 - Nasce o Dr. Bernardino Machado.
1858 - Inicia publicação em Lisboa, o diário de cariz democrático O Futuro.
1900 - Responde na Figueira da Foz por abuso de liberdade de imprensa o jornalista Amadeu de Sanches Barreto.

Dia 29
1880 - Organiza-se em Ponta Delgada o Centro Republicano Federal.
1904 - Morre em Viseu o operário gráfico Alberto Sampaio, fundador e director do jornal republicano-socialista e anti-clerical, A Voz da Oficina. Por sua determinação expressa foi enterrado civilmente.
1907 - Sessão de homenagem a Heliodoro Salgado na sede da Associação dos Corticeiros (Almada).
1907 - É eleita a Comissão Municipal Republicana de Vila Nova de Ourém.

Dia 30
1881 - Assinala-se o primeiro registo civil de casamento em Odemira.
1884 - Manifestação em Lisboa, por ocasião da trasladação dos restos mortais de José Fontana para o monumento que a Associação dos Trabalhadores, por subscrição pública mandou erigir naquele cemitério.
1902 - França Borges realiza uma conferência no Grémio Excursionista Liberal.
1903 - Inaugura-se o Centro Escolar e Eleitoral Rodrigues de Freitas.
1903 - Começa a publicar-se em Lisboa o Debate, jornal republicano da tarde.

Dia 31
1882 - Inicia-se a subscrição para criar o Instituto de Ensino Livre Marquês de Pombal.
1900 - Realiza-se nas salas do Ateneu Comercial a 1ª conferência da série promovida pela Liga Académica Republicana.
1901 - A autoridade proíbe no Porto, várias conferências republicanas.
1903 - Na sede da Associação dos Lojistas inaugura Heliodoro Salgado uma série de conferências sobre o tema geral - Religião e Ciência.
1907 - O Dr. Bernardino Machado realiza uma conferência no Centro Eleitoral Democrático.

A.A.B.M.

ALMANACH BERTRAND 1907


1907 - Almanach Bertrand, coord. por Fernandes Costa

[in Catálogo da Mostra Bibliográfica "1907 - No advento da República", da Biblioteca Nacional]

J.M.M.

MOSTRA BIBLIOGRÁFICA: 1907 - NO ADVENTO DA REPÚBLICA



"1907 foi marcado pela ditadura de João Franco, que já presidia ao Ministério desde o ano anterior. Na sequência da «questão dos adiantamentos» e apoiado pelo próprio rei D. Carlos, o governo dissolveu o Parlamento em Maio e a Câmara Municipal de Lisboa em Junho. A grave crise que o país atravessava foi agudizada pelas proporções da greve académica que, iniciada em Coimbra em Março, se propagou a outras escolas do país. A governação 'à turca', como então foi apelidada a política franquista que pretendera governar 'à inglesa', viria a terminar com o regicídio em Fevereiro de 1908, dando aos republicanos, então aliados aos Progressistas e fortalecidos pela Carbonária, uma força decisiva que provocou a mudança do regime em 1910"

[in Biblioteca Nacional - sublinhados nossos]

Mostra Bibliográfica: de 15 de Março a 9 de Junho de 2007 na Biblioteca Nacional. Pode ler uma versão do Catálogo, aqui.

J.M.M.

FUNERAL DE ANTÓNIO GRANJO



Cunha Leal discursando no funeral de António Granjo, assassinado na chamada Noite Sangrenta.

Foto in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.

quinta-feira, 15 de março de 2007

ANTÓNIO GRANJO


Disse Consiglieri Sá Pereira na sua obra A Noite Sangrenta, Aillaud & Bertrand, Lisboa,1924, p. 9, afirmava: Era franco, rude, generoso e exagerado. Tinha todos as virtudes e todos os defeitos do montanhês e quem atentasse no seu tórax herculeo, julgaria admirar um pedaço de granito arrancado lá de cima, das serranias de Trás-os-Montes e afeiçoado pelo cinzel de qualquer escultor amigo de fortes plásticas.

António Joaquim Granjo nasceu em Chaves, em 27 de Dezembro de 1881, e veio a falecer a 19 de Outubro de 1921. Era filho de Domingos Pires Granjo, um curtidor e vendedor de peles e de Maria Joaquina Granjo. Obteve,em 1907, o bacharelato em Direito pela Universidade de Coimbra, para onde se deslocou em 1899, tivera formação religiosa, frequentando o Seminário de Braga, entre 1893 e 1898, e cursando Teologia no Porto, no ano seguinte.

Assentou praça em 1899 no Regimento de Cavalaria nº 6, mas a 15 de Outubro desse mesmo ano pediu baixa da vida militar, experiência a que dará continuidade mais tarde, quando liderar um grupo de voluntários contra as invasões monárquicas de 1911 e 1912 e integrar o Corpo Expedicionário Português na qualidade de alferes miliciano. Depois de concluir os estudos superiores em Coimbra, regressa à sua terra natal, onde se dedicará à advocacia até se fixar em Lisboa, no ano de 1919.

Quando estudante em Coimbra convive com Cândido Guerreiro, José Lobo de Ávila Lima, Fernando Emídio da Silva, António Abranches Ferrão, sendo António Granjo um dos alunos melhor classificados do seu curso. Casou ainda estudante, em 8 de Outubro de 1906, com Cândida Lamelas. Funda o Centro Republicano de Chaves, que se torna uma verdadeira "sociedade revolucionária" (Rocha Martins, Vermelhos, Brancos e Azuis, vol. II).

A sua actividade política começa no contexto das greves estudantis em Coimbra - quando, em 1907, integra o Comité Revolucionário Académico – e consolida-se, logo a seguir, por via da organização de um núcleo revolucionário em Chaves e da participação no Comité Revolucionário de Trás-os-Montes,onde tem um importante papel na propaganda republicana.

Participou na tentativa revolucionária de 28 de Janeiro de 1908, tendo desenvolvido contactos na cidade do Porto, onde vivia o irmão Manuel Augusto Granjo. A sua acção, durante esta tentativa revolucionária republicana que fracassou, seria tomar o forte S. Neutel, em Chaves, para apoderar-se das munições e armas ali existentes.

A 8 de Outubro de 1910, foi proclamada a República em Chaves, com a sua presença na Câmara Municipal. Faziam parte do núcleo revolucionário de Chaves juntamente com o nosso biografado: Antão Fernandes de Carvalho, Vitor Macedo Pinto, Adelino Samardã (jornalista e organizador da Carbonária na região transmontana), José Mendes Guerra e António da Silva Correia.

A 6 de Outubro de 1911 partiu para Vinhais, para enfrentar as invasões monárquicas comandadas por Paiva Couceiro, levando com ele António Cachapuz, Joaquim Monteiro, Vitorino Vidago e António Luis Pereira. Nesse mesmo ano, dá início à sua carreira de deputado, eleito e reeleito por Chaves até 1921, em que se destaca, logo em 1912, por defender a amnistia para os inimigos do novo regime.

Em 1912, trava-se de razões contra os denominados jovens turcos: Álvaro de Castro, Sá Cardoso, Álvaro Pope, Américo Olavo, que defendiam as opiniões de Afonso Costa, enquanto António Granjo se perfilava ao lado de António José de Almeida.

Em Maio de 1917, ingressa como alferes miliciano no Regimento de Infantaria nº 19, de Chaves, após ter concluido o curso de alferes no Regimento de Infantaria nº18, no Porto. Antes de partir manda elaborar o seu testamento antes de partir incorporado no Corpo Expedicionário Português em direccção à Flandres.

Quando regressa envolve-se nas conspirações e revoltas de 12 de Outubro de 1918 e de 10 de Janeiro de 1919, contra Sidónio Pais. A primeira das tentativas restringiu-se às cidades de Coimbra, Évora e Vila Real. A segunda, deflarou somente em Santarém.


[Acima: Fotografia do Governo de António Granjo em 1921, com ele ao centro da imagem]

Proclamada a República, torna-se administrador do concelho de Chaves e, em 1911, é iniciado na Maçonaria, no triângulo 187, de Santa Marta de Penaguião, adoptando o nome simbólico deBuffon. Pertenceu depois à Loja Cavalheiros da Paz e Concórdia, em Lisboa. Manteve ligações a esta sociedade até ao final da sua vida, quando pertencendo à Loja Liberdade e Justiça, nº 373, de Lisboa, foi alertado por uma prancha datada de 15 de Outubro de 1921, que referia os problemas causados pela "questão dos eléctricos" e a necessidade de "meter na ordem obrigando a cumprir as leis nacionais e estrangeiras" (Rocha Martins, ob. cit.).

Depois de deixar o Partido Republicano Português e de se tornar membro do Partido Evolucionista, integra ainda o Partido Liberal, de que foi líder entre 1919 e a cujo directório pertenceu até 1921. Estreia-se como ministro entre 30 de Março e 28 de Junho de 1919, à frente da pasta da Justiça num governo liderado por Domingos Pereira.

Em 15 de Janeiro de 1920, sendo já membro do Partido Liberal, a cujo Directório pertenceu desde os finais de 1919 a 1921, é nomeado ministro do Interior, mas não chega a tomar posse.Quando voltou a ser nomeado para cargos governativos, assumiu a pasta da Agricultura e chefiou o próprio Executivo, ambas as funções decorrendo entre 19 de Junho e 20 de Novembro de 1920, além de se ter encarregado da pasta das Finanças, a título interino, entre 14 de Setembro e 18 de Outubro de 1920. Será, ainda, ministro do Comércio, de 24 de Maio a Agosto de 1921, até acumular, pela última vez, a chefia do Executivo com uma pasta ministerial, desta feita, a do Interior, no período de 30 de Agosto até à Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921, que ditou a queda do Governo e a sua própria morte.


[Acima: Fotografia do funeral de António Granjo em Lisboa]

Da sua participação na Grande Guerra, escreveu um livro de impressões, que intitulou A Grande Aventura (Cenas de Guerra), além de ter publicado poesia e dirigido o jornal A República a partir de 9 de Março a 19 de Julho de 1920, em virtude de António José de Almeida ter sido eleito presidente da República. Volta a assumir esta função entre 20 de Novembro de 1920 e 9 de Junho de 1921. Colaborou ainda na revista Livre Pensamento de Coimbra, em 1905. Foi ainda colaborador de O Norte, Porto, 1918-1920.

Escreveu: Carta à Rainha D. Amélia (1909) e Águas obras em verso; Vitória de Uma Mocidade, 1907; A Grande Aventura (cenas de Guerra), 1919, dedicado ao Regimento de Infantaria nº 19(prosa).

A.A.B.M.

quarta-feira, 14 de março de 2007

A REVOLTA ACADÉMICA DE 1907


O Museu Bernardino Machado recordou, no passado dia 2 de Março, a revolta académica de 1907, tendo promovido um debate sobre o tema, integrado no ciclo de conferências

[que irá decorrer até 2008, "passando em revista, e de forma cronológica, alguns dos mais importantes episódios dos movimentos estudantis, que eclodiram em várias cidades portuguesas, nos séculos XIX e XX, contando para isso com a presença dos mais prestigiados conferencistas nacionais"]

consagrado às "Lutas Académicas e Estudantis: do Liberalismo ao Estado Novo".

Organizado pela Câmara Municipal de Famalicão, através do Museu Bernardino Machado, teve a presença do Professor Norberto Cunha [coordenador científico do Museu Bernardino Machado] e o Dr. Manuel Sá Marques [neto de Bernardino Machado].

[ler aqui]

J.M.M.

GREVE ACADÉMICA DE 1907


Greve Académica de 1907 & a A.A.C. - carta de Rui Lopes

"Coimbra, 13 de Março de 2007

Ex.mo Sr. Presidente da Direcção Geral Associação Académica de Coimbra.

Já não sou estudante de Coimbra actualmente, no entanto, tive a honra de o ter sido no passado mas, como V.a Ex.a deverá entender, quem é estudante de Coimbra uma vez, sê-lo-á pela vida fora e, como me preocupei desde sempre com as coisas da Academia, resolvi enviar esta missiva a V.a Ex.a.

Quando damos entrada no Edifício da AAC, deparamo-nos com uma grande quantidade de placas comemorativas dos 10, 15, 20, 25, 50, 75 anos dos organismos que compõem a Associação Académica de Coimbra, tal como placas comemorativas de outros acontecimentos de relevo para a Associação Académica, como a Tomada da Bastilha ou 'Grevistas de 1969'. Placas comemorativas com as quais concordo, pois serão um suporte de memória da Academia.

Contudo, se se faz placas para uns acontecimentos também não devemos olvidar outros. É que, caso V.a Ex.a não saiba, e é o que efectivamente me dá a entender, acabaram de se cumprir 100 anos da Greve Académica de 1907 (também em tempo de ditadura, originada pelo 'chumbo' de um Doutorando no acto de defesa da Tese de Doutoramento) e, já agora, permita-me V.a Ex.a a audácia de o questionar porque não houve qualquer acto por parte da AAC para recordar este momento Histórico importante para a Academia? Tal como se recordam (e legitimamente) outras crises académicas, porque razão esta não foi recordada? Para mais, quando é o centenário desta mesma Crise ..." [ler, tudo, aqui]

[via A Guitarra de Coimbra, com a devida vénia - sublinhados nossos.

Como é evidente, o Almanaque Republicano subscreve totalmente a missiva acima transcrita e o reparo ali feito]

J.M.M.

segunda-feira, 12 de março de 2007

LENTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (II)



Grupo de professores da Universidade de Coimbra (1899?). Reconhecem-se: Afonso Costa, Sidónio Pais, Calisto, Alberto Reis, Guilherme Alves Moreira.

Foto de Alberto Carlos Lima, in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.

sábado, 10 de março de 2007

CAMPOS LIMA: NOTA BREVE (II)



Em 1924, Campos Lima funda a Editora Spartacus

[onde publicou contos, romances e opúsculos seus, como O Amor e a Vida, 1924; A Revolução em Portugal, 1925; A Ceia dos Pobres (3ª ed., peça para teatro, publicada inicialmente em 1906 e que teve grande êxito no Brasil entre a comunidade libertária), a Teoria Libertária ou o Anarquismo, 1926; Gente Devota, 1927; Mulher Perdida, 1928; etc. Registe-se a publicação, pelas Edições Spartacus, das raras novelas de Ferreira de Castro, "Sendas do Lirismo e de Amor”" e "A Casa dos Móveis Dourados"]

e mantêm a sua faceta de jornalista [sócio efectivo da Casa dos Jornalistas nº 120, de 11/11/1924], articulista e, mesmo, de director, num conjunto quase infindável de publicações periódicas. Assim, colabora no jornal Vanguarda (1899-1911), no jornal O Mundo (1900), na Verdade (1903), no jornal republicano País (1905-1921), na Era Nova (já citado), na Greve (jornal republicano-sindicalista, dir. Alexandre Vieira, 1908), no jornal republicano O Povo (1911-1916), no importante semanário libertário Terra Livre (1913), no diário do partido republicano "Portugal" (1917-1920), no jornal O Século, na Pátria (1920), no Diário de Notícias, no jornal republicano da tarde A Notícia (1928), no Diário da Noite (Lisboa, 1932-33), Gleba (1934-35), no jornal anarquista A Batalha e no seu importante suplemento literário, na Revista do Instituto de Coimbra, na Vida Contemporânea (1934-36), no magazine mensal Civilização [dirigido por Ferreira de Castro e Campos Monteiro, 1925-37]. Foi também [proprietário e] director do diário da tarde "A Boa Nova" [nº1, 1 Maio 1908], da Imprensa de Lisboa [diário dos grevistas e único que se publicou na Greve de 1921], do jornal Imprensa Livre [1925, onde colaborou Ferreira de Castro que, curiosamente nesse mesmo ano, publica o célebre e raro livro Mas...], funda [Março de 1929-Fevereiro 1930] a revista libertária Cultura [XIV numrs] e é, ainda, director [entre o nº 275-326] do semanário de critica literária e artística O Diabo, em 1939.

Campos Lima foi um manifestamente um intelectual de orientação libertária [registe-se que João Freire, no seu artigo "A evolução ideológica de alguns expoentes do anarquismo português no pós-guerra" (Revista da Biblioteca Nacional, 1-2, 1995, p. 140) assinala a existência de um "grupo informal de antigos libertários" reunidos como tertúlia, da qual fazia parte, além de Campos Lima, Emílio Costa, Pinto Quartim, Jaime Brasil e Alexandre Vieira, e que se "reuniam habitualmente no Café Chiado", debatendo, conspirando e estabelecendo "programas políticos libertários"], um historiador do movimento operário, libertário e republicano [veja-se a sua Dissertação para a cadeira de Ciência Económica da FDUC, "O Movimento Operário em Portugal" (publicado em 1910 e, depois, em 1972), "O Estado e a Evolução do Direito" (1914), "O Reino da Traulitânia (25 dias de reacção monárquica" (1919), "A revolução em Portugal" (1925) ou leia-se os artigos da revista Cultura (em especial "Nós e as Ditaduras", nº 3, 1929)], um verdadeiro romântico de "ideias livres". Nunca aceitou ser deputado, tendo recusado cargos de chefia de estado, como governador civil de Braga (durante o "ministério de Bernardino Machado") ou ministro da Justiça (convite que lhe é feito depois do "movimento de 19 de Outubro de 1921").

Torna-se por isso tudo e, justamente, pela "sua conduta”", "aprumo moral", "tolerância", "indiferença à glória" e total "desassombro" [refª a artigo de Belisário Pimenta sobre C.L., Vértice, nº 153] uma figura absolutamente notável, que assume, defende e professa as suas ideias até ao fim da sua luminosa vida, a 15 de Março de 1956.

Bibliografia geral consultada: Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal: as convergências possíveis (1892-1910), de António Ventura, Cosmos, 2000 / Breve História do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal, por Edgar Rodrigues, Assírio & Alvim, 1977 / Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Séc XX, de Daniel Pires, Grifo,1996 / Jornais Diários Portugueses do séc. XX, de Mário Matos e Lemos, Ariadne Editora, Coimbra, 2006 / Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 5

J.M.M.

CAMPOS LIMA: NOTA BREVE (I)

João Evangelista de Campos Lima [1877 ?-1956 * ver nota no fim do post] nasce a 16 de Setembro no Porto. Foi estudante de direito em Coimbra e destacou-se (ver aqui e aqui) na denominada Questão Académica de 1907 ou Greve Académica de 1907. Colaborou, muito cedo, em jornais e revistas literárias (e libertárias).

[Ave Azul, Viseu, 1900 / Bohémios, 1900, publicação simbolista do Porto / Mocidade, de Lisboa, 1901 (data desse ano o opúsculo de C.L., "Nova Crença", Coimbra, 1901) / Revista Livre, publicação libertária de Coimbra sob sua direcção, 1902 / Arte e Vida, Coimbra, 1904-1906 / A Vida, Porto, 1905 - curioso semanário libertário, dirigido por Manuel Joaquim de Sousa e a partir de 1909, por Álvaro Pinto, com colaboração de Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Alfredo Pimenta, Pinto Quartim, Homen Cristo Filho, etc / Nova Silva, Porto, 1907, revista dirigida por Leonardo Coimbra - veja-se, Daniel Pires, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Séc XX, Lisboa, Grifo,1996]

Em finais de 1905, Campos Lima, que se tornaria num hábil orador, aparecia já a pronunciar conferências sobre questões sociais [como em Outubro de 1905, na Liga das Artes Gráficas, sob o tema "A Questão Social", conferência que foi publicada em 1906, em livro, sob edições do NEA] e militava na corrente libertária, integrando o NEA [Núcleo de Educação Anarquista de Coimbra, 1906], pelo que colabora no seu jornal, Era Nova [nº1, 3 de Fevereiro 1906, onde escreviam, também, Alfredo Pimenta, Ângelo Vaz, Pestana Júnior, Araújo Pereira (actor), Bento Faria (jornalista), Emílio Costa, Gonçalves Preto, Lopes Oliveira, Pulido Valente,.., ver Edgar Rodrigues, Breve Historia do Pensamento e das Lutas Sociais em Portugal, p. 124].

Em 1906, Campos Lima, regressado de Paris, onde tinha ido com o Orfeão Académico de Coimbra [ver, Campos Lima, "Os meus dez dias em Paris", 1906] lança o projecto da "Escola Livre", que de algum modo reflecte essa ideia de "educação libertária", tão cara ao ideário anarquista, e que teve em Portugal, nesses anos, uma considerável difusão através da chamada "Escola Moderna" [a Escola Moderna seguia os métodos do espanhol Francisco Ferrer e de La Ruche de Sebastião Faure, em França].

Nesse mesmo ano adere à maçonaria, tendo sido iniciado [24/11/1906] na Loja Fernandes Tomás, nº 212 da Figueira da Foz [onde temporariamente residiu] com o nome simbólico de Kropotkine [depois, dado a sua mudança da Figueira da Foz para Lisboa, pede o atestado de quite a 27/12/1907], tendo atingido posteriormente "cargos relevantes no GOLU e no Grande Tribunal Maçónico" [ver, A Loja Fernandes Tomás, O Arquivo e a História, ed. Museu Figueira da Foz, 2001 e o Dicionário de Maçonaria de Oliveira Marques, Delta, 1986]

Em 1907, em consequência da Greve Académica de Coimbra, é expulso da Faculdade de Direito, sendo depois "indultado e formando-se nesse ano" [refª Gr. Enc. Port-Bras., vol 5]. Depois, exerceu a advocacia em Lisboa com grande sucesso, participou na comissão da "Reforma da Lei do Inquilinato", fez parte da comissão organizadora do Congresso Cooperativista, integrou a Comissão do Congresso de Livre Pensamento (Outubro de 1913) e surge como fazendo parte da Caixa de Previdência dos Profissionais de Imprensa ("até à sua dissolução, em 1934"). Ao mesmo tempo continuava a realizar conferências sobre questões sociais e o ensino (principalmente "em associações operárias"), participava activamente na luta política, onde se distinguia como excelente orador, ao mesmo tempos que era professor na Escola Industrial de Afonso Domingues, em Lisboa.

[NOTA: a data de nascimento de Campos Lima torna-se, de algum modo, complicado de apurar a partir das diferentes biografias consultadas. Em quase todas elas, e foram muitas (como Oliveira Marques, António Ventura, a enc. Portuguesa e Brasileira,etc.), surge como data do seu nascimento 1887 (o que a ser verdade significa que C.L. teria 20 anos quando se formou, bem como seria muitíssimo jovem quando começa a publicar textos em revistas e jornais, o que nos deixou perplexos). A enciclopédia Lello refere o ano de 1877, o mesmo ano de nascimento que lhe atribui Edgar Rodrigues (A Oposição libertária em Portugal 1939-1974, Sementeira, 1982), significando que Campos Lima, que se formou em 1907, teria na época 30 anos, o que não sendo impossível, nos parece pouco provável. Outra fonte - A Loja Fernandes Tomás O Arquivo e a História, ed. Museu Figueira da Foz, 2001 - refere como data de nascimento 1874, o que ainda é menos plausível. Portanto, a nosso ver e salvo melhor opinião, existe alguma inexactidão sobre a data de nascimento de Campos Lima, que de momento não conseguimos ultrapassar, de todo. No Arquivo da U. de Coimbra há o registo da matrícula de Campos Lima a 4/10/1902. Porém não se conseguiu encontrar a sua certidão de nascimento, bem como na Carta de Curso não aparece nenhum documento sobre o aluno J.E.C.L., pelo que a dúvida subsiste. Continuaremos, quanto nos for possível, a investigação sobre o assunto - em actualização]

[continua]

J.M.M.

OS ESTUDANTES - POR CAMPOS LIMA


"Os estudantes, segundo o regulamento da casa, sam obrigados a um trajo especial. A capa e batina, habito talar propriamente, ficou como reminiscencia d'aquela boa Universidade fradesca, toda humanista, sem preocupacões d'ordem scientífica, que fez as delicias d'algumas gerações de frades.
O trajo academico, á rigori e conforme a praxe universitaria estatue, seria uma coisa sem elegancia e cheia de gravidade. Esmancham os rapazes a disciplina do vestuario, terçando as capas ou descendo-as dos hombros. Em regra só os lentes observam a lei, usando a capa sobre as espaduas caindo lisa até aos pés.

Caso sem importancia, sem significação, dirám. Logico parece que isto não deva ser tomado em conta para o balanço da vida universitaria.
Pois engana-se quem assim cuida. Nada mais fundamental. A capa e batina e o modo de a usar, desde que se transpõe a Porta Ferrea ou a Porta Minerva, se entra ao Museu ou ao Jardim Botanico, é uma questão de vida e de morte para a Universidade. Ha archeiros zelosos encarregados da compostura da nossa toilette e que nos podem levar á reitoria, como renitentes no desleixo da vestimenta.

A questão das gravatas é um capitulo interessantissimo na historia interna do estabelecimento. A gravata deve ser preta; do contrario, como num colegio, o estudantinho que prevaricou pode ser impedido de entrar na aula e, quando haja reincidencia e ainda por cima se atreva a protestar, arrisca-se a passar um mau quarto d'hora na reitoria.
E não se diga que isto poderia ser uma questão de birra da parte de reitores irrasciveis. Não, senhores. Sabem bem o caso d'aquele bom reitor que comprava gravatas aos rapazes e a cada um que lhe levavam por pecha de mal engravatado presenteava com uma gravata convenientemente preta. Não era birra. Era, como não podia deixar de ser, o natural funcionamento da engrenagem universitaria.

Ha também quem faça questão por causa dos rasgões da batina. Os archeiros então mandam-nos cozer e não ha remedio senão dar os pontarecos. Muito estudante atribue reprovações e má disposição de certos lentes ao facto de não se escovar todos os dias, não usar botas de polimento, trazer a capa cossada, a batina rota e a barba por escanhoar.

Assim a Universidade tem o aspecto d'uma grande alfaiataria. Á viva força nós havemos de sahir de lá cuidadosos com o fato, preocupadíssimos com o laço da gravata, considerando a linha elegante do nosso perfil desenhado ao lado na sombra que vamos projectando sobre a calçada e de que nos enchemos de inveja.

Se ele é assim, ha uma lacuna importante nos Gerais. É urgente mandar colocar nas paredes uma fileira de espelhos"

[Campos Lima, no nº 3 de Verdade, 31/10/1903 (aliás, in A Questão da Universidade. Depoimento d'um estudante expulso, Livraria Clássica Editora, 1907)]

J.M.M.

sexta-feira, 9 de março de 2007

LENTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA



Grupo de lentes da Universidade de Coimbra no palácio das Necessidades, que veio apresentar ao rei uma mensagem de congratulações - Junho de 1908

Foto de Joshua Benoliel, in Arquivo Fotográfico.

J.M.M.

quinta-feira, 8 de março de 2007

OS ACONTECIMENTOS DE 1907, EM COIMBRA, VISTOS NO PARLAMENTO


A primeira referência aos acontecimentos,de Coimbra, no Parlamento, encontramo-la em Alfredo Vieira Coelho Peixoto Pinto de Vilas-Boas, ou seja o Conde de Paçô Vieira que logo no dia 1 de Março de 1907, confronta João Franco Pinto Castelo Branco com a questão da revolta dos estudantes em Coimbra, num texto que pode ser lido aqui, basta procurar a data (1907-03-01) e, na página 6, é possivel encontrar este texto que a seguir colocamos a parte inicial:

O Sr. Conde de Paçô-Vieira: - O assunto para que desejo chamar a attenção do Governo e da Camara é da mais alta importancia.
Consta-me que o Sr. Presidente do Conselho está nos corredores da camara e, como o assunto de que me vou occupar prende com a pasta de S. Exa., peço a V. Exa. o favor de lho fazer communicar para que S. Exa. venha á Camara.
Trata-se dos acontecimentos de Coimbra.
(Entra na sala o Sr. Presidente do Conselho).

Pela leitura dos jornaes de hoje tive conhecimento, como toda a gente, de que em Coimbra occorreram hontem acontecimentos muito graves, provocados pela reprovação de um candidato no seu acto de theses.
Esses conflictos que hontem começaram, parece que se aggravaram hoje, tendo-se dado em Coimbra factos da maior gravidade sobre os quaes eu desejava que o Governo fornecesse esclarecimentos á Camara, para socegar todos aquelles que teem em Coimbra parentes a estudar.
V. Exa., que frequentou a Universidade, como eu, conhece a anciedade em que se está quando longe da nossa vista temos filhos ou parentes aos quaes a generosa mocidade e a inexperiencia irreflectida podem levar mais longe do que convenha, e do que elles mesmos queiram.
Pelas noticias recebidas, sabe-se que foram apupados alguns professores e apedrejadas as suas janellas.
Ao mesmo tempo requisita-se força militar. E perante tudo isto, eu, que não sei de que lado está a razão, não conhecendo o assunto senão pelos telegrammas publicados nos jornaes, limito-me a pedir ao Sr. Ministro do Reino que me esclareça sobre o assunto.
Tenho dito.

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros e Ministro do Reino (João Franco Castello Branco): - Sr. Presidente: tenho a declarar ao illustre Deputado, Sr. Conde de Paçô-Vieira, que ácerca dos acontecimentos de Coimbra só recebi informações telegraphicas das quaes se não deprehende que tenha havido qualquer facto grave de caracter individual.
O que d'essas informações apenas consta é que numa defesa de theses, o individuo que as sustentou foi reprovado por unanimidade, resultando desse facto varias manifestações a favor do candidato que as tinha defendido e hostis para os lentes que intervieram nessas theses.
Essas manifestações não deram, comtudo, logar á intervenção da força publica, a não ser para dispersar grupos; mas, á noite, ellas fizeram-se por forma que a força publica teve de intervir.
Parece que tambem nessa noite, em alguns pontos onde a policia não podia acudir de pronto, foram apedrejadas as casas de dois lentes.
Isto passou-se hontem.
Quanto ao dia de hoje, sei que os estudantes de direito não entraram á primeira aula e parece que impediram tambem a entrada dos professores.
V. Exa. sabe que sendo a policia interna da Universidade feita pela sua guarda privativa,, evidentemente o que eu concluo d'aquellas informações é que da parte da Universidade não foi requisitada a intervenção da força publica com o fim de manter e assegurar o respeito devido aos lentes.
Posteriormente a estes factos reuniu-se o claustro pleno, tendo sido suspensas as aulas na faculdade de direito, conforme me communicou o Sr. Reitor.
Por outro lado o Sr. Governador Civil do districto requisitou uma força de cavallaria e outra de policia de Lisboa, que já foi mandada seguir para Coimbra.
As instrucções que mandei ao Sr. Governador Civil,, são no sentido de que elle proceda com a máxima moderação, com a maxima cordura, mas tambem com a firmeza necessaria, de maneira a manter a ordem e a fazer respeitar os professores. (Apoiados).

Mandei tambem dizer ao Sr. Governador Civil que procurasse o Sr. Reitor da Universidade para lhe offerecer todo o apoio de que carecesse durante os acontecimentos e para lhe communicar que eu desejaria que a suspenção fosse o menos dilatada possivel e que já amanhã as aulas pudessem funccionar, marcando-se falta aos que não comparecerem.
V. Exa. e a Camara comprehendem que eu não encaro-os assuntos relativos á ordem publica em Coimbra pela mesma forma por que os encararia em qualquer outro ponto do país. (Apoiados).
Fui tambem estudante e sei muito bem quanta ponderação e quanta cordura é necessario observar em conflictos d'esta natureza.
Alem d'isto basta dizer que tenho a estudar na Universidade um filho, que é maior alegria da minha vida. Desejo que o meu filho proceda por forma que, sendo um bom camarada, seja ao mesmo tempo um homem que respeite os seus professores. (Apoiados na esquerda e na direita). O procedimento que desejo que tenha meu filho é o procedimento que desejo que seja tomado por todos os estudantes da Universidade. (Apoiados).

E claro que o respeito á Universidade e a manutenção da ordem publica se impõem, como sendo cousa que é necessario realizar, mas entendo que para esse fim se deve proceder com a maxima tolerancia e ao mesmo tempo com absoluta firmeza. (Apoiados).
Espero que os acontecimentos não tenham consequencias desagradaveis. A disposição em que se acha b governador civil, era harmonia com as minhas instrucções, consiste em conseguir manter a ordem, sem quaesquer consequencias desagradaveis, e nesse sentido empregarei todos os esforços.


No dia 4 de Março de 1907, António José de Almeida, deputado republicano, e João Pinto dos Santos enviam uma nota solicitando que a questão dos estudantes de Coimbra seja discutida com urgência no Parlamento, mas a Câmara dos Deputados rejeita a proposta, não a considerando urgente. Porém, no dia seguinte, com o deterioramento da situação em Coimbra, os deputados vão mesmo debater o problema. As intervenções de António José de Almeida, com muitas referências à sua própria experiência nas lutas académicas pós-ultimato, são muito interessantes. Acompanham-no nestas discussões João Pinto dos Santos, Teixeira de Abreu e outros deputados que tomam posição contra ou a favor dos estudantes.
O debate prolonga-se durante várias sessões durante os meses de Março e de Abril sendo os estudantes condenados às penas a que já fizemos referência anteriormente.

A.A.B.M.